Relações paternas impactam nos índices de violência, dizem especialistas

Relações paternas impactam nos índices de violência, dizem especialistas

Oito em cada dez jovens que estão na Fase não têm figura de um pai presente em suas vidas

Cíntia Marchi e Mauren Xavier

Oito em cada dez jovens que estão na Fase não têm figura de um pai presente em suas vidas

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Para alguns especialistas, a presença paterna supera as relações internas do ambiente familiar e trazem impactos à sociedade, como é a questão da violência. Por exemplo, oito de cada dez jovens homens que estão na Fase (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo) não têm a figura paterna presente na sua vida. O dado não é científico, mas faz parte da experiência do promotor de Justiça, Júlio Almeida, que há 20 anos atua na área de juventude e criminal.

• As descobertas e o estímulo ao reconhecimento paterno

• Pais buscam mais por direito de participar da vida dos filhos

“O pai é um limite. E, empiricamente falando, estamos na terceira geração que utiliza drogas. Assim, chegamos a um ponto que não há limite e o tráfico domina. Combinados, temos esse panorama de violência”, avalia ele. Ao avaliar de maneira mais crítica o panorama integral, o promotor Júlio Almeida reconhece que “as perspectivas são as piores”. “Infelizmente, a maioria desses jovens homens que estão na Fase não tiveram a figura paterna em suas vidas, e, ao mesmo tempo, já são pais. Logo, dificilmente vão conseguir escrever a história de maneira diferente. É um ciclo de mau exemplo e a ausência do limite”. É claro que a culpa não está apenas nos ambientes familiares, mas também da degradação dos valores e da ausência do Estado no combate à criminalidade.

A psicóloga Luciana Drehmer ressalta que muitos estudos confirmam o impacto positivo quando os pais estão mais participativos na vida dos filhos. “Muitos analistas e pesquisadores têm mostrado os efeitos da falta do pai na cultura, da falta da lei e dos limites, gerando uma condição de desamparo, tão característico dos tempos atuais”, enfatiza.
Nesta mesma linha, uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo pelo promotor Eduardo Del-Campo, do Ministério Público de SP, divulgada em julho deste ano, mostrou que, de cada três jovens infratores, dois não têm a figura paterna em casa. Uma das constatações dele é de que há falta de valores, uma vez que o crime compensa mais do que o trabalho formal. Neste panorama, o promotor gaúcho reconhece que a vida no crime é similar a uma profissão para eles.

Ao analisar as condições dos adolescentes e jovens adultos que acompanha na Fase, destaca que 90% são oriundos de classes mais vulneráveis e que tem a estrutura familiar mais desorganizada. “Nestas famílias, na maioria das vezes, o pai já está no mundo do crime, preso ou faleceu. Além disso, os núcleos familiares são comandados por mulheres e que têm filhos de pais diferentes”, diz.

Além disso, ele lembra que em muitas vezes o pai está preso, assim, a criança passa a se ambientar no Presídio como um ambiente normal da sua vida. Entendendo essa realidade, o projeto Pai Presente também é desenvolvido em alguns presídios. Segundo a gerente do programa no TJ de Goiás, Maria Madalena de Souza, no ano passado 20% dos casos de reconhecimentos de paternidade foram em presídios do Estado. Ela destaca que essa é uma forma de fortalecer os laços familiares. No Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), houve 358 reconhecimentos no Instituto de Administração Penitenciária (IAPEN), no ano passado. Já no primeiro semestre deste ano, foram 80 registrados.

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