Porto Alegre termina 2020 com casos de Covid-19 avançando em bairros periféricos e de classe média

Porto Alegre termina 2020 com casos de Covid-19 avançando em bairros periféricos e de classe média

Pandemia chegou na Capital por cidadãos que estiveram no exterior, no início do ano

Gabriel Guedes

Bairro Sarandi tem pelo menos mais 59 mil habitantes

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A pandemia de Covid-19 chegou a Porto Alegre por cidadãos que estiveram no exterior. Em 11 de março, uma mulher, de 54 anos, que retornou de Bergamo, na Itália, foi o primeiro caso anunciado pela Prefeitura de Porto Alegre. A partir daquela data, os casos começaram a se propagar por bairros como Bela Vista, Montserrat e Petrópolis. 

Transcorridos nove meses de pandemia, a Capital já acumula quase 70 mil casos, pouco mais de 3 mil deles ainda ativos. Mas diferentemente do começo, bairros mais periféricos e de poder aquisitivo médio, nesta virada de ano passam a concentrar as maiores taxas de contágio da doença e o resultado disso, conforme o levantamento realizado pela Diretoria Geral de Vigilância em Saúde (DGVS) em conjunto com técnicos de geoprocessamento da Secretária Municipal de Planejamento e Gestão da prefeitura da Capital, passa pela maior exposição de trabalhadores e a retomada de alguns hábitos de pessoas que, até então, mantinham um maior distanciamento social.

Levantamento 

O levantamento, realizado desde a semana epidemiológica 37, que compreende os dias de 7 a 13 de setembro, mostrava uma cidade com uma quantidade de casos 2,5 vezes menor que hoje. A taxa de incidência, que mostra a quantidade de casos por 100 mil habitantes, era de 1.893 para toda Capital. Na data de publicação do mapa atualizado, 23 de dezembro, a taxa já tinha mais que dobrado e atingido 4.828,46. 

Bairros com populações maiores, como o Sarandi, que tem pelo menos 59 mil habitantes, também tem a maior quantidade absoluta de casos, já acumulando 2.904 pessoas infectadas pela Covid-19. Mas se o dado assusta, ao se observar a incidência, se constata que o Sarandi não tem a maior taxa de contágio. O bairro que lidera este ranking é o pequeno Pedra Redonda, na zona sul. São 40 casos para uma população de 274 pessoas, o que resulta numa incidência de 145,99 casos a cada mil habitantes. 

Foto: Fabiano do Amaral 

Na sequência figuram os bairros Jardim Europa, Três Figueiras, Navegantes e Agronomia, com taxas de 88,73, 76,90, 74,88 e 73,36, respectivamente. "O processo de disseminação do vírus, permeou a cidade inteira. Ele se espalhou pela cidade, por bairros de classe média, que antes não tinham. A disseminação começa nos com mais poder aquisitivo, permeando até os bairros de periferia, onde as pessoas buscam subsistência em outros bairros, levando a doença para suas residências", explica a enfermeira Juliana Pinto Maciel, gerente da unidade de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.  

Bairros com maiores incidências 

Bairros como o Três Figueiras e o Jardim Europa, e até o Jardim do Salso e Chapéu do Sol, que estão entre as 10 maiores incidências de Covid-19 na Capital, predomina um perfil socioeconômico de classe média, segundo Juliana, o que explica o avanço mais agressivo da doença neste final de 2020. "Esta população inicialmente se resguardou muito. Faziam home office. E esta população começou a se expor mais recentemente. Fez atividades que não faziam, como ir em casas de amigos, irem a bares. Todo mundo começou a cansar um pouco", fundamenta.  

Os cinco bairros com as menores incidências, são Bom Jesus, Lageado, São Caetano, Arquipélago e Extrema. Este último com a menor taxa da cidade, com 13,63 casos/mil habitantes. A exceção nesta lista é o Bom Jesus, que possui quase 30 mil habitantes e uma incidência de 30,03. "Quando, de fato começarmos a imunizar as pessoas mais vulneráveis à doença, a gente começa a reduzir esta carga de doença na cidade. Todos estão cansados, mas nós que trabalhamos na saúde, para nós que não paramos na saúde, esta batalha não acabou", comenta Juliana.  

Os dados que alimentam estes mapas são obtidos a partir da notificação de casos. "É de uma pessoa que testou positivo para Covid. Então 100% dos casos, tanto no sistema público e privado, geram notificação e vão para a Vigilância Epidemiológica. Os casos são distribuídos e vai para as gerências distritais, que fazem o monitoramento dos casos na cidade. Esta é a relevância do trabalho, para que nossos serviços entrem em contato com as pessoas. Por isso ressaltamos que as pessoas informem seu endereço correto", orienta a gerente do setor.


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