Seminário discute realidade do Presídio Central

Seminário discute realidade do Presídio Central

Evento promovido pela Ajuris ouviu advogados, convidados e detentos

Mauren Xavier / Correio do Povo

Casa prisional conta com 4.379 presos, mais que o dobro da capacidade

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A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), promoveu o seminário "O Presídio Central e a realidade prisional" na manhã desta quinta-feira, com o objetivo de viabilizar um debate sobre como é a vida dentro do maior presídio do Estado.

A população carcerária na instituição é de 4.379, mais do que o dobro da capacidade indicada, de 2.069 detentos. As constantes adaptações feitas para ampliar o número de vagas e a falta de conservação fizeram com que o Central recebesse um alerta. Segundo o juiz da Vara de execuções Criminais de Porto Alegre, Sidinei Brzuska, o presídio se tornou uma verdadeira escola para a formação de criminosos. “Ele é um elemento da criminalidade”, disse, pouco antes da sua manifestação no seminário.

Um dos diferenciais do evento é ter ocorrido dentro do auditório do presídio, em um espaço totalmente ocupado, reunindo advogados, convidados, jornalistas e apenados. Segundo o diretor do Central, tenente-coronel Leandro Santini Santiago, essa foi a maneira mais democrática que se encontrou para falar do assunto. “Esse é o ambiente mais próximo da realidade e, ao mesmo tempo, permite que os detentos possam participar”, afirmou ele, no início do encontro.

Os apenados também tiveram espaço para contar sua versão dos fatos. Sem deixar de reconhecer que estão lá em função de atos errados, eles utilizaram o encontro para dizer como é a vida por trás dos muros do presídio. “Estamos aqui porque quando erramos a Justiça foi rápida para nos condenar e colocar aqui dentro, mas é lenta e morosa para nos tirar daqui”, desabafou Jorge Luis Gomes, que cumpre pena há 18 anos no local.

Sozinho e contra o sistema, o apenado conseguiu concluir os ensinos fundamental e médio na unidade, mas não conseguiu o direto de tentar disputar uma vaga na faculdade. “Disse para a minha mãe, vou estudar e entrar em uma quadrilha melhor: serei advogado”, disse ele, em tom sarcástico. Ele disse ter medo do momento de sair, o que deverá ocorrer em dois anos. “Estarei velho, doente e fora da realidade”, afirmou, sem deixar de criticar o sistema. “Se fossem construídas mais escolas, não seriam necessários presídios. Se as oportunidades fossem maiores, as pessoas não iam querer entrar no mundo do crime”, concluiu, sendo aplaudido.

Em seguida, foi a vez do preso Vinicius Manoel Marques se manifestar. Segundo ele, todos que estão dentro do presídio estão morrendo, perdendo famílias e a vida. Como caminho para solucionar o problema, foi enfático: "É preciso ajuda para se romper esse círculo vicioso, em que os detentos não têm direito à nada”, afirmou.

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