Sociedade Floresta Aurora muda de endereço
Pressão imobiliária leva entidade representativa da comunidade negra a buscar nova sede
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Fundada por negros forros para ser entidade para arrecadar fundos para o caso de óbitos, a Floresta Aurora tinha como uma das primeiras lideranças a escrava Maria Chiquinha. Ela organizava reuniões no bairro Floresta, nas proximidades da rua Aurora, hoje Barros Cassal.
A entidade passou, depois, pela José do Patrocínio e Lima e Silva, na Cidade Baixa, e ficou durante muito tempo na Curupaiti, bairro Cristal. Para dar lugar a um condomínio residencial, o clube deixou esta sede em 1998 e se instalou na Coronel Marcos, 527, área extensa com saída para o Guaíba, em ponto onde outros clubes também estão. Ali ficará até junho, quando terá de ir para nova sede.
A presidente da entidade, Maria Eunice da Silva, explicou que não teve outra alternativa, senão a mudança. Com certa resignação, disse que a Floresta Aurora vinha sendo pressionada a fazer isolamento acústico ou sair do local por moradores de um condomínio lindeiro ao clube, construído anos depois de a entidade se instalar naquele local. Eunice revelou que o clube foi multado devido ao barulho em uma festa de réveillon e por duas reincidências, em valor correspondente a R$ 104 mil. Segundo ela, outros clubes da região também estariam sofrendo restrições, mas nenhuma na forma como ocorreu com a Floresta Aurora.
Os recursos da entidade se originam da mensalidade dos cerca de 4 mil associados e aluguel da sede. E são insuficientes para quitar a dívida e fazer o isolamento acústico, argumentou a presidente. Ela pagou com recursos próprios os R$ 104 mil e teve que optar pela venda do local, para reaver o dinheiro e deixar a entidade sem dívidas.
A saída foi fazer a permuta da atual sede com uma nova, no bairro Belém Velho, cujo endereço ela não revelou. Trata-se de área também com piscina e instalações para os eventos do clube. Além da troca das sedes, o novo proprietário da área da Coronel Marcos dará uma compensação financeira ao Floresta, suficiente para quitar suas dívidas.
A presidente da Sociedade Floresta Aurora atribuiu a pressão ao poder econômico. E disse também ter identificado preconceito racial no episódio. "Mas essa era a alternativa, já que qualquer evento incomodava os moradores", concluiu.