Restaurante Popular de Porto Alegre encerra atividades

Restaurante Popular de Porto Alegre encerra atividades

Local no bairro Floresta atendia cerca de 500 pessoas por dia servindo almoço a R$ 1

Christian Bueller

Local oferecia refeições a R$ 1

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Arroz, feijão, macarrão ao pesto, iscas de carne e salada. Com direito a paçoca de sobremesa. Este foi o cardápio do último dia de funcionamento do Restaurante Popular, da rua Santo Antônio, bairro Floresta em Porto Alegre. Hoje o único local nestes moldes na Capital, que costuma atender cerca de 500 pessoas por dia, serviu o derradeiro almoço ao preço de R$ 1. Alguns habituais frequentadores, surpresos com a notícia, lamentavam o acontecido.

Segundo os seguranças do lugar, o movimento foi menor que o normal porque há quem achasse que as portas já estariam fechadas. Não houve nenhuma cerimônia, mas havia um clima de despedida. Sentado próximo à janela, três amigos se revezavam ao violão. Na fila, à espera por seus pratos, a ‘clientela’ baseada em pessoas com vulnerabilidade social parecia não acreditar que o tradicional ponto de encontro na hora do almoço chegava ao fim.

O primeiro da fila era o pintor João do Nascimento, 72 anos. A expressão no rosto era de poucos amigos. "Como vai ser agora. Venho aqui todos os dias", resmungou. "Bah! Era tri boa a comida", se limitou a dizer Gilmar de Barros, 60 anos. Desempregado, estava a caminho da agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Este trajeto, não fará mais. Enquanto falava com a reportagem, um jovem bradou “tiraram o nosso suco, escreve aí!", enquanto uma mulher se aproximou. Era a moradora de rua Valquiria Silveira, 52 anos. "Gostamos tanto, um lugar tão caprichoso, tudo limpinho. Ao mesmo tempo que a Prefeitura nos dá, nos tira". O atleta Júlio Cesar de Jesus já sabia da novidade. "É uma pena. Não tem nada barato que o bandejão".

Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE), Comandante Nádia, a ideia é descentralizar o serviço e oferecê-lo em outras regiões da cidade. Um edital foi lançado em janeiro em busca de parceiros interessados em gerir os restaurantes, mas não houve interessados. "O que fazemos com moradores da Bom Jesus, da Lomba do Pinheiro, da Restinga, por exemplo? Vamos relançar o chamamento público em breve para, quem sabe em 60 dias assinar o contrato", informa a secretária.

Nádia adianta que quer ampliar o serviço e não simplesmente, fazer "assistencialismo barato". "Não concordamos com o pagamento de R$ 1. As refeições serão de graça. Além disso, as equipes de abordagem da SMDSE vão promover um trabalho de qualificação destes usuários para entrarem no mercado de trabalho", frisa.

A secretária identificou, ainda, que não havia um cadastro de quem se alimentava no restaurante. “Muitos ali não encaixavam no perfil dos que realmente não têm condições de pagar pelos almoços. Também percebemos pessoas de outras cidades da região metropolitana que vinham para cá”. Enquanto os novos restaurantes populares não abrem as portas, pessoas cadastradas nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) da Capital terão acesso a almoços. 

 


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