Rios e lagos gaúchos escondem armadilhas para banhistas

Rios e lagos gaúchos escondem armadilhas para banhistas

Confira os locais mais perigosos, onde há buracos e forte correnteza

Karina Reif / Correio do Povo

Mesmo em locais impróprios, crianças e adolescentes se banham no Sinos

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Os rios e lagos, aparentemente calmos, escondem riscos como correntezas e buracos, armadilhas que dificilmente quem não sabe nadar consegue escapar. Com a chegada do verão, a preocupação com os afogamentos aumenta, especialmente nas águas internas, já que o registro foi de, pelo menos, 129 mortes nesses locais - 8,6 vezes a mais do que no mar, que teve 15 em 2011. O Guaíba, o Sinos e o Gravataí estão entre os mais perigosos. Em 2010, morreram 170 pessoas em águas internas no RS e outras 19 no mar.

Desde novembro, apenas um homem se afogou no Guaíba. No entanto, todos os dias os bombeiros do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) fazem três rondas nos locais mais arriscados para pedir que as pessoas saiam das áreas impróprias para banho. O comandante do GBS, major Jarbas Trois de Ávila, afirma que todas as semanas sua equipe precisa resgatar banhistas que não conseguem voltar para a margem. Em um levantamento, ele diagnosticou com colegas as áreas de maior irregularidade do solo: vai da Usina do Gasômetro até o Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre. "Na área onde foi feito o aterro, o solo ficou muito irregular. A pessoa molha os pés e, cerca de 1 metro adiante, já está fundo."

Segundo ele, diferentemente do mar, o lago não muda. "Pegamos barcos e medimos os locais com buracos que podem chegar a 5 metros", diz. No bairro Ipanema, por exemplo, onde não há aterro, Ávila não lembra de registro de afogamentos nos últimos três anos e meio.

Observando um homem caminhando na beira do Guaíba, próximo ao Gasômetro, Marcos Pires, 40, que trabalha com eventos, fez a mesma observação do bombeiro. Ele já viu várias pessoas entrarem no local, diante da placa "Impróprio para banho". "Aqui é um aterro. Quando termina a areia, começa um precipício. É fundo e perigoso." O major lembrou que, na temporada de novembro de 2008 a março de 2009, 14 pessoas morreram afogadas na orla do Guaíba, no Centro de Porto Alegre. Na temporada 2009/2010 foram três óbitos e, na passada, foram quatro.

O major atribui a redução nos números a uma série de medidas implementadas a partir do levantamento dos locais de risco. "Colocamos placas onde havia buracos, fizemos palestras de conscientização e também as rondas", explica. Em alguns dos locais, as placas caíram e sobrou somente o suporte, utilizado agora com outra finalidade, já que algumas pessoas costumam segurá-los quando caem em um buraco. Segundo Ávila, a maior parte das vítimas que se afoga no Guaíba é formada por crianças entre 6 a 14 anos que estavam desacompanhadas. "Não adianta o pai estar junto, mas a 200 metros fazendo um churrasco. Tem que estar perto, principalmente de crianças menores de 6 anos", aconselha o comandante do GBS. Ele ressalta que a pessoa que não sabe nadar pode morrer em poucos minutos, por isso, é preciso ter atenção.
 


Sem salva-vidas, risco é ainda maior

O Rio dos Sinos nasce em Caraá, no Litoral Norte, e percorre 190 quilômetros até desaguar no Delta do Jacuí, em Canoas. Nessa cidade, os bombeiros elencam três pontos como os mais preocupantes para os banhistas: proximidades da Rua da Barca, da Barrinha e da Prainha de Paquetá. "Esses locais são impróprios para banho e não têm salva-vidas. Mas a Prainha de Paquetá conta com área urbanizada próxima e muitos entram na água e acabam se afogando", revela o comandante dos bombeiros de Canoas, major Julimar Fortes.

O Sinos abrange diversas cidades, entre elas São Leopoldo, onde ocorreram duas mortes por afogamento somente no mês passado. O rio Gravataí também tem três pontos de risco na cidade que empresta o seu nome. Passo das Canoas, Passo dos Negros e Olaria são os locais onde mais são registrados afogamentos.

O comandante do Corpo de Bombeiros no município, tenente Iremar Charopem, ressalta que houve apenas duas mortes em 2011 na região. "Mas os trabalhos de prevenção estão sendo elaborados para que o número não aumente neste verão."

Responsável pelo Comando do Corpo de Bombeiros, o coronel Henrique Lampert Silva disse que as águas são aparentemente paradas nos rios, diferentemente do mar. "Mas o rio nunca é igual de um dia para o outro, não tem como prever onde há buracos."

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