Reinstalada a placa do projeto Marcas da Memória na calçada onde foi o Dopinho, em Porto Alegre

Reinstalada a placa do projeto Marcas da Memória na calçada onde foi o Dopinho, em Porto Alegre

Local foi identificado como o primeiro centro clandestino de detenção empregado pela Ditadura Militar

Christian Bueller

Projeto Marcas da Memória identifica outros oito locais que abrigaram tortura durante a Ditadura Militar

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Uma solenidade promovida pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul marcou, nesta quinta-feira, a reinstalação da placa do projeto “Marcas da Memória” na calçada em frente ao prédio que foi conhecido como Dopinho, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. O número 600 da rua Santo Antônio foi identificado como o primeiro centro clandestino de detenção empregado pela Ditadura Militar do Cone Sul.

A placa que denuncia os crimes de tortura e extermínios de pessoas contrárias ao golpe militar foi colocada em agosto de 2015 como parte do projeto, uma parceria do MJDH/RS com a Prefeitura. No entanto, a peça foi retirada do local, que foi coberta por cimento, e desapareceu. No ano passado, o Ministério Público determinou a recolocação da placa em um prazo de até cem dias, sob responsabilidade do proprietário do imóvel. 

Segundo o fundador e presidente do Movimento, Jair Krischke, criador do projeto, o público-alvo são os jovens das próximas gerações. "É preciso que tenham consciência do que aconteceu. Não se falava sobre o tema em casa, muito menos na escola, universidade menos ainda. Fica difícil construir o futuro sem conhecer o passado", diz. 

Porto Alegre 

O Dopinho funcionou em Porto Alegre até 1966 e é uma analogia ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), criado pelo governo brasileiro em 1924 e utilizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde na Ditadura Militar para levar pessoas sequestradas que foram torturadas neste período.

Na Capital, o lugar parou de funcionar depois da morte do ex-sargento militar Manoel Raimundo Soares. Contrário ao golpe militar, Soares foi barbaramente torturado no casarão por 28 militares e agentes da segurança, durante 152 dias, a mando do major Luiz Carlos Menna Barreto. O corpo foi encontrado com as mãos amarradas, nas águas do Guaíba.

O projeto Marcas da Memória identifica ainda outros oito locais na Capital que abrigaram tortura durante a ditadura militar. A ideia de Krischke é retomar o convênio encerrado durante a gestão Nelson Marchezan para chegar a 20 placas.

"Estamos avançando nas negociações com o atual mandato do prefeito Sebastião Melo. A Ilha Presídio, por exemplo, é um lugar importante em que muitas figuras foram presas durante a ditadura. A ponta do projeto é fazer uma pirâmide no Cais do Porto para marcar os que lutaram pela democracia e foram torturados na ilha", conta o presidente do MJDH.

A intenção do projeto é tornar públicos todos os espaços que foram centros de detenção e tortura e incentivar atividades culturais que levem ao conhecimento e a reconstrução da memória dessa época. Uma placa com descrição histórica é sempre colocada na calçada de prédios ligados a esse período.


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