Salas queimadas guardavam parte da história de Porto Alegre

Salas queimadas guardavam parte da história de Porto Alegre

Arquivos e documentos podem ter sido perdidos no incêndio no Mercado Público

Mauren Xavier / Correio do Povo

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Entre os espaços consumidos pelo fogo dentro do Mercado Público, dois em especial guardavam parte da história de Porto Alegre. Em uma das salas funcionava a sede do Projeto Monumenta - programa de recuperação do patrimônio cultural urbano, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Lá estavam arquivos, plantas e análises dos projetos que estavam em andamento e daqueles que já foram concluídos, inclusive do próprio Mercado Público e da Praça da Alfândega, recentemente entregue à população.

Muito emocionada, a arquiteta do projeto, Dóris de Oliveira, resumiu o momento de tristeza: “Participei do restauro do Mercado Público. É devastador ver as imagens. Nosso acesso só será liberado depois da perícia, mas pelas imagens e fotos, não sobrou nada”, comentou, compartilhando o sentimento com a responsável pelo projeto em Porto Alegre, Briane Bicca. A expectativa é recuperar parte das informações pelo backup. “O sentimento que reconforta agora é ver o carinho e a manifestação de apoio da população. Mostra o quanto o Mercado é importante para a cidade”, assinalou.

Outro espaço devastado pelo fogo foi o Memorial do Mercado, que também ficava no segundo pavimento, em frente à avenida Júlio de Castilhos. O local foi inaugurado em 1999 e reunia e preservava a história do Mercado Público Central, sendo referência aos seus visitantes. No espaço também eram promovidas exposições temáticas e ações educativas. Possuía um acervo documental, iconográfico, além de hemeroteca sobre a História do Mercado.

O Mercado Público

Inaugurado em outubro de 1869, o Mercado Público de Porto Alegre foi criado para abrigar o comércio de abastecimento da cidade. O local foi tombado como bem cultural em 1979 e passou por um processo de restauração entre os anos 1990 e 1997, o que garantiu ao lugar um espaço maior aos estabelecimentos comerciais, mas sempre manteve a concepção arquitetônica original.

O incêndio desse sábado não foi o primeiro enfrentado pelo Mercado Público. Em 1912, um sinistro destruiu os chalés internos. Em 1941, uma enchente atingiu o local e, 38 anos mais tarde, mais dois sinistros destruíram as dependências do estabelecimento que serve como cartão postal de Porto Alegre. O prédio chegou a ser ameaçado de demolição durante a administração de Telmo Thompson Flores. Na época, era cogitada a construção de uma avenida na área.

Na década de 90, quando passou por reforma, o Mercado Público recuperou a percepção visual das arcadas. O trabalho resgatou as circulações internas, criou novos espaços de convivência e implantou redes de infraestrutura compatíveis com o funcionamento do prédio. A nova cobertura que possibilitou a integração entre o térreo e o segundo pavimento.

No segundo pavimento, onde antes existiam escritórios e repartições públicas, diversos estabelecimentos como restaurantes e lancherias passaram ocupar o espaço e ganharam um lugar no Mercado Público.

Com nova infraestrutura, o cartão postal de Porto Alegre ganhou também um Memorial, além de duas escadas rolantes e dois elevadores. O custo da reforma ficou, na época, em R$ 9 milhões, sendo, 88% do orçamento da Prefeitura, e os demais 12% pelo Fundo Municipal do Mercado Público e doações diversas.

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