"Precisamos nos planejar para novas pandemias", avalia presidente da Amrigs

"Precisamos nos planejar para novas pandemias", avalia presidente da Amrigs

Gerson Junqueira Junior explicou que reflexos da Covid-19, como pacientes represados, são desafio para o sistema de saúde


Felipe Samuel

Casos e óbitos da Covid-19 estão reduzindo na Capital

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Apesar de destacar a redução das internações e do número de óbitos por conta da Covid-19, o presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Gerson Junqueira Junior, chama atenção para os reflexos de dois anos de pandemia, como o represamento do atendimento a pacientes com outras patologias, que representam um novo desafio para os profissionais de saúde dos setores privado e público. “Estamos com os consultórios cheios de pacientes que ficaram toda a pandemia sem operar. Pacientes oncológicos que se tivessem operado em 2020, 2021, teriam um desfecho. E agora tem outro, pior”, avalia.

Para Junqueira, essa equação é um grande desafio. “Gestores públicos de saúde precisam sentar com as entidades médicas e fazer esse planejamento. Não é só isso, mas também planejar e se preparar para situações como a Covid-19, que eventualmente poderão ocorrer no futuro. Isso é uma lição que a gente aprendeu", destaca. Ele explica que durante dois anos, principalmente em 2020, houve falta de atendimento porque as pessoas ficaram reclusas em casa. “Muitos pacientes ficaram sem atendimento. Pessoas com doenças crônicas, sem atendimentos cardiovasculares, doenças endocrinológicas, com hipertensão, diabetes, e que ficaram sem acompanhamento, sem tratamento, como os pacientes oncológicos que ficaram sem diagnóstico e sem tratamento”, alerta.

Após o pior período da pandemia, em março e abril do ano passado, Junqueira destaca que muitos pacientes seguem até hoje com sequelas psicológicas, neurológicas, cardiológicas, vasculares e no sistema endocrinológico. E essas pessoas precisam de tratamento. “Isso é um novo capítulo, do paciente de Covid-19 que se curou, mas ficou com sequelas”, afirma. Apesar desse cenário, Junqueira afirma que a situação epidemiológica 'é muito satisfatória'. “Existe uma previsibilidade de que as coisas voltem ao normal e que a gente possa, num futuro muito breve, sair desse estado de pandemia", avalia. "Claro que a gente nunca pode menosprezar o vírus, sabendo sempre que essa doença, esse vírus, tem uma imprevisibilidade que às vezes nos prega peças e todo planejamento que a gente tinha feito cai por terra”, completa.

Ele avalia que o período de pandemia serviu para a sociedade repensar conceitos e valores. “Isso impactou em todos os setores da nossa vida, na economia, na saúde, nas relações pessoais, tudo foi impactado e realmente a gente sai diferente dessa pandemia. “A gente precisa refletir sobre tudo que a gente passou, de tudo o que a gente enfrentou, entender que a gente estava despreparado para muita coisa. E a gente precisa se programar, se planejar para eventuais novas pandemias, novos vírus, novas situações de saúde, em termos coletivos, de forma diferente. Temos que fazer uma reflexão de tudo que aconteceu e a gente precisa fazer um planejamento, tanto na saúde pública quanto na privada”, afirma.

Ao defender os avanços da ciência durante a pandemia, Junqueira ressalta o desenvolvimento da vacina em tempo recorde. “Imagina o ano de 2021 sem vacina? Quantos teriam morrido? No Dia Mundial da Saúde a gente tem que comemorar isso. A ciência presente, nos ajudando e mudando a nossa vida. Em janeiro de 2021, quando a Anvisa autorizou as vacinas aqui no Brasil, lembro da rapidez com que fizemos vacinas aqui no país. E o SUS nos ajudou muito. A gente tem hoje um SUS de 41 anos que nos dá uma expertise em vacinação de 2,4 milhões de doses por dia no nosso país. E isso foi feito durante muitas semanas no nosso país. Então se não fosse a vacinação o número de mortos teria sido bem maior”, destaca.

Na avaliação de Junqueira, a ciência foi responsável por embasar as decisões para conter a disseminação do vírus e mostrar o caminho correto. “O que ficou muito ruim foi a politização de coisas técnicas, científicas, que não devem ser politizadas”, lembra. “Isso também é uma lição, a gente tem que se embasar na ciência e a maioria das pessoas, dos profissionais de saúde, se embasaram na ciência, e a gente teve por sorte resultados melhores”, salienta. Junqueira lamenta ainda a perda de colegas da saúde durante a pandemia, mas destaca o papel de enfermeiros, fisioterapeutas, entre outros profissionais de saúde, que trabalharam na linha de frente da Covid-19.


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