Prefeitura de Porto Alegre debate revitalização e soluções inovadoras para o Centro Histórico

Prefeitura de Porto Alegre debate revitalização e soluções inovadoras para o Centro Histórico

Debate desta terça-feira contou com a participação do especialista espanhol no tema Josep Piqué

Correio do Povo

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A abertura dos trabalhos do Desafio Criativo Centro+ ocorreu na tarde desta terça-feira, no Farol Santander, e contou com a participação do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e do especialista espanhol em revitalização urbana Josep Piqué. A revitalização de centros urbanos e a ativação de cidades estiveram em pauta. 

O evento foi conduzido pelo coordenador do Pacto Alegre e diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Luiz Carlos Pinto da Silva Filho. Também debateram o tema o secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer, e o coordenador do Núcleo de Tecnologia Urbana da Ufrgs, Benamy Turkienicz, entre outros participantes. As atividades foram transmitidas  em uma live aberta aos internautas na página da Prefeitura de Porto Alegre no Facebook.

Piqué, que é um dos responsáveis pela formatação do Pacto Alegre, iniciativa em prol do desenvolvimento da Capital que une instituições de ensino, poder público, iniciativa privada e sociedade civil para estimular o empreendedorismo colaborativo, começou exibindo imagens das transformações realizadas em Barcelona. “Se queremos transformar uma cidade, e a economia da cidade, precisamos criar espaços criativos. Há dois públicos a se considerar: aqueles que vivem no lugar e os que apenas trabalham na região durante o dia”, afirmou Piqué. “Se tivermos arte à disposição nestes lugares, teremos público que irá aos locais. Que uso será feito dos espaços faz parte do planejamento urbano. O poder público não é dono da área, mas é dono da legislação para promover mudanças”, completou.

O espanhol abordou as potencialidades de mudanças para o Centro Histórico da Capital, sempre enaltecendo a indústria criativa. “Uma das indústrias criativas que mais me impressionou até hoje foi o Cirque du Soleil de Quebec. Minha recomendação é incorporar talento no Centro, como escolas de arte e de desenho”, aconselhou Piqué. “Que elementos fazem de Porto Alegre algo único? Barcelona e Paris estão apostando na cidade de 15 minutos, em que as pessoas usam bicicletas ou optam por caminhadas”, completou. 

O especialista em revitalizações de espaços urbanos lembrou, durante sua apresentação, a importância de existir áreas para as crianças e a participação das universidades nos projetos de urbanização. Também citou o aproveitamento de antigos prédios em Barcelona como universidades e centros audiovisuais. “As indústrias culturais são indústrias de transformação urbana. É necessário haver espaço para trabalhar e viver a cultura no Centro”, observou. 

O empresário Andrea Matarazzo, que ocupou vários cargos públicos em São Paulo e lidou diretamente com o assunto, trouxe para a discussão o exemplo de modernização que o centro da capital paulista passou nos últimos anos. “O centro de São Paulo era o centro financeiro da cidade na década de 1970. O Brasil não tem continuidade nos projetos urbanísticos, mas nas décadas de 1980 e 1990, com seus problemas econômicos, os calçadões do centro de São Paulo passaram a ser um problema. As empresas tiveram que colocar seguranças para acompanhar as pessoas. Aos poucos, as empresas abandonaram o centro e foram para a avenida Paulista. A gestão da época ainda liberou o comércio ambulante no centro paulista. Isto desvalorizou a região e os imóveis. Virou uma zona abandonada e de miséria. O processo de recuperação teve início a partir de 1995. Várias sedes dos bancos abandonados no centro foram compradas pela prefeitura. E depois a sede da prefeitura foi implantada no centro da cidade. Até legislação específica para mesas e cadeiras nas calçadas foram criadas, além de incentivos fiscais para a indústria cultural. Reformas e inaugurações de museus foram continuadas e entregues. A Virada Cultural também foi criada. Melhorias ocorreram na iluminação das praças e as grades desses locais foram retiradas”, relatou, dizendo que é um grande entusiasta de revitalizações de centros urbanos. 

O coordenador do Núcleo de Tecnologia Urbana da Ufrgs, Benamy Turkienicz, destacou que o Centro Histórico não tem o mesmo espaço disponível como o existente no Quarto Distrito. “Ao contrário do Quarto Distrito, as ofertas do centro urbano de Porto Alegre vivem um processo de degradação. Existem poucos lotes vazios na área central da Capital.” Turkienicz citou algumas pesquisas de recuperação de centros históricos em outras cidades do mundo. “Não é mais um mistério começar a revitalizar os centros históricos de uma cidade. O centro de Chicago, por exemplo, saltou de 18 mil para 110 mil pessoas nas últimas décadas”, comentou. A necessidade de existência de um plano estratégico foi citada também por Turkienicz. “O objetivo final da revitalização do Centro é proporcionar um lugar para toda a comunidade, independentemente da renda de cada pessoa”, afirmou.

“A iniciativa acolherá propostas em cinco eixos temáticos: mobilidade urbana, vivências do Centro, ativação econômica, mobiliário urbano e iconicidade. A Prefeitura vai dar um prêmio de 5 mil reais para cada eixo. E haverá uma premiação especial com uma viagem para Barcelona”, antecipou o secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, disse esperar da iniciativa privada estímulos para empreendedorismos. “As regras urbanísticas hoje do Centro impedem as mudanças. Um dos grandes pontos que paralisa a transformação natural desses empreendimentos está impedida porque não temos estoque construtivo. Os planos diretores foram se desatualizando ao longo dos anos”, observou.

O secretário executivo adjunto do International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI), Rodrigo Corradi, disse que espera ver este debate em discussões no exterior. A ICLEI é uma associação democrática e internacional de governos locais e organizações governamentais nacionais e regionais que assumiram um compromisso com o desenvolvimento sustentável. 

O prefeito Sebastião Melo agradeceu e elogiou as apresentações dos demais. “Não devemos mais chamar de Centro Histórico. Isto é muito saudosista. Temos que focar em Centro do futuro agora”, comentou. “Nosso projeto do Quarto Distrito vai sair do papel. Temos um compromisso com os 93 bairros de Porto Alegre. O setor privado precisa entrar neste processo e investir no Centro. Eu gosto de cidades com pessoas na rua, mesas na rua, com jovens morando no Centro”, finalizou.

Saiba mais - O Desafio Criativo Centro+ acontece entre 9 de agosto e 26 de setembro. Centenas de profissionais buscam soluções inovadoras para um dos espaços urbanos mais importantes da Capital. Parceria entre a Prefeitura de Porto Alegre, Pacto Alegre, BS Project, Co.nectar Hub e Sindilojas POA, o Desafio Criativo Centro+ pretende unir o poder público, a academia e a iniciativa privada em uma maratona cuja finalidade é apresentar propostas que alavanquem o desenvolvimento e resgatem o protagonismo da região. 


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