Quase metade dos óbitos por Covid-19 em Porto Alegre ocorreram em julho

Quase metade dos óbitos por Covid-19 em Porto Alegre ocorreram em julho

Infectologista atribuiu evolução ao início e pela baixa adesão do isolamento social na Capital

Jessica Hübler

Falta de testes e de equipamentos de proteção para enfrentar a Covid-19 são para os médicos os principais problemas no combate à pandemia

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O mês de julho reúne as piores marcas da evolução da Covid-19 em Porto Alegre. Entre os dias 1° e 14 foram contabilizados 87 óbitos, o maior número registrado em 24 horas foi no dia 13, quando foram 13 no total, seguido dos dias 6 (10) e 7 (9). Com isso, 47,56% das 183 mortes por Covid em Porto Alegre aconteceram nos primeiros 14 dias deste mês. Também ultrapassamos a marca dos 5 mil casos confirmados: são 5.031, dos quais 1.490 foram diagnosticados nas duas últimas semanas, ou seja, 29,61% dos casos. Neste mês ainda tivemos recorde de casos novos em 24 horas, chegando a 237.

Em transmissão virtual no fim da tarde desta quarta-feira o prefeito Nelson Marchezan Júnior ressaltou a questão do aumento no número de óbitos em Porto Alegre. "Tivemos um aumento, mas todas essas pessoas tiveram atendimento adequado, mas mesmo assim acabaram falecendo. O nosso desafio é não deixar que os óbitos aumentem por falta de atendimento adequado na cidade e isso não aconteceu até agora, ao contrário do que aconteceu em muitas cidades brasileiras e em muitos outros países", afirmou.

O presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), Alexandre Vargas Schwarzbold, afirmou que há principalmente dois fatores que podem ter colaborado para o agravamento da situação entre o final de junho e as primeiras duas semanas de julho. Segundo ele, é preciso levar em conta a questão sazonal, pela chegada do frio. “Provavelmente as pessoas estão se aglomerando em lugares mais fechados, o que tem se revelado na literatura o cenário de maior risco para transmissão”, explicou. Além disso, o frio também favorece o aparecimento de outras infecções respiratórias.

O outro aspecto, especificamente na Região Metropolitana de Porto Alegre e até mesmo na Capital, que é o foco “mais preocupante” no Rio Grande do Sul, atualmente, para Schwarzbold tem sido a dificuldade de adesão e respeito por parte da população no que se refere às medidas de isolamento. “Vemos o tempo todo parques lotados, as pessoas não têm mais o rigor do isolamento. Na bandeira vermelha o distanciamento foi abaixo de 50%, enquanto seria necessário chegar próximo dos 60%, no mínimo, para que tenhamos segurança da redução da transmissão”, alertou. O frio e a falta de adesão da população ao distanciamento teriam sido fatores que podem ter potencializado o contexto da Covid-19.

Com relação às demais regiões do Rio Grande do Sul, Schwarzbold comentou que o modelo de Distanciamento Controlado do governo do Estado é positivo. “A estratificação de risco por regiões é correta, mas não pode se perder o aspecto controlado desse distanciamento, é preciso que a sociedade se dê conta que há isolamento social ainda, é importante cumprir os protocolos, mas também não se pode entender o Estado de modo separado”, declarou. Mesmo que em determinados municípios a transmissão esteja “de modo controlado”, como é o caso daqueles que fazem parte das regiões com bandeira laranja, por exemplo, Schwarzbold assinalou que a regulação da saúde trabalha com leitos integrados, que é um dos princípios do SUS.

“Está correto o modelo de distanciamento controlado por regiões, mas é complicado esperarmos uma região estrangular para que pensemos o resto do Estado”, pontuou. Schwarzbold ainda enfatizou que a SRGI vem observando o crescimento preocupante no número de mortes nos últimos 20 dias, principalmente na Região Metropolitana de Porto Alegre. “Isso mostra uma velocidade de transmissão da epidemia no nosso Estado, e o reflexo disso é que não nos basta ficar criando leitos novos de UTI, importante ressaltar isso, não é um quantitativo de leitos de UTI que vai permitir que a gente controle essa velocidade de transmissão ou que a gente reduza óbitos, são dois desfechos que não conseguimos controlar criando leitos”, afirmou.

Apesar de entender que o governo do Estado está correto em ampliar leitos, inclusive que seria um alento e que há expectativa de que isso se mantenha após a pandemia, Schwarzbold questionou quem vai atender nesses leitos. “Qual a qualidade, a formação, o acesso aos insumos necessários para a gente poder manejar esses pacientes de cuidado intensivo. Nós recuperamos muitos pacientes no cuidado intensivo, mais de 50% a gente recupera em situação de gravidade, mas são centros com treinamento e UTIs já acostumadas com doença respiratória grave, mas não podemos continuar nesse movimento de abertura de leitos como forma única de contenção”, destacou.

Ele ainda ressaltou que muitas pessoas que não apresentam sintomas da doença podem acabar transmitindo o novo coronavírus sem saber. “Temos tentado pontuar isso também, na análise de publicações muito consistentes observamos que mais de 40% das transmissões são de pacientes que não apresentam sintomas ou somente sintomas leves”, assinalou. Schwarzbold reforçou ainda o alerta da SRGI sobre a gravidade da pandemia no Estado. “No entendimento da entidade, as as medidas adotadas até o momento serão insuficientes para conter a doença”, reiterou, lembrando que seria necessário “enfrentar medidas de isolamento mais rigorosas que serão necessárias para efetiva modificação da evolução da pandemia”, por pelo menos 15 dias. 

Nova fase de testes

Uma nova etapa de testagem para o novo coronavírus já começou em Porto Alegre. O anúncio foi feito em transmissão virtual realizada no fim da tarde desta quarta-feira, com o prefeito Nelson Marchezan Júnior, o secretário municipal de Saúde, Pablo Stürmer e o secretário-adjunto da Saúde, Natan Katz. O que muda agora, conforme Katz, é que até então só eram testadas as pessoas com sintomas e agora, mesmo que a pessoa não apresente sintomas será testada. 

Nessa etapa, a oitava desde o começo do planejamento da aplicação de testes, começaram a ser testadas que têm a doença, mas que não manifestam nenhum sintoma em relação a isso. "De alguma forma vamos começar a atuar na cadeia de transmissão das pessoas que talvez tenham sintomas nos próximos dias ou talvez nem manifestem sintomas", reiterou Katz. Segundo ele, neste momento farão o teste os contactantes domiciliares, ou seja, as pessoas que residem com alguém que já teve o teste confirmado. 

Essa testagem será com o teste sorológico, realizado 20 dias após o início dos sintomas do caso confirmados. "Se fazemos o teste no momento inadequado, temos o falso negativo", reiterou. Todas as pessoas qeu moram junto com casos confirmados, que apresentou sintomas, poderão fazer o teste. Basta ir ao ponto de saúde da sua referência e solicitar o teste, levando o CPF ou o Cartão SUS da pessoa que teve diagnóstico positivo. "Vamos conseguir fazer o rastreamento do contato e identificar onde está ocorrendo a transmissão", reforçou.

Katz ainda reforçou que é fundamental que toda a pessoa que mora com alguém com sintomas ou confirmação da Covid-19 deve ficar em casa por 14 dias a serem contados da data de início dos sintomas. Depois desse período, pode ir até o posto de saúde solicitar o teste para fazer a coleta do RT-PCR. "


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