Reconstrução de estação na Antártica levará ao menos dois anos

Reconstrução de estação na Antártica levará ao menos dois anos

Diretor do Centro Polar e Climático da UFRGS diz que projeto exigirá investimentos de R$ 40 milhões

Heron Vidal/Correio do Povo

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Para a pesquisa do Brasil, o incêndio da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), na ilha do Rei George, ocorrido na madrugada de sábado, representa a perda de 40% de todo o conhecimento científico produzido pelo País sobre aquele continente. A avaliação é do diretor do Centro Polar e Climático da Ufrgs, Jefferson Simões, o primeiro brasileiro a ser treinado para a exploração em geografia polar, na década de 1980, na Universidade de Cambridge (Inglaterra). Uma nova Estação exigirá investimentos de R$ 40 milhões e dois anos para ser concluída, estima o cientista.

O fogo, conforme as informações obtidas pelo professor, PhD em Glaciologia, consumiu entre 70% a 80% da Estação — sua área total é de pouco mais de 3 mil metros quadrados. “Não haverá como reaproveitar os 20% ou 30% restantes, será necessário reconstruir tudo”, observou Simões. Pesquisadores e militares resgatados do incêndio desembarcaram no Brasil neste domingo.

Como o inverno polar se inicia em março — as temperaturas baixam para uma média entre 20ºC a 25ºC graus negativos, as obras de reconstrução somente poderão executadas no verão, em dezembro. Foram destruídos todos os projetos e pesquisas desenvolvidos em 2012, avaliados em R$ 4 milhões, mais laboratórios, equipamentos, dormitórios e instalações. Feita de contêineres metálicos e interior revestido em madeira, a EACF tinha capacidade para abrigar de 20 pessoas, no inverno, até 50 pessoas no verão (havia 60 pessoas no local).

Apesar do prejuízo, o professor lamentou as duas mortes, “no meu ver o irrecuperável das perdas”. O Programa Antártico Brasileiro “é muito maior e continua”, disse. Os demais 60% da pesquisa do Brasil sobre o continente localizado ao sul do paralelo 60º, com 50 milhões de quilômetros quadrados (14 milhões de terras e o restante oceano e gelo), está distribuído entre acampamentos em outras ilhas, quatro ministérios (Relações Exteriores, Defesa, Meio Ambiente e Ciência, Tecnologia e Inovação), 20 universidades, institutos de pesquisa, no projeto Criosfera, lançado em dezembro, e apoio da Marinha.

Nos dois navios, o Ary Rongel de apoio oceânico, atualmente em manutenção no porto de Punta Arenas, e o polar Almirante Maximiano, também está parte da pesquisa brasileira. A Antártica corresponde a 10% da área do planeta. Para ter direito a voto sobre a região, o Brasil precisa desenvolver pesquisa científica, explica o cientista Simões. O Programa Antártico Brasileiro teve início em 1982. Já a EACF foi inaugurada em 1984, lembra o glaciologista.

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