Roda de conversa virtual debate o papel dos catadores na Semana Lixo Zero 2020

Roda de conversa virtual debate o papel dos catadores na Semana Lixo Zero 2020

Programação segue até 1º de novembro, com oficinas e palestras gratuitas


Christian Bueller

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A programação da Semana Lixo Zero Porto Alegre 2020 teve uma roda de conversa, transmitida on-line, nessa terça-feira. Com o tema “Agentes da Sustentabilidade, pessoas que ressignificam o lixo”, o encontro virtual abordou o papel dos catadores e a situação da atividade na Capital. Para isso, foram chamados nomes de pessoas que vivem a realidade dia a dia e trabalham ou promovem ações no setor.

Representando o Centro de Educação Ambiental (CEA) Bom Jesus, Luiz Henrique Medeiros lembrou que a cidade é uma referência quando o assunto é coleta seletiva, mas que precisa a voltar a fazer “coisas legais”. “Um dia já tivemos o Fórum Mundial Social. Precisamos retomar iniciativas como estas para termos um futuro socioambiental correto”, afirmou. Neto de Marli Medeiros, falecida líder comunitária e coordenadora do CEA que ganhou o título de Cidadã de Porto Alegre, em 2016, ele acredita na educação como força para um avanço no país. “Precisamos passar às crianças uma visão mais aguçada de mundo, não só sobre resíduo. Precisamos falar sobre a ideia de ambiente e a ideia de produto”, completou.

Sérgio Amaral, da Cooperativa de Transformação Socioambiental, também convidado do encontro, ficou surpreso com o parentesco de Henrique com Marli, que criou a Unidade de Triagem (UT) Vila Pinto, que possibilitou a geração de emprego e renda à comunidade com a comercialização dos resíduos recicláveis recebidos via coleta seletiva. “Que bom saber que recebeste a herança da dona Marli”, festejou. Amaral explicou o passo do trabalho desenvolvido na cooperativa. “A caliça representa 60% do resíduo sólido urbano. Nosso trabalho é conscientizar para que tragam para cá para que a gente transforme em produto que agregue valor. Depois vai chegar na indústria e, então, se tornar em outro produto na cadeia produtiva”, ressaltou.

Momento emocionante 

Um dos momentos mais emocionantes da roda de conversa foi a participação do catador de materiais recicláveis Antônio Papeleiro. Ele também trabalhou com Marli Medeiros. “A minha faculdade é o mundo, Marli me ensinou, ela ‘tá’ aqui no meu coração”, contou. Segundo ele, o galpão de uma cooperativa é essencial para que a atividade seja mais organizada. “Quando tu vê um papeleiro em um carrinho vazio, ele está triste. Se está carregado, ele vem rindo e cantando. O carrinheiro é um ambientalista, pois coleta uma garrafa plástica que entupiria o bueiro”, afirma. Ele pede que as pessoas separem melhor o lixo seco do orgânico e não misture vidro quebrado, que machuca as mãos dos papeleiros.

Diretamente de Minas Gerais, Juliana Gonçalves, do projeto Pimp My Carroça, enfatizou a importância do debate sobre a precarização do trabalho. “Temos que focar no direito ao trabalho, um dos pilares que defendemos. Não nos cabe falar qual a melhor forma de fazer a atividade. Eles trabalham com carrinhos que eles mesmos criaram, condicionam à sua condição física, levando centenas de quilos”. Lembrando os 3 R’s da Sustentabilidade (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), ela citou mais um. “Tem um R muito importante, a Resistência. Reciclagem não existe sem isso. É um processo humano. O resíduo é um detalhe, as pessoas mais importantes”.

Realizada pelo Instituto Lixo Zero Brasil e organizada pelos Coletivos de Embaixadores Voluntários, a Semana Lixo Zero Porto Alegre 2020 vai até 1º de novembro, com oficinas e palestras gratuitas e virtuais, disponíveis neste link.


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