O que já se sabe sobre a dose de reforço das vacinas contra Covid-19

O que já se sabe sobre a dose de reforço das vacinas contra Covid-19

Farmacêuticas já realizam estudos sobre a necessidade da dose de reforço e Ministério da Saúde prevê aplicação a partir de outubro

R7

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O ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou, durante entrevista na quinta-feira (19), que a terceira dose das vacinas contra a Covid-19 deve começar a ser aplicada a partir de outubro, quando o país tiver alcançado 75% da população vacinada com as duas doses ou com uma vacina de dose única.

Segundo Queiroga, a prioridade será idosos e profissionais da saúde, que foram os primeiros imunizados na campanha de vacinação do país.

No entanto, há uma diferença técnica entre a terceira dose e a dose de reforço, segundo explica Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). No caso de pessoas imunizadas há mais de 6 meses, a dose adicional é considerada como um reforço para a imunização.

É considerado terceira dose quando a aplicação ocorre para complementar o esquema vacinal de pessoas idosas ou imunodeprimidas, que respondem com mais dificuldade à vacinação no esquema comum de duas doses no tempo definido pela bula. 

“A terceira dose, ou segunda se for a vacina da Janssen, após um mês é uma dose adicional de esquema para pessoas que não produzem o anticorpo de uma maneira satisfatória, que têm uma resposta imune prejudicada pela idade ou pela imunossupressão, então é necessário um esquema diferenciado”, explica Mônica.

Na última quarta-feira (18), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), recomendou que o Ministério da Saúde comece a aplicar a dose de reforço em idosos com mais de 80 anos e imunossuprimidos vacinados com a CoronaVac. “No contexto da variante Delta, uma dose adicional pode ajudar a prevenir casos graves e possivelmente fatais em idosos e em pessoas com sistema imunológico prejudicado”, ressaltou Meiruze Freitas, diretora da Anvisa.

Queiroga afirmou que a pasta planeja uma dose de reforço para todos os imunizantes, mas que isso só deve ocorrer depois que o Ministério da Saúde tiver dados científicos sobre essa aplicação e o país dispor de doses suficientes para dar início ao novo esquema. “A posição da OMS é de não avançar na terceira dose nesse momento e nós concordamos. Isso vai acontecer no Brasil, só que temos que ir por etapas, não dá para ter 37% da população [adulta] vacinada com a segunda dose e eu começar a vacinar com a terceira dose um outro subgrupo”, disse.

Estudos sobre dose de reforço

O Ministério da Saúde está patrocinando um estudo que pretende verificar a necessidade de uma dose de reforço para pessoas que tomaram a CoronaVac há mais de 6 meses. Nesta pesquisa, os voluntários receberão a terceira dose de uma das vacinas em aplicação no Brasil, seja a CoronaVac, ou os imunizantes da Pfizer, AstraZeneca e Janssen.

Além disso, a Pfizer tem conduzido estudos no Brasil para avaliar a necessidade de uma dose de reforço para aqueles que receberam sua vacina. A Anvisa se reuniu com a farmacêutica na última quinta-feira (19) para solicitar mais informações.

A diretora responsável pelo tema, Meiruze Freitas, afirmou por meio de nota que o objetivo é entender se e quando estas doses serão necessárias, "o que pode ter impacto no esquema de imunização em uso no país".

A Anvisa também autorizou que a AstraZeneca realize no Brasil estudos clínicos sobre a necessidade da dose de reforço da vacina. Nesta pesquisa, a farmacêutica vai aplicar o imunizante entre 11 e 13 meses após a segunda dose com o objetivo de avaliar a segurança, eficácia e imunogenicidade do reforço. Ainda não há estudos neste sentido sobre a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, a única aplicada em dose única no país.

Aplicação da dose de reforço em outros países

Israel foi o primeiro país a começar a aplicação da dose de reforço para frear a crescente dos novos casos impulsionados pela variante Delta. A vacinação com a terceira dose da Pfizer começou em imunossuprimidos e em agosto se estendeu para idosos com mais de 60 anos.

O Chile, onde 82% da população adulta foi vacinada com as duas doses, também começou em agosto a aplicação da dose de reforço da AstraZeneca em pessoas vacinadas com a CoronaVac. A decisão foi tomada depois que estudos mostraram uma redução da eficácia do imunizante em evitar os contágios; a disseminação da variante Delta no país também foi considerada.

Os Estados Unidos aprovaram recentemente a aplicação da dose de reforço na população vacinada há mais de 8 meses com as vacinas da Pfizer e da Moderna por considerar que, após o período de tempo, a eficácia dos imunizantes é diminuída. A prevalência da variante Delta foi somada à decisão. 

O que esses países têm em comum, além de terem avançado na vacinação com as duas doses em grande parte da população, é o fato de que também têm acesso à quantidade suficiente de vacinas para dar início à terceira aplicação.

O cenário não é o mesmo no Brasil, que conta com apenas 25% da população vacinada com as duas doses ou com a dose única da Janssen. Além disso, há a escassez de vacinas em alguns lugares do país. Na cidade de São Paulo, por exemplo, cerca de 86% dos postos registraram falta de doses para a segunda aplicação da AstraZeneca em agosto.

“A decisão de um país recomendar dose de reforço requer dados clínicos palpáveis e epidemiológicos. Além do que esses países têm doses sobrando, o que não é o nosso caso, então as nossas decisões não podem se basear porque um ou outro país fez. É preciso chegar a um consenso de quem vai fazer doses adicionais, seja como reforço, seja como terceira dose, e qual vai ser a priorização”, afirma Mônica Levi.

Para a diretora da SBIm, quando for possível, a dose de reforço deveria priorizar idosos, profissionais da saúde e a população de imunossuprimidos.

“É preciso avaliar, para as faixas etárias das pessoas que não têm nenhum problema de saúde, se a proteção ao longo do tempo vai regredir ao ponto da pessoa estar sob risco de doença grave e, aí sim, nós teríamos que recomendar a vacinação de reforço para a população em geral. Por enquanto temos evidências limitadas e inconclusivas sobre isso”, destaca a especialista.

 


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