Trabalhadores autônomos da Capital ficam sem perspectiva de trabalho diante de pandemia de Covid-19

Trabalhadores autônomos da Capital ficam sem perspectiva de trabalho diante de pandemia de Covid-19

Com ruas vazias, comércio fechado e auxílio apenas emergencial, população teme que cenário social piore

Eduardo Amaral

Célia Regina Oliveira Alves disse que não recebeu nenhuma orientação sobre auxílios sociais do governo

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A pandemia do novo coronavírus trouxe  tona as falhas nas políticas de assistência social dos governos municipais, estaduais e federais. Desde que as medidas de isolamento precisaram ser tomadas as ruas de Porto Alegre começaram a ter uma presença maior de pessoas em vulnerabilidade social, que fazem dos bancos e calçadas suas camas. Mas o fechamento de comércios também gera problemas para quem depende do movimento para tirar seu sustento.

É o caso de catadores de papel como Célia Regina Oliveira Alves, 47 anos, e Bruno Damião Coelho, 30 anos. O casal vive em uma pensão no Centro de Porto Alegre cuja a diária é de R$ 15. Cerca de 11 meses atrás, bem antes do novo coronavírus chegar à Capital, eles moravam nas ruas, mas contam que foram pelo poder público sem qualquer orientação ou auxílio. “Não só tiraram a gente da rua, botaram a gente para correr a Brigada com os fiscais da prefeitura”, conta Célia.

Grávida de três meses, ela diz que desde que as medidas de isolamento iniciaram a situação piorou, e foi preciso começar a pedir dinheiro na rua para buscar a sobrevivência. Ela relata que por parte do governo pouco foi feito para ajudar. “Cesta básica eu não ganhei ainda do governo, o que me deram veio dos clientes do mercado”, disse. A falta de informação faz ela esquecer que há uma forma de buscar assistência. “Não ganhei nada do município, para mim isso (assistência) nem existe.””

Damião demonstra pouca esperança em ver um quadro melhor nos próximos meses. “Se for esperar que eles façam alguma coisa a gente vai ficar a nada, nem conheço essa gente. A única ajuda que tenho são meus braços, minhas mãos e meu carrinho.” Antes da pandemia, ele conseguia encher o carro com material reciclável, o que lhe rendia até R$ 60 no dia. Porém, desde que o comércio fechou o valor caiu bastante, tendo dias em que eles conseguem apenas R$ 25. Os dois se cadastraram para receber o auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo federal, mas sabem que mesmo esse dinheiro é um alívio momentâneo. “Depois de um tempo o dinheiro acaba e daí?”

A situação também é delicada para quem vive da venda de produtos nas calçadas do Centro da cidade, como Celso Martins, 63 anos. Ex-representante comercial de revistas, ele viu o trabalho esvair após a morte do dono da empresa . Há dois anos ele tira seu sustento da venda de cadarços, carregadores de celular e outros produtos que deixa à mostra nas calçadas. Desde o começo da pandemia, ele tem encontrado dificuldade não apenas para conseguir os cerca de R$ 120 diários que ganhava da venda destes materiais, como também para achar o que vender. “Tá difícil achar produto, e as vendas caíram muito, hoje eu consigo tirar uns R$ 60 por dia.” 

Com as ruas vazias, os clientes sumiram, o dinheiro ficou escasso e ajuda do governo não apareceu. Mesmo estando sempre nos mesmos pontos da cidade, ele diz que nenhum representante do governo o procurou para informar sobre as possibilidades de auxílio ou albergagem. E assim ele segue tentando fazer vender os poucos produtos que ainda tem aos poucos clientes que ainda circulam na cidade.


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