Usuários acolhidos no Centro de Atendimento Psicossocial participam de oficina de culinária

Usuários acolhidos no Centro de Atendimento Psicossocial participam de oficina de culinária

Alunos prepararam arroz de carreteiro de charque no Piquete dos Oliveiras, no Parque Harmonia

Felipe Samuel

Projeto ajuda na socialização dos usuários dos CAPs

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Usuários acolhidos no Centro de Atendimento Psicossocial (CAP) Girassol, de Porto Alegre, participaram nesta terça-feira de uma oficina culinária no Acampamento Farroupilha. Como parte do processo terapêutico e de reintegração ao mercado de trabalho, os alunos - a maioria acolhida no CAP por situação de vulnerabilidade social ou pela necessidade de tratamento psicológico contra o uso de álcool e drogas - prepararam um arroz de carreteiro de charque sob a orientação de Marco Aurélio Moreira Bica.

Responsável por atender às regiões da Restinga e Extremo Sul, o CAP Girassol realiza a oficina de culinária pelo terceiro ano seguido. Desta vez, Bica decidiu levar os usuários para conhecer o Parque Harmonia e ter contato com o tradicionalismo gaúcho. “Sempre trabalhamos com uma temática. Trabalhamos com geração de trabalho e renda com temas específicos, como a Semana da Consciência Negra, Semana da Mulher. Então a gente sempre faz um prato específico”, explica. O projeto conta com a parceria do Piquete dos Oliveiras, onde o prato foi preparado.

“A gente transferiu nossa oficina do CAP para cá para eles conhecerem um pouco da história”, afirma. Conforme Bica, a oficina visa estimular os alunos a abrirem o próprio negócio. “Cheguei a contar com até 35 alunos dentro da sala de aula para ensinar culinária. É muito gratificante para nós esse momento, de estarmos com eles no dia a dia. Fruto disso que alguns dos meus alunos já montaram seu empreendimento”, garante. Os cinco usuários que participaram do curso não escondiam a alegria e o entusiasmo durante a produção do prato.

Na semana passada, outro grupo já havia participado de oficina semelhante no Parque Harmonia. “Quando vejo os meus os meus alunos mexerem numa panela, fazendo um alimento, preparando com muito carinho, com muito amor, tu vê que ali também se trata de uma questão de expor a sua vida, de falar um pouco da sua dificuldade, de agregação, de reconciliação, de unidade”, completa. Um usuário de 27 anos disse que a experiência no CAP mudou a sua vida.

“Eu estava na vida perdida. Se não fosse eles eu já estaria até morto, porque todo dia bebia até cair no chão, dormia na rua, usava drogas, vendia minhas roupa para usar drogas. E agora estou um mês limpo, larguei até umas amizades erradas que eu andava”, afirma. É a primeira vez que ele participa do Acampamento Farroupilha. “Não tem prato melhor. Carreteiro é a coisa mais simples de fazer, mas fazemos qualquer prato. É uma terapia para a mente, para não ficar com a mente vazia e pensar besteira”, completa.

A coordenadora do CAP Restinga, Rita Cássia Spengler, afirma que o projeto ajuda na socialização dos usuários. “É de extrema importância que eles saiam também do CAPs e tenham a oportunidade de conviver com as demais pessoas e circular em outros ambientes”, explica. Segundo Rita, atividades lúdicas e culturais também precisam ser realizadas fora da entidade. “O tratamento não é só dentro do CAP, também se dá fora do espaço de trabalho. É basicamente isso, é uma oportunidade única para eles estarem aqui e poder participar dessas atividades na comunidade”, reforça.

Patrão benemérito do Piquete dos Oliveiras, José Antônio Corrêa de Oliveira, 62, afirma que os trabalhos sociais sempre fizeram parte da história da família. Oliveira destaca a parceria com o IBSaúde, organização social que faz gestão de unidades de Saúde em todo o Estado. Ao receber os usuários, Oliveira contou que o piquete foi fundado em 10 de agosto de 2014 em homenagem a seu pai, Hélio Antônio de Oliveira. “Sempre fazemos trabalhos sociais. E foi quando surgiu a ideia através do IBSaúde, que faz um trabalho social muito legal, de fazer uma parceria de trazer para dentro do Parque Harmonia, na Semana Farroupilha, para fazer atividades lúdicas e pedagógicas e de socialização dessas pessoas”, ressalta.


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