OAB e MP fazem vistoria para identificar problemas no atendimento do SUS

OAB e MP fazem vistoria para identificar problemas no atendimento do SUS

Emergências seguem superlotadas em Porto Alegre

Luciamem Winck / Correio do Povo

No Hospital Nossa Senhora da Conceição em duas áreas destinadas a abrigar apenas 44 pacientes, a instituição mantinha 136 leitos e 18 cadeiras.

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Representantes do Ministério Público (MP/RS) e da OAB/RS testemunharam hoje a agonia das emergências dos principais hospitais públicos de Porto Alegre. O acúmulo de macas, a falta de espaço para a circulação dos profissionais da saúde e o elevado número de pacientes aguardando leitos sentados em cadeiras - alguns há mais de 24 horas - foi observado, com preocupação pelo coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do MP/RS, promotor de Justiça Francesco Conti, e dos representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RS, Ricardo Breier e Rodrigo Puggina. “A situação é grave por um conjunto de fatores, incluindo a redução de leitos devido ao fechamento de hospitais”, destacou Conti.

O promotor ainda constatou elevada procura pelos serviços médicos da Capital por parte de moradores de Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí, Guaíba e Viamão. “É preciso que as prefeituras assegurem, a essas pessoas, um atendimento básico de qualidade”, frisou. Os representantes da OAB/RS e do MP/RS foram recebidos com euforia por médicos e enfermeiros do Hospital de Clínicas que abrigava 110 pessoas em espaço destinado a 49. Desses, 30% eram oriundos da municípios da região Metropolitana, com ênfase para Viamão. “O momento não poderia ser mais oportuno”, afirmou a enfermeira-chefe Lurdes Busin. Segundo ela, o Serviço de Emergência do Clínicas é a principal porta de acesso à internação clínica, sendo que 80% dos pacientes apresentam algum tipo de patologia aguda.

Embora avalie que o acesso à saúde é uma questão de direitos humanos, Lurdes ressaltou que 20% das pessoas que recorrem ao Clínicas não necessitam de atendimento de urgência. No entanto, foram as declarações do chefe do Serviço de Emergência, médico Luiz Nasi, que deixaram os visitantes perplexos. “A situação não é nova. O que causa espanto é que até hoje não temos um plano de ação para a saúde pública”, observou. Nasi ressaltou que as emergências agonizam porque “mantêm as portas abertas durante às 24 horas do dia”. “Apenas 30% dos pacientes deveriam estar na emergência. Os demais aqui permanecem porque estão em lista de espera por leito”, assinalou.

Em um desabafo emocionante, Nasi admitiu sentir desconforto com o tratamento dispensado aos pacientes. “Sabemos o quanto é duro ficar três horas sentado no cinema para assistir a um longa-metragem. Imaginem manter um idoso de 90 anos, doente, sentado em uma cadeira há quatro dias”, desabafou.

No Hospital Nossa Senhora da Conceição o quadro não era diferente. Em duas áreas destinadas a abrigar apenas 44 pacientes, a instituição mantinha 136 leitos e 18 cadeiras. “Os riscos de infecção aumentam para pacientes e profissionais da saúde”, atestou a coordenadora do setor, médica Juliana Sommer. Para tratar do caos da saúde pública, a OAB/RS promoverá audiência pública a partir das 18h do dia 2 de setembro. “Estamos realizando amplo levantamento da situação no Interior, com apoio de nossas 105 subseções”, explicou Breier, lembrando que a Capital possui um déficit de 600 leitos hospitalares.

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