Povos indígenas desenvolvem novos hábitos

Povos indígenas desenvolvem novos hábitos

Apesar da tecnologia que já chegou à aldeia Guarani, na ERS 040, índios ainda mantêm antigas tradições

Jessica Hübler

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Os sinais de comunicação primitivos mudaram e evoluíram. Em pleno século 21, as aldeias no RS já estão conectadas. O cacique Gildo Karai, da Aldeia da Estiva, ocupada por índios da etnia Guarani, localizada na parada 116 da rodovia estadual ERS 040, aproveita a Internet e as redes sociais para conversar com familiares, que estão espalhados por todo o Brasil. “Hoje em dia a gente não pode se isolar. Queira ou não queira, a gente precisa evoluir”, afirmou Karai. Segundo ele, a tecnologia ajuda muito na comunicação com os parentes.

Mesmo com aparelhos celulares em mãos, muito da tradição dos guaranis segue viva na aldeia de Karai. O fogo no chão, onde a comunidade indígena faz o tradicional bolo de cinza (mistura de farinha de trigo e água, que é aquecida nas cinzas dos troncos), ainda é realizado nos cerca de sete hectares de terra da tribo, onde vivem 43 famílias. “São aproximadamente 150 pessoas, a maioria jovens e crianças pequenas”, contou.

As antigas ocas, agora, se transformaram em pequenas casas de tábua, segundo Karai. Todas as residências têm acesso à energia elétrica e possuem móveis e eletrodomésticos, como as famílias que residem em ambientes urbanos. Apesar da modernização, ainda há uma construção que permanece de barro e taquara: o templo onde os rituais são realizados. Para sobreviver, os índios da Aldeia da Estiva trabalham com artesanato e também recebem doações de alimentos e agasalhos, principalmente, pois não conseguem sobreviver da caça e da pesca, como faziam seus antepassados.

De acordo com Karai, uma das principais demandas da tribo é a ampliação do espaço da aldeia. Atualmente eles contam com os sete hectares localizados no município de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. As famílias começaram a chegar ao local no ano de 1998, quando deixaram o município de Tenente Portela, onde dividiam terras com uma tribo caingangue. “Seria importante termos mais terra, porque assim todas as famílias poderiam plantar seus alimentos para consumir”, ressaltou. Entre as comidas típicas da tribo estão o milho, o amendoim, a batata-doce, o aipim e o bolo de cinza. Os alimentos cultivados pelos índios não são comercializados.

Um momento especial para os guaranis da Aldeia da Estiva acontece na Fazenda Quinta da Estância. A instituição procurou a comunidade com o objetivo de divulgar a cultura indígena para os visitantes e eles toparam. “É muito importante, para nós, explicar um pouco sobre os nossos costumes. Sinto que a nossa cultura, hoje em dia, está muito invisível. Seria interessante que todos soubessem mais”, afirmou.

No “Projeto de Valorização da Cultura Indígena” são desenvolvidas atividades para aproximar, da cultura indígena, estudantes do ensino fundamental das mais variadas instituições de ensino. Nos encontros, as crianças conhecem estruturas das ocas tradicionais e os costumes da tribo guarani. Ao longo das duas décadas de parceria, a tribo já recebeu mais de 50 toneladas de alimentos doados.

As músicas e as danças, conforme Karai, fazem parte dos rituais feitos pelos índios, que relembram os familiares que não moram na aldeia. A pintura corporal identifica a pessoa como indígena e também caracteriza a etnia da qual faz parte. As vestimentas tradicionais, de modo geral, costumam ser utilizadas em cerimônias religiosas ou eventos especiais como casamentos e aniversários.



Capital possui 12 comunidades

Atualmente Porto Alegre conta com 12 comunidades indígenas pertencentes às etnias Guarani, Caingangue e Charrua. A informação é do coordenador dos Povos Indígenas e Direitos Específicos da Diretoria dos Direitos Humanos, que integra a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social e Esporte, Guilherme Fuhr. Ele explica que são cerca de dez áreas indígenas na Capital, de diferentes status fundiários: de terra indígena até acampamento não regularizado. “Temos uma complexidade nessa questão, mas a cidade é referência em políticas públicas de aquisição de áreas”, destacou.

Segundo Fuhr, ao longo do processo histórico de valorização da cultura indígena, pelo menos quatro áreas já foram adquiridas e direcionadas aos povos. Uma delas para os charruas, outra para os guaranis e duas para o povo caingangue, que é considerado o terceiro mais numeroso do Brasil e se concentra na região Sul. Sobre os números exatos da população indígena em Porto Alegre há uma defasagem.

O último estudo da Fasc foi realizado em 2008. “Dentro deste período de dez anos, tivemos toda uma reconfiguração das pessoas, das áreas, além de compensação pelos impactos da duplicação de rodovias federais. Realmente carece de um estudo atualizado”, afirmou Fuhr. O último censo do IBGE, de 2010, indicava 3.308 índios na Capital.

Em todo o Rio Grande do Sul, conforme o IBGE, as maiores populações indígenas estão espalhadas em dez municípios: Redentora, Porto Alegre, Tenente Portela, Charrua, Viamão, São Valério do Sul, Ronda Alta, Planalto, Benjamin Constant do Sul e Cacique Doble. Na mesma pesquisa, o IBGE constatou que a maior parte da população indígena que vive na região Sul é de crianças entre 11 a 14 anos, que representam 11,6% das mulheres e 11,7% dos homens.

A modernização das aldeias, conforme ele, é inevitável. “As cidades começaram a se espalhar pelos territórios indígenas e a sociedade está se tornando cada vez mais urbana. Com os povos indígenas não seria diferente. O índio não tem que estar no meio do mato, necessariamente, ele pode ter automóvel, celular, computador, não é por causa disso que ele vai deixar de ser índio”, explicou.

Este ano, Porto Alegre não promoverá a tradicional Semana Municipal dos Povos Indígenas devido às dificuldades financeiras, mas a prefeitura será parceira das atividades realizadas em virtude do Dia do Índio, comemorado nesta quinta-feira.

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