Sem caixa, aeroporto de Viracopos pede recuperação judicial para evitar perda de concessão

Sem caixa, aeroporto de Viracopos pede recuperação judicial para evitar perda de concessão

Duas das empresas concessionárias que administram o local estão envolvidas na Lava Jato

AE

Sem caixa, aeroporto de Viracopos pede recuperação judicial para evitar perda de concessão

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Quase um ano depois de tentar devolver a concessão ao governo federal, a empresa que administra o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, sucumbiu ao acúmulo de problemas e entrou com pedido de recuperação judicial, no domingo.

Com uma dívida de R$ 2,9 bilhões, sendo 93% em empréstimos e financiamentos, mais R$ 211 milhões de outorgas em atraso, a empresa tenta escapar do processo de caducidade, que extingue o contrato de concessão, aberto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Busca ainda pressionar o governo para uma decisão mais rápida sobre nova licitação do ativo.

O pedido de recuperação foi feito em nome de três empresas: Aeroportos Brasil, companhia formada pelo grupo privado UTC, Triunfo Participações e Investimentos (TPI) - ambas envolvidas na Operação Lava Jato - e a francesa Egis; Aeroportos Brasil Viracopos (ABV), concessionária que administra o ativo e inclui a participação da estatal Infraero; e Viracopos Estacionamentos, uma subsidiária da concessionária.

O colapso financeiro de Viracopos é resultado de um modelo de concessão amplamente criticado pelo mercado. "O foco era distorcido, muito mais voltado para a construção do que para a operação. As concessões atuais têm muito mais chance de sucesso", afirma o advogado Fernando Marcondes, sócio do escritório L.O. Baptista.

Viracopos foi licitada em 2012, durante o governo Dilma Rousseff. Foi arrematado por R$ 3,82 bilhões, com ágio de 159% e apostas num crescimento acelerado do volume de passageiros e carga. No meio do caminho, no entanto, o Brasil viveu a pior recessão da história, o que derrubou a demanda dos mercados.

No pedido de recuperação, feito na 8ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de Campinas, os advogados da concessionária afirmam que, no período de 2012 a 2017, "a frustração da demanda implicou perdas estimadas de receitas de embarque e desembarque da ordem de R$ 95 milhões e de receitas de carga da ordem de R$ 914 milhões". Mas, segundo fontes que conhecem bem o empreendimento, os problemas financeiros do aeroporto vão além da crise econômica nacional.

Controlado por construtoras (UTC e TPI, que também tem um braço de engenharia), as empresas investiram pesado - cerca de R$ 3 bilhões - na expansão do terminal. Ou seja, gastou-se mais na estrutura do que era necessário, enquanto a operação se mostrava deficitária, explicam fontes. Os advogados da empresa, no entanto, alegam que a recuperação judicial foi um caminho trilhado pelo agravamento da crise financeira da empresa diante da demora do governo federal para regulamentar a nova licitação do ativo enquanto o processo de caducidade da Anac avançava de forma rápida.

Mais de um ano depois de criada pelo governo, a devolução de concessões problemáticas para serem novamente leiloadas (como é o caso de Viracopos) ainda não saiu do papel. Segundo fontes do Planalto, o governo não consegue se entender quanto às regras para a devolução. O decreto que regulamentará esse mecanismo ainda não ficou pronto. No momento, ele se encontra em análise na Casa Civil - que, em tese, é a última etapa antes da edição. Mas não há previsão sobre quando o decreto será editado.

Compromissos

Sem caixa, Viracopos não vinha honrando os compromissos com à União e os problemas estavam se avolumando. Na semana passada, a Anac iniciou um processo de execução de garantias porque a concessionária não pagou uma multa de R$ 60 milhões referentes atrasos na entrega das obras em 2014. Além disso, na terça-feira que vem, vence a outorga variável de R$ 27 milhões sobre a receita do aeroporto, mas a concessionária não tem como pagar. Em julho, a empresa tem outros R$ 172 milhões para quitar com o governo, segundo informações da Anac.

Outro problema grave, informou a agência, é que a empresa não está conseguindo renovar o seguro garantia, o que torna a concessão ainda mais frágil e fortalece o processo de caducidade. O seguro vence dia 25 de maio, mas a seguradora já informou que não vai renovar - a carta com essa informação está na petição da recuperação judicial.

A situação do grupo ficou ainda mais delicada com a decisão de fornecedores do aeroporto de entrar na Justiça para pedir a falência da concessionária. Com a recuperação, a empresa evita a execução das garantias, a caducidade e a falência.

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