Pai e mãe relatam drama de parto em meio a bloqueio na BR 290

Pai e mãe relatam drama de parto em meio a bloqueio na BR 290

Falta de maternidades em Guaíba obrigou gestante a procurar a Capital, mas protesto atrasou a chegada

Luiz Sérgio Dibe/Correio do Povo

Mãe e pai contam como foi o nascimento da filha em meio a bloqueio na BR 290

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As mãos hábeis de uma enfermeira e o olhar prestativo de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) asseguraram o nascimento saudável de Thauane Mariá, na manhã desta sexta-feira, na ambulância que levava a mãe ao hospital. Eram 5h quando a dona de casa Thuane Maciel Lourenço dos Santos, 20 anos, começou a receber os avisos de que a hora do nascimento, aguardado pela família, havia chegado. O momento alegre ganhou contornos de drama quando o automóvel que transportava a parturiente ficou retido na rodovia BR 290, entre Guaíba e Porto Alegre, por um protesto de trabalhadores carvoeiros.

“Ela começou a sentir contrações de madrugada. Às 8h30min nós chamamos um vizinho para pedirmos carona”, conta o pai, Jonatas Lucas dos Santos. Ele seguia de motocicleta o carro onde estavam a esposa e outros familiares. O carpinteiro de 21 anos explica que o coração estrangulou quando ele enxergou os manifestantes que interrompiam o caminho. “Não tinha saída”, lembra Jonatas. A essa altura, o relógio da vida já anotava 9h30min e o aperto no peito tinha se transformado em desespero. “Foi quando passou uma viatura da PRF no sentido contrário. Eles ouviram nosso pedido de socorro e voltaram para ajudar”, relata.

Com a escolta policial, o automóvel do Nosso Amigo também manobrou sobre a pista e retornou pela BR 290 até Eldorado do Sul. A família fez duas investidas em postos de saúde, onde ouviram que não seria possível fazer o parto sem a garantia de uma estrutura hospitalar. Voltar para Guaíba não era possível, pois a maternidade do Hospital Nossa Senhora do Livramento está interditada por ordem judicial desde 2009.

O jeito, então era voltar à estrada em direção à Capital. Quando entrou na ambulância do posto de saúde eldoradense, Thuane começou a escrever a história a qual jamais teria imaginado para a filha prestes a nascer. “Nunca pensei em dar a luz numa ambulância. Fiquei com muito medo”, conta a jovem.

O ambiente era especialmente tenso, mesmo para um parto de emergência. À frente, na rodovia, a voz de um policial berrava pedindo passagem aos outros motoristas. As sirenes da viatura e da ambulância troavam a urgência de passar. O destino era o Hospital Fêmina. Não deu tempo. O parto teve que ser feito na maca do transporte de emergência. Com olhos empapados de emoção, Thuane recorda do carinho da enfermeira ao longo do trajeto. “Devo muito a ela”, desabafa. Thauane Mariá nasceu às 10h30min. Pouco mais de dez minutos depois estava em atendimento com a mãe, no Fêmina.

A avó Sirlei Lourenço, que acompanhou todo o drama, respirou aliviada ao saber que a saúde da terceira netinha está perfeita. Ela garante que a casa da família, no bairro Pedras Brancas, onde o pequeno Cauã espera para conhecer a irmãzinha, estará de festa no fim de semana.

Parto em meio a protesto expõe falta de maternidade há dois anos em Guaíba

Há dois anos sem maternidade, as gestantes do município de Guaíba dependem da rede hospitalar de Porto Alegre para dar à luz. Cerca de 100 mulheres recorrem à Capital, mensalmente, já em trabalho de parto. Uma estratégia das futuras mães foi revelada à reportagem por uma funcionária do hospital Nossa Senhora do Livramento, de Guaíba. Ela explicou que é comum a família procurar o posto de pedágio de Eldorado do Sul para utilizar a ambulância da concessionária a fim de chegar a Porto Alegre com a gestante.

A maternidade do hospital de Guaíba fechou devido a um processo judicial sobre uma dívida trabalhista milionária com funcionários da instituição, explicou o prefeito Henrique Tavares. Ele relatou que o centro de saúde só não foi fechado para não deixar a população desassistida por completo. Prefeitura e Estado repassam R$ 110 mil mensais ao hospital para mantê-lo aberto.

O prefeito garantiu que, até a metade do ano que vem, pelo menos 12 leitos serão construídos para gestantes junto a um pronto atendimento da cidade. Uma parceria com o hospital da Unimed no município pode ser fechada nas próximas semanas para garantir partos em Guaíba até o fim das obras, revelou. A população de Guaíba é de quase 100 mil habitantes.

Com informações da Rádio Guaíba.


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