Pesquisadores de base na Antártica falam para estudantes na Capital

Pesquisadores de base na Antártica falam para estudantes na Capital

Estação Comandante Ferraz foi destruída pelo fogo em fevereiro

Karina Reif / Correio do Povo

Biólogos levaram pinguim empalhado para mostrar aos alunos

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Para dividir a experiência de pesquisas realizadas no Polo Sul, os biólogos da Unisinos César Santos e Gabriela Werle ministraram nesta sexta-feira uma aula para quase cem alunos com deficiência intelectual da Escola Especial Doutor João Alfredo de Azevedo Apae-RS, em Porto Alegre. Os dois presenciaram o incêndio que atingiu a Estação Comandante Ferraz, na Antártica, em fevereiro deste ano, e estão no Brasil analisando material coletado e esperando para voltar ao trabalho na unidade científica e militar brasileira. “Já que é o governo quem paga nossas pesquisas, é interessante poder retribuir à sociedade dessa forma, dividindo o que aprendemos”, afirmou Santos.

Durante os últimos dez anos, ele já foi e voltou diversas vezes da estação e estava há 15 dias na Antártica com a mulher Gabriela quando ocorreu o acidente. Ela vivia a primeira experiência no local e ficou bastante assustada com o que aconteceu, mas já está preparada para retornar até novembro, prazo estipulado para os dois embarcarem de volta à estação.

“Foi uma experiência muito boa, porque lá existe uma fauna característica que tivemos oportunidade de estudar”, lembrou. A bióloga explicou que as mudanças do clima causam alterações no comportamento das aves daquela região. A longo prazo, as descobertas no Polo Sul podem contribuir para a prevenção de efeitos climáticos no Brasil. Por isso, ela se sente feliz em participar do projeto.

Santos ressaltou que o grande prejuízo com o acidente foi a destruição de parte das amostras coletadas, como sangue de pinguins e outros animais, além do tempo perdido. “Isso não tem como recuperar. Vai ficar uma janela no nosso trabalho”, disse. Para ele, o incêndio não foi um sinal de falta de preparo ou descaso do governo do Brasil. “Foi um acidente. Acredito que tínhamos todas as ferramentas, porém o fogo é muito difícil de ser contido naquela região”, contou.

Quando as chamas começaram, o biólogo e a mulher já haviam encerrado mais um dia de trabalho de campo. Eles conseguiram se reunir com os demais pesquisadores e sair com vida. No entanto, sofreram a perda de dois militares. “Foi muito impactante, porque acabamos ficando amigos dos colegas da Marinha”, comentou. O lado bom disso tudo foi perceber a preocupação da população com a pesquisa brasileira. “Muitas vezes as pessoas não sabem o que estamos fazendo lá e isso serviu para elas conhecerem”, avaliou.

Além das experiências, os biólogos trouxeram um pinguim empalhado para mostrar aos alunos, que estão estudando o tema da água. Todos participaram ativamente da aula, fazendo perguntas e interagindo com os profissionais. Priscila Veiga, de 24 anos, faz parte da turma que está desenvolvendo a temática desde o início do ano. Ela destacou que o que mais a interessou foi o risco da poluição para as aves. “Já aprendi muitas coisas sobre a Antártica e agora queria ir para lá para conhecer”, afirmou.

Animada com o resultado do projeto Aprender e Ensinar a Transformar o Mundo, desenvolvido pela escola, a diretora Ítala Mara de Camargo explicou que o objetivo é levar para dentro da sala de aula assuntos do mundo. A coordenadora pedagógica Lúcia Reichel Lindemeyer destacou que o derretimento das geleiras tem sido abordado na sala aula e que a presença dos pesquisadores foi muito importante para os alunos se aprofundarem no tema. A professora Patrícia Soares Estol, por sua vez, lembrou que os estudantes ficaram muito ansiosos e criaram muita expectativa com a palestra. “Foi tudo correspondido. Eles ficaram muito felizes”, salientou.

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