Pais: o desafio de criar o futuro

Pais: o desafio de criar o futuro

Aumento da inflação e recessão são fatores que preocupam ao pensar na criação das crianças

Karina Reif

"A gente que tem filho monta um mundo para as crianças.”

publicidade

 Em meio às incertezas econômicas, os pais recentes estão reprogramando as expectativas e planos para a educação
dos filhos. Aumento da inflação e recessão são fatores que preocupam ao pensar na criação das crianças.
O Dia dos Pais deste ano tem tom de cautela, segundo o Coordenador do Núcleo de Contas Regionais da Fundação de
Economia e Estatística (FEE), Roberto Pereira da Rocha. Todos, mas principalmente os responsáveis pelas famílias, precisam pensar muito bem antes de assumir dívidas, em razão dos juros altos – a taxa Selic subiu para 14,25% ao ano – e pelos riscos de demissões. O desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, chegou a 8,5% em junho, em seu quatro mês de elevação consecutiva.

O industriário Jean Henrique Fagundes Campos, 24 anos, aposta na educação como uma alternativa para essa e outras crises que possam vir. Ele estuda Engenharia Civil e quer que o filho Cássio, de apenas 10 meses, siga o mesmo caminho de buscar uma graduação. Para ele e a mãe do menino, Yaisa de Oliveira, 25 anos, o curso superior é um diferencial, assim como futuras qualificações e ambos vão estimular que a criança dê valor aos estudos.

“Nossas famílias são de concursados e isso também garante estabilidade. É um valor que queremos passar para nosso filho”, diz ele. Devido à instabilidade do país, o professor de Biologia Guilherme Braunstein, 29 anos, faz poupança para uma possível emergência e para garantir a segurança da filha Jasmin Braunstein, de 2 anos e quatro meses, e Nicolas, que está para nascer. Aliado a isso, mantém uma previdência privada, o que o ajudará a não depender dos herdeiros no futuro.

“Sempre planejei ter filhos e me preparei para isso. Entrei na faculdade com 19 anos, me formei, fiz mestrado e concurso”, conta ele, que é professor do município de Porto Alegre. A estabilidade no trabalho permite que ele  possa pensar no futuro. “Eu quero que eles estudem e façam cursos enquanto são jovens”, comenta. Esse plano ele não mudará e foi um valor já passado pelo pai dele na infância. “Apesar de só ter o Ensino Fundamental, ele sempre deu importância para os estudos e dizia que os livros eram investimento e não gasto. Isso eu quero passar
para os meus filhos.”

A alta dos preços diminui o poder de compra e ainda inviabiliza, muitas vezes, o pagamento de escolas particulares, cursos e atividades esportivas para as crianças neste momento por que passa a economia brasileira.
Porém, Rocha lembra que os brasileiros já viveram outros momentos de instabilidade, assim como de melhora da renda.

“É um momento que vai passar e também pode ser de aprendizado. Ter filhos é uma coisa maravilhosa e é bom estar confiante no futuro. O importante é que as famílias não sofram privações”, diz o economista. Ele tem dois filhos
em fases diferentes. O mais velho, com 21 anos, está na faculdade, e o menor, de 4, na creche. “Em todas as fases, vivemos determinados tipos de situação. Com o mais velho, é o momento de orientar sobre o mercado de trabalho. Com o menor, é a época de se preocupar com a saúde e o desenvolvimento”, constata.

Um mundo para as crianças

Este Dia dos Pais será especial para o técnico em enfermagem Marcelo Krinski de Paula, 37 anos. Ele e a mulher Priscila Avila, 30, comemoram a chegada dos gêmeos Joaquim e Davi, que nasceram no final do mês passado para complementar a família, que já conta com Lauren, 11 anos, e Laís, 5, filhas do primeiro casamento dele. Os bebês são fruto de uma gravidez planejada e realizada com inseminação artificial. Os pais sabem que já houve momentos instáveis na economia e não pautam suas vidas com base nas questões financeiras do Brasil. “Sempre esteve
difícil. A gente que tem filho monta um mundo para as crianças.”

Conforme ele, o mais importante é o amor e o carinho. “Tento sempre mostrar o lado positivo das coisas”, salienta, dizendo que ser pai “é a melhor coisa do mundo” independentemente de situações que o país e o Estado vêm passando. Por enquanto, ele e Priscila se revezam no cuidado dos meninos, que ainda estão no CTI Neonatal do
Hospital Mãe de Deus, pois nasceram prematuros. O pai trabalha na mesma instituição e, por isso, consegue ficar  próximo dos meninos. Parte do Dia dos Pais deste ano deve ser passado no setor, mas nada impede a alegria de
estar com os filhos.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895