Reciclagem de lacres de latinhas se transformam em cadeiras de rodas
Doações podem ser feitas na sede da Rádio Guaíba
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Algumas instituições recolhem os lacres e comercializam para fundições ou outras empresas interessadas. Com o recurso, compram as cadeiras de rodas, que, em seguida, são emprestadas ou doadas para quem mais precisa. Um exemplo é o trabalho do Rotary Club de Porto Alegre Lindoia-Passo D’Areia, onde o projeto Lacres, que começou em 2012, já promoveu a distribuição e o empréstimo de várias cadeiras de rodas. No ano passado, foram adquiridos 26 equipamentos com a comercialização dos lacres. As cadeiras são emprestadas no modelo de comodato a quem buscar os clubes do Rotary no RS indicando a necessidade. Com empréstimo gratuito, assim que fica em desuso, deve ser devolvida.
É difícil imaginar a quantidade necessária para a aquisição efetiva de apenas uma cadeira. Na prática, cada 90 quilos de lacres, o que representa cerca de 350 mil unidades ou 140 garrafas PET de 2 litros cheias, correspondem a uma unidade. Responsável pelo recolhimento, Frederico Guilherme Kayser mostra com satisfação tonéis completamente cheios da última leva. Em cada um cabe uma média de 60 quilos. Todo o material é comercializado por meio de uma parceria direta com uma fundição de alumínio na Região Metropolitana.
Segundo o diretor da empresa, Erton Cardoso, o material comprado é transformado em liga e reaproveitado para a fabricação de outros produtos. Para isso, o material deve ser aquecido a uma temperatura de no mínimo 680 graus. Cardoso explica que na empresa não é comum a compra de sucata, mas que há uma exceção para o projeto. Em média cada quilo de lacre vale R$ 3,30. A busca exclusiva pelos lacres tem explicação. Quando fundido, o material sofre uma perda. No caso do lacre, por ser um material mais consistente é de apenas 5%. Ao mesmo tempo, no caso de uma latinha de refrigerante, ela chega a 40%, pelos outros componentes envolvidos, como tinta e oxigênio.
Pequenos esforços, grandes resultados
O recolhimento de lacres de garrafas é uma prova da força da união de pequenos esforços. Aos pouquinhos, quase num processo de formiguinha, as poucas dezenas de unidades se tornam milhares. Um exemplo é a parceria do Rotary Club de Porto Alegre Lindoia-Passo D’Areia com o programa “A Cidade É Sua” da Rádio Guaíba. O recolhimento é feito de diversas maneiras. Colegas da redação contribuem, e ouvintes entregam espontaneamente na sede da Rádio.
Segundo o apresentador, Cristiano Silva, a parceria foi articulada pela também apresentadora Maria Luiza Benitez. Eles recolhem os lacres e repassam ao Rotary. Ao mesmo tempo, conforme a disponibilidade, entram em contato com quem necessita das cadeiras. Silva recorda as mediações com duas instituições, uma no Balneário Pinhal e outra em Viamão. “É uma maneira simples e bacana de ajudar ao próximo.”
Outro exemplo é o grupo de futebol Koroas do Lindoia Tênis Clube, formado por 36 casais. Decidiram recolher lacres e, no início do ano, entregaram 70 garrafas PET cheias ao Rotary.
Impactos sociais e ambientais
A reciclagem do alumínio gera impactos sociais, econômicos e ambientais importantes. Isso porque o material pode ser reciclado inúmeras vezes, sem perder as suas características principais. Latas de bebidas e componentes automotivos, depois de fundidos, são utilizados em novos produtos. Servem, por exemplo, para a fabricação de embalagens, itens utilizados na construção civil e como matéria-prima para a indústria siderúrgica.
Segundo a Associação Brasileira de Alumínio (Abal), em 2013, o país reciclou 510 mil toneladas de alumínio. Mais de 50% eram sucatas de latas de alumínio para bebidas. Outro benefício ambiental é evitar que o alumínio se torne lixo nos aterros sanitários. O processo de reciclagem utiliza apenas 5% da energia elétrica e libera somente 5% das emissões de gás de efeito estufa quando comparado com a produção de alumínio.
Ao mesmo tempo, é uma fonte de renda para inúmeras famílias que sobrevivem da reciclagem. Segundo a Abal, a relação entre o volume de sucata recuperada e o consumo doméstico de produtos de alumínio é de 33,7%. A média mundial é de 30,7%.
Retração na busca por itens
A reciclagem de materiais como alumínio, plástico e papel é comum. Apenas na Capital existem várias empresas que adquirem esses materiais para revenda. Porém, os valores têm variações, sendo necessário um grande volume para realmente valer a pena. Além disso, com o desaquecimento da economia, há uma retração na busca de algumas matérias-primas, explica Luiz Fernando Costa, responsável por uma dessas empresas localizada na zona Norte.
Em média, as latinhas amassadas são adquiridas por valores entre R$ 2,80 e R$ 3,00 o quilo. Por mês, são compradas até 4 toneladas de alumínio para reciclagem. O material recolhido depois é revendido para fundição em São Paulo. “Recebemos um volume considerável de empresas e de catadores mesmo”, ressalta. Em um ponto na Voluntários da Pátria, são recolhidos por semana 500 quilos de latinhas. O material é comercializado entre R$ 2,50 e R$ 3,00 o quilo.
A aquisição de papel é grande em volume, porém, com valores menores. Em média, o quilo custa R$ 0,20 ou R$ 0,30. Em uma empresa na Restinga, são recebidas até 2 mil toneladas/mês.