Riscos em barragens retiram mais de 400 pessoas de casa em duas cidades de MG

Riscos em barragens retiram mais de 400 pessoas de casa em duas cidades de MG

Mineradoras Vale e Arcelor Mittal colocaram planos de emergência em prática, respectivamente, em Barão de Cocais e Itatiaiuçu

AE

Deslocamentos começaram durante a madrugada e abrangem comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras

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Mais de  200 moradores do município de Barão de Cocais, a 80 km de Belo Horizonte, foram retirados de suas casas pela Defesa Civil na manhã desta sexta-feira depois que soou uma sirene que monitora a barragem da Vale. Estima-se que 500 pessoas vivam na região.  A informação é da Prefeitura da cidade e surge duas semanas após o rompimento da barragem 1 da mina Córrego do Feijão de Brumadinho, que deixou mais de 150 mortos e cerca de 180 desaparecidos.

O Corpo de Bombeiros afirmou que também foram evacuadas cerca de 65 famílias da cidade de Itatiaiuçu, que foram deslocados em razão do risco de rompimento da barragem que pertence à mineradora ArcelorMittal.

O coordenador adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais coronel Flávio Godinho, afirmou que as minas em Barão de Cocais e Itatiaiuçu foram paralisadas. "As operações nas duas minas estão temporariamente suspensas e só retomarão as atividades após as empresas Vale e ArcelorMittal apresentarem os laudos comprovando a estabilidade das barragens". As informações foram repassadas pelo governo de Minas.

Em nota no Facebook, a Prefeitura de Barão de Cocais informou que diante de observações e monitoramentos realizados pela Agência Nacional de Mineração (ANM), Defesa Civil do Estado e do município, e pela empresa Vale, foi acionado o Nível 2 de risco na barragem Sul Superior da Mina do Gongo Soco. A informação até esse instante é de um desnível na estrutura. "Por esse motivo, seguindo as recomendações repassadas pelos entes responsáveis e pela mineradora, os moradores da comunidade do Socorro e adjacências estão sendo evacuados neste momento por ônibus da Vale e demais veículos de apoio."

A Prefeitura de Barão de Cocais ressalta que o procedimento está sendo realizado por precaução. Conforme a administração municipal, os moradores estão sendo encaminhados ao ginásio poliesportivo da cidade.

De acordo com um comunicado da Vale, a retirada de pessoas foi determinada depois que a ANM foi informada pela mineradora que ela estaria dando início ao nível 1 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM). A nota ressalta ainda que a decisão é preventiva e foi tomada após a empresa de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade à estrutura.

Os deslocamentos começaram durante a madrugada e abrangem comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, todas em Barão de Cocais.

A Vale informou que está intensificando as inspeções na barragem Sul Superior como medida de segurança e implantado equipamentos com capacidade de detectar movimentações milimétricas na estrutura.

O tenente e porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Pedro Aihara, afirmou que as pilhas de rejeitos das duas barragens são menos líquidas e molhadas em comparação a que rompeu em Brumadinho. "Os volumes também são menores, com a composição do rejeito mais seca", disse em coletiva de imprensa.

Segunda o coronel Evandro Borges, da Defesa Civil, as familiares poderão retornar às casas apenas quando um laudo técnico, referendado por um órgão competente, atestar que não há risco. "Não existe, nessas duas cidades, nenhum rompimento de barragem. A evacuação foi uma forma de prevenção."

O Corpo de Bombeiros afirmou que também foram evacuadas cerca de 65 famílias da cidade de Itatiaiuçu, que foram deslocados em razão do risco de rompimento da barragem que pertence à mineradora ArcelorMittal.

Segundo o major Eduardo Lopes, da Defesa Civil, neste primeiro momento, foram retiradas somente as pessoas localizadas em comunidades rurais na área de alcance imediato dos rejeitos em caso de rompimento da barragem. Ainda há 31 que estão resistentes, sem querer deixar suas casas.

“O nível de alerta 2, que permanece, determina a evacuação, por isso a nossa recomendação de não haver pessoas nesse local. Havendo o rompimento, esperamos que não haja pessoas. O estudo de impacto de um desastre mostra que ele afetaria essas residências”, explica.

Segundo Lopes, a projeção feita pela empresa, é que o rejeito alcançaria em torno de 11 km, ainda na parte rural da cidade. “Retiradas todas as pessoas, nossa preocupação agora é com uma possível inundação por causa de aumento de volume do rio com o rejeito.”

“A expectativa é que, se romper, trabalhamos com uma margem de uma hora, uma hora e dez minutos, partindo do ponto do eventual rompimento, para que essa água alcance o município. A gente fala que a tendência é de que o rejeito fique ao longo do caminho."

De acordo com a Vale, a Sul Superior é uma das dez barragens a montante inativas remanescentes da empresa e faz parte do plano de aceleração de descomissionamento anunciado no dia 29, quatro dias após o desastre de Brumadinho.


Itatiaiuçu 

Cerca de 200 pessoas do bairro de Pinheiros, em Itatiaiuçu, a 80 quilômetros de Belo Horizonte (MG), foram retiradas de suas casas por volta das 3 horas desta sexta-feira, nas proximidades da barragem de rejeitos de Serra Azul da empresa ArcelorMittal no município. Elas foram retiradas das casas por bombeiros e policiais e foram levadas para um hotel. Não ocorreu acionamento de uma sirene.

Segundo o sargento Leandro Faria, do 2º Pelotão de Bombeiros de Itaúna, que fica a 32 quilômetros de Itatiaiuçu, o Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 2 horas, por medida de precaução após riscos estruturais da mina. A Defesa Civil solicitou à mineradora faça o resgate de animais.

A mina de Serra Azul produz 1,2 milhões de toneladas de concentrado e minério granulado. A barragem de rejeitos, que é do tipo a montante - mesmo modo de construção das que romperam em Mariana e Brumadinho -, está desativada desde outubro de 2012.  

De acordo com o Corpo de Bombeiros, se houver o rompimento da barragem, os rejeitos podem atingir a BR-381, que liga Belo Horizonte a São Paulo e o Rio Manso.

Em nota, a ArcelorMittal informou que a medida foi de precaução, visto que a comunidade se situa a 5 km de distância da barragem. A empresa concluiu que não se pode correr absolutamente "nenhum risco, e que, apesar do transtorno para a comunidade, esta é a decisão correta".

Segundo o presidente da empresa no Brasil, Benjamin Baptista, ainda não há previsão de retorno das famílias retiradas do local. “Pedimos desculpas à comunidade local pelo transtorno. Procuraremos retornar as pessoas para suas casas o tão logo possível, embora à esta altura não seja possível dizer quando será", disse em nota.

De acordo com a empresa, os membros da comunidade permanecerão acomodados no novo local enquanto testes adicionais estão em andamento e até que a segurança da barragem de rejeitos possa ser 100% garantida.

O pedreiro Joaquim Ramos Teixeira, de 50 anos, foi acordado hoje, às 3h da manhã por uma vizinha alertando que era para todo mundo sair de casa porque a sirene da barragem da ArcelorMittal havia soado. "Moro com a minha mãe, que tem 100 anos e não consegue andar direito. Quando chegamos à rua, já encontramos policiais e os bombeiros. Um a pegou pela mão, outro por outra. Avisei que precisava pegar os remédios dela. O policial disse: é só isso e mais nada", relata o pedreiro.

Joaquim, a mãe, dona Isabel Ramos de Jesus, e mais de 200 pessoas foram levadas para um hotel na cidade vizinha de Itaúna. A grande maioria, apenas com a roupa do corpo. Há crianças e pelo menos uma grávida, além de idosos. Por volta do meio dia de hoje, o grupo ainda aguardava informações sobre o que poderia acontecer. Se voltariam ou não para casa ainda nesta sexta.

Outro pedreiro retirado de casa pelo risco de rompimento da barragem, Crispim Pereira, de 44 anos, afirma ter ficado com muito medo de acontecer mais uma tragédia com barragens em Minas. O pedreiro mora com a mulher e duas filhas, de dois e oito anos, a cerca de dois quilômetros da barragem. "Teve gente que saiu a pé, de bicicleta, do jeito que deu. É mais uma dessas barragens de Minas.

Silêncio

Um segurança colocado na entrada do hotel em Itaúna para o qual os moradores de Itatiaiuçu foram levados tentou impedir a reportagem de conversar com as pessoas retiradas de suas casas na cidade vizinha. Parte do grupo passou a manhã na entrada do edifício. Muitos se recusaram a falar com a reportagem mas não informaram se isso ocorreu a pedido da empresa. A ArcelorMittal foi contactada para se posicionar sobre possíveis orientações que possa ter repassado aos moradores de Itatiaiuçu para que não falem sobre o assunto.


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