Quarto Distrito ainda aguarda por novos investimentos

Quarto Distrito ainda aguarda por novos investimentos

Com localização estratégica, região de Porto Alegre é cenário de diversos projetos

Henrique Massaro

Outrora povoado, 4º Distrito ainda aguarda por investimentos

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Formada por 549 hectares de ruas da zona Norte ao Centro Histórico, a região conhecida como 4º Distrito pode ser vista como um dos grandes mistérios de Porto Alegre. Com localização estratégica – próxima aos acessos rodoviários, ao porto e ao aeroporto da cidade, com ligação direta para a região central – a área formada pelos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos outrora caracterizado pela forte atividade industrial e comercial sofre há décadas com o abandono.

Considerada promissora economicamente, o local passou por diversas discussões e projetos ao longo dos últimos anos e, apesar de ainda parecer esquecido em diversos pontos, já conta com pequenos empreendimentos privados e deve começar a receber as primeiras iniciativas do poder público.

Logisticamente privilegiada, a região passou a ser pensada com foco na inovação. Ainda nos últimas anos da gestão do prefeito José Fortunati, representantes do Executivo municipal estiveram na Espanha, onde o modelo do 22@Barcelona – projeto de revitalização da antiga área industrial da cidade catalã – passou a ser considerado uma referência para o 4º Distrito de Porto Alegre e o arquiteto espanhol Josep Pique como consultor.

Em dezembro de 2016, a prefeitura apresentou um masterplan elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Urbana (NTU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com apoio da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Todo o território foi mapeado para a criação do projeto. Alguns dos aspectos do Masterplan divulgados na época eram a multiplicação em até oito vezes das áreas verdes, instalação de polo médico, empresas voltadas à tecnologia, comunicações e inovação. O projeto também contemplava um terminal hidroviário, espaços como centro clínico e hospital metropolitano, além de prédios para empresas e startups. Um centro de eventos, considerado uma carência da Capital, também estava no estudo, assim como possibilidades de aumentar o número de moradores na região.

No ano passado, além da PUCRS e da Ufrgs, a Unisinos se engajou em uma nova iniciativa criada com o objetivo de se pensar ações voltadas à transformação da Capital em uma referência em inovação. Dentro desta articulação, foi firmado em seguida o Pacto Alegre, com o intuito de se conseguir compromisso e engajamento de instituições públicas e privadas nessa transformação de Porto Alegre.

À frente do projeto, o superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy, explica que, desde então, o 4º Distrito passou a ser um dos pontos contemplados por esse Pacto que se propõe a pensar Porto Alegre como um todo. Mais do que isso, de acordo com Audy, a região é um dos projetos vitais da iniciativa. Outras duas prioridades são ações voltadas à Educação e o Instituto Caldeira, espaço que deve reunir startups em antigas fábricas da família Renner, localizadas dentro do 4º Distrito.

Sensação de abandono

Apesar da existência de projetos e propostas promissoras, o 4º Distrito é um forte retrato do contraste entre o abandono e o funcionamento de Porto Alegre. Apesar de ser formado por bairros com diferenças significativas entre si, ao passar por algumas das ruas principais que formam essa grande região da Capital é possível perceber que o que prevalece é a falta de iniciativa pública e privada. Com diversos prédios de antigas fábricas e galpões abandonados há décadas, a sensação que se tem é de que o poder público não começou a atuar efetivamente naquele território.

A rua Voluntários da Pátria é uma importante via de ligação que pode caracterizar parte do 4º Distrito. Nela e nas vias menores com que se cruza é possível ver empreendimentos em funcionamento, mas cercados de imóveis vazios e deteriorados, além de terrenos baldios que acumulam lixo. A rua Câncio Gomes é um exemplo do abandono: o tamanho dos prédios não deixa dúvida que empresas de grande porte funcionaram ali, mas o estado das fachadas revela que os locais estão inativos há muito tempo.

Funcionário da coordenação Norte do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) – localizada na Câncio Gomes –, Hamilton de Oliveira diz que os espaços começaram a se esvaziar na época em que começou a trabalhar ali, em 1983. Com o tempo, o número de prédios inativos aumentou, dando características de abandono a toda a região. “É uma zona meio perigosa à noite”, comenta. Proprietário de um bar na mesma rua há quase 50 anos, Gilberto Ziego recorda que, no início, trabalhadores das empresas e moradores do entorno davam ao local um movimento que não existe mais. A sensação de esquecimento permeia outras das vias que formam a região. Apesar disso, pequenas iniciativas recentes deram nova vida à localidade.

Pequenos reparos deveriam ser priorizados, opina empreendedor

Nos últimos anos, novos empreendedores resolveram aproveitar o potencial da região. Um dos primeiros foi Caio de Santi, que escolheu a avenida Polônia, no bairro São Geraldo, para instalar seu bar e cervejaria. Espaço amplo, aluguel com preço acessível, proximidade de imóveis residenciais e fácil acesso de quem vem da região central da cidade foram os principais atrativos que o fizeram optar pelo local há cerca de três anos. Ao longo desse tempo, outros empreendimentos noturnos também tiveram a mesma escolha e aproveitam o movimento frequente de clientes durante toda a semana.

Para Santi, no entanto, apesar de atrair empreendedores, o 4º Distrito ainda é uma região esquecida pelo poder público. Ele, que acompanhou a apresentação e discussões sobre a revitalização do espaço, até agora só percebeu iniciativas por parte das empresas privadas. Na sua visão, mesmo que um grande projeto seja interessante, considera que primeiro a prefeitura deveria dar atenção às ações menores, como cuidar dos alagamentos, reforçar a iluminação e a segurança.

Outro ponto é a questão habitacional. Apesar da presença de prédios residenciais na frente de seu estabelecimento, a maior parte do restante da região até a ponte do Guaíba formada por pavilhões antigos, sem moradias. “Não adianta vir um monte de empreendimentos se não tiver moradores”, assinala.

Projetos prontos só dentro de 15 anos

O superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy, discorda que nada tenha sido efetivamente feito no 4º Distrito. Além já existirem iniciativas inovadoras, como o polo de economia criativa Distrito C e da Associação Cultural Vila Flores, ele garante que as obras urbanísticas já estão começando no território com base no Masterplan lançado no final de 2016.

O primeiro subprojeto foi iniciado recentemente, com a substituição das redes hidráulicas de ruas da região. Apesar de todos os projetos serem vislumbrados para somente daqui 15 ou 20 anos, Audy afirma que a transformação urbana já deve começar a ser vista. O Instituto Caldeira, segundo ele, por exemplo, deve estar em funcionamento no final do ano. No dia 26 de março, vai ser implementada a mesa do Pacto Alegre seguida de uma reunião para pensar os próximos passos.

 


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