Projeto social busca apoio para seguir ajudando crianças com o tênis

Projeto social busca apoio para seguir ajudando crianças com o tênis

WimBelemDon oferece esporte e reforço escolar para 105 jovens da zona Sul

Marco Aurélio Ruas

Jorge chegou ao quinto lugar no campeonato estadual interclubes

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Um projeto que busca a transformação social e pessoal como resultado a partir do esporte. É dessa forma que Marcelo Ruschel, fundador do projeto WimBelemDon, localizado na zona Sul de Porto Alegre, define o trabalho realizado todos os dias com 105 jovens da região. Mais de mil outros jovens, entre 6 e 18 anos, já passaram pela quadra de tênis ou pelas salas onde oficinas e reforços de matérias escolares são oferecidas.  Porém, a iniciativa que mobiliza astros do esporte nacional, como Guga e Fernando Meligeni, está em risco. Meligeni é embaixador do projeto, com outra estrela do tênis nacional, Thomaz Koch. O terreno onde fica a estrutura do projeto é alugado e está à venda. Para manter o trabalho exemplar, uma campanha está sendo realizada pela Internet. Com o nome de “Fixando Raízes”, até o dia 30, Ruschel e os outros colaboradores precisam arrecadar R$ 450 mil, para que os jovens da região possam continuar sendo atendidos.  

Vários outros tenistas profissionais brasileiros também estão mobilizados na arrecadação. O atual primeiro colocado no ranking brasileiro, João Souza, conhecido como Feijão, doou uma raquete — vendida no mesmo dia. Outra raquete, do atual tenista número um na América Latina, o argentino naturalizado uruguaio Pablo Cuevas, será colocada à venda em breve. “Estamos aguardando para a próxima semana as raquetes do Novak Djokovic e Roger Federer”, revela Ruschel.

Além disso, o tenista Rafael Nadal já destinou três raquetes e três camisas autografadas para o projeto. Uma raquete já foi vendida pelo valor de R$ 25 mil. As três roupas também foram vendidas, por R$ 5 mil, cada. Outra raquete disponível é a de Andy Murray. Segundo ele, os tenistas brasileiros Bruno Soares e André Sá se responsabilizaram pela tentativa de conseguir a doação das raquetes dos atletas estrangeiros. Quem quiser ajudar o projeto pode realizar doações a partir de R$ 10.

Mensalmente, o projeto é mantido por empresas mantenedoras, parceiros e apoiadores. O staff da instituição conta com 35 pessoas, entre funcionários, voluntários e estagiários. Em outubro deste ano, a instituição completa 15 anos de existência. A campanha de arrecadação pode ser encontrada no site do projeto.

Do início, em 2000, à profissionalização

Fotógrafo profissional, Marcelo Ruschel viajou pelo mundo acompanhando Gustavo Kuerten, o Guga. No dia 31 de outubro de 2000, alugou uma quadra de tênis abandonada no bairro Belém Novo, na zona Sul de Porto Alegre, onde mora. Através de um trocadilho com o nome do torneio mais tradicional do mundo: o Torneio de Wimbledon, em Londres, no local nasceu o projeto WimBelemDon.

Criado com o intuito de, por meio do tênis e da realização de atividades extraescolares, facilitar o processo de integração social de crianças em situações de vulnerabilidade social, a instituição acabou passando por dificuldades nos primeiros anos. “O projeto começou com criatividade, boa vontade e coração”, confidencia Ruschel.

Conforme ele, em 2008 a instituição quase fechou por conta da falta de profissionalização. “Houve um ano em que meu contador revelou que eu tinha gasto R$ 16 mil para manter o projeto”, diz o fundador.  A partir de 2009, tanto Ruschel quanto os outros funcionários do local começaram a se capacitar. Desde então, o WimBelemDon vem se destacando como um dos projetos de maior destaque de Porto Alegre. “Somos o único projeto brasileiro apoiado pela ATP Aces for Charity”, salienta.

Com a aquisição do terreno na zona Sul e a manutenção da estrutura no local, o projeto tem como expectativa para o futuro aumentar o fluxo de jovens na quadra de tênis e nas salas onde são realizadas diversas atividades. A ideia de Ruschel é receber entre 120 e 150 crianças semanalmente.

Dedicação aos estudos é obrigatória

Para incentivar os jovens a se dedicarem aos estudos, há uma regra no projeto WimBelemDon: “As equipes de competição são formadas pelos melhores alunos, e não pelos melhores jogadores”, salientou Marcelo Ruschel, fundador do projeto. Os jovens Jorge Richard Braga e Gustavo Baltazar da Silveira sentiram na pele a necessidade de trocarem de postura e se esforçarem nos conteúdos da escola, para sentirem o prazer de competir.

Aos 19 anos, Gustavo é estudante do curso de Educação Física. Mesmo tendo passado no vestibular da Ufrgs, optou por estudar na Sogipa, onde ganhou uma bolsa integral. Apesar da imagem de menino dedicado e responsável, Guga, como é chamado, acumula histórias do tempo de rebeldia, quando era beneficiado pelo projeto. “Eu vim dos 10 até 17 anos. Quando entrei era muito rebelde. Xingava muito quando jogávamos tênis. Acabei sendo suspenso algumas vezes”, relatou.

O jovem chegou a repetir de ano na escola em duas oportunidades. Porém, na medida em que foi crescendo, e crianças ingressavam no projeto, Gustavo foi amadurecendo. “Os mais novos enxergam os mais velhos como ídolos”, argumenta. Hoje ele atua como estagiário no WimBelemDon, passando para outros jovens os ensinamentos do tênis. “Não me imagino fora do projeto. Mesmo se não for através do tênis, quero ajudar sempre”, afirmou.

Desde os 9 anos, Jorge, agora com16, participa das atividades. Levado ao WimBelemDon pelo irmão mais velho, ele se apaixonou pelo tênis e frequenta a quadra desde então. A partir da obrigatoriedade do bom rendimento escolar, ele chegou a ficar um ano e meio sem competir. “Eu pensava: se eu não for bem no colégio, não vou competir, que é o que eu gosto”, revelou. Desde que começou a se dedicar mais aos estudos, Jorge frequenta uma das equipes de competição do projeto e, em seu ápice, ano passado, ficou em quinto lugar no campeonato estadual interclubes.

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