Retomada dos circos traz de volta a paixão pelo espetáculo em Porto Alegre

Retomada dos circos traz de volta a paixão pelo espetáculo em Porto Alegre

Artistas circenses retomaram suas atividades na semana passada na Capital

Christian Bueller

Circo na zona Sul se preparou para poder voltar a receber o público

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Hoje tem palhaçada? Tem sim, senhor! Desde que a prefeitura de Porto Alegre liberou a abertura de casa de shows no decreto do último dia 19, os artistas de circo também puderam retomar suas atividades por completo. Até então, o funcionamento se dava no sistema drive thru. Mas este final de semana foi o primeiro em que o riso foi solto, assim como a permanência do público sob a lona, desde que se cumpra os protocolos sanitários no combate à Covid-19.

Exemplo disso, é o The King Circus, na zona sul da Capital. Localizado na avenida Juca Batista, em frente à Igreja Menino Jesus de Praga, o local se preparou com cuidado para receber as famíliase suas crianças de todas as idades. Instalada ali desde fevereiro, a trupe formada por 25 pessoas foi pega de surpresa quando a pandemia chegou. “Tivemos que parar tudo, foi horrível”, recordou Alex Guilherme dos Santos, que administra o circo, herdado do pai, Getúlio. Antes de falecer, há um ano e quatro meses, pediu aos filhos que não desistisse do sonho de pequeno de ter o próprio show. “Meu pai não era de família circense. Quando tinha 12 anos, passou um circo na cidade e ele foi embora fugido com os artistas”, lembra Alex.

Funcionando junto ao Park Las Vegas, o The King Circus pode receber até 220 pessoas, metade de sua capacidade. O acesso ao ar livre em um circo é normalmente facilitado e arejado, já que não existem paredes. Aliado a isso, totens fornecem álcool gel às pessoas, que entram após terem sua temperatura corporal medida. Os assentos são demarcados como devido distanciamento. “O espetáculo tem uma hora e meia e não pode passar das 23h”, explica o administrador do circo, que também é mágico e malabarista, quando adota o nome Alex Rakmer. É ele quem começa o show, sob aplausos efusivos das crianças.

Quem foi, gostou das atrações, que incluem palhaço, acrobatas, trapezistas, o “Globo da Morte” e um King Kong de quatro metros de altura. Deidiene da Rosa foi com o marido Fabiano Ribeiro, sua irmã Raissa e o filho Taylor, ambos de 5 anos, para um programa do qual já estavam com saudade. “Queríamos aproveitar com as crianças e foi bom porque não tinha tanta gente”, disse ela. Na sexta-feira, havia pouco mais de 40 pessoas nas cadeiras. “Amo circo”, resumiu Raissa.

Os planos precisaram mudar com a pandemia. “Íamos ficar por dois meses. Estamos aqui há oito”, diz Alex. Durante os últimos meses, os artistas conseguiram se manter fazendo malabarismo. Literalmente. “Nossa renda é da bilheteria. Fizemos lives para arrecadar dinheiro, colocamos nossas lanchonetes nas ruas e fomos aos semáforos apresentar nossa arte”, conta.

A comunidade dos arredores se solidarizaram e doaram cestas básicas. “Somos gratos à população de Porto Alegre. Guardamos o que era necessário e levamos parte dos alimentos aos moradores dos morros da cidade”. Com o valor único de R$ 10, qualquer pessoa, adulto ou criança, pode usufruir de todos os brinquedos do parque por duas horas, e mais as atrações do The King Circus.

Alegria e coragem

Nascida em uma família de circo, Merilyn Haychélli é bailarina e contorcionista e aprendeu os movimentos aos quatro anos. Ela carrega no sobrenome o circo que o pai tinha. Morando com a equipe do The King Circus há cinco meses, diz não saber fazer outra coisa. “No picadeiro, é diferente, a gente esquece de todos os problemas. Estamos ali para alegrar o público”, sorri. Merilyn tenta esquecer as dificuldades durante a pandemia. “A gente vive disso, né? E agora, com o pessoal vindo, é uma alegria imensa”.

Já o trapezista Diego Rodrigues era montador de circos e se tornou íntimo das acrobacias assistindo os artistas de perto, há quatro anos. “O número mais difícil é o Arco Sereia, quando ‘tu’ balança de lona a lona, de um lado para o outro, amarra os pés e se atira entre o público”, conta. Mais complicado, somente os efeitos da pandemia. “Vendemos brinquedos na sinaleiras”, lembra. Mas, o medo não faz parte de sua vida. “Para ser um bom trapezista, é preciso coragem e sangue frio”, fala Diego, que saiu de Viamão, onde tem família, para rodar o Brasil com o circo.

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Com sorriso constante, Jorge Osmar Bairros tem 20 anos de circo. Legítimo faz-tudo, conhece praticamente todas as lides desta área. “Já fiz corda bamba, segurança, fui apresentador, já fiz tudo”, diz o cunhado de Alex. Na última sexta-feira, Jorge esteve na entrada do circo entregando pulseiras ao público que chegava. Depois de atuar como locutor na abertura do show, trocou de roupa e se transformou no espirituoso palhaço Linguiça. Fazendo brincadeiras com os presentes, Jorge arrancava risadas a todo momento. “Este é meu funcionário. Aquele outro também é meu funcionário. Já este terceiro aqui, não funciona mais”, apontava em direção a três pessoas da mesma família.

Ao final do espetáculo, ainda entrou na roupa de 60 quilos que dá vida ao King Kong de quatro metros de altura. Para a montagem do personagem, Jorge precisa da ajuda de duas pessoas para colocar a parte de cima da fantasia de ferro. “Tinha até controle remoto para mexer a boca, mas não estamos usando. Tem uma encenação, é muito legal ver as crianças apavoradas e os pais faceiros tirando fotos”. Para ele, a magia do circo é diferente de todas as outras atividades. “Meu sogro, seu Getúlio diz, ‘quem tomou água da lona, não sai do circo’. E é mesmo”.


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