Trator foi usado na tentativa de resgate de militar na Antártica

Trator foi usado na tentativa de resgate de militar na Antártica

Funcionário da base brasileira disse que procedimentos foram tomados e cada um fez o que foi treinado para fazer

AE

Trator foi usado na tentativa de resgate de militar na Antártica

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Até um trator foi usado por militares na tentativa de resgate do suboficial e do primeiro-sargento que morreram lutando contra o fogo na casa de máquinas da Estação Antártica Comandante Ferraz. "Tentamos destruir anteparos da estação, mas a estrutura foi resistente, mesmo usando o maior dos nossos tratores. A gente combateu com força e suor, mas não foi possível", lamentou o tenente Pablo Tinoco, de 25 anos, ao desembarcar na madrugada de^sta segunda-feira na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, junto com outros 40 resgatados.

Funcionário do Arsenal de Marinha responsável pela equipe de manutenção e reparo na base, ele afirmou que os dois militares mortos usavam roupas adequadas, máscaras, galões de oxigênio e estavam com cordas amarradas no corpo, procedimento de segurança para serem puxados em caso de emergência. "Todos estavam preparados. No caso dos dois, como iam entrar, a roupa era diferenciada. Os procedimentos foram tomados. Cada um estava fazendo o que foi treinado para fazer. Ninguém tomou atitude insensata, que não tivesse sido delegada. Fizemos o que foi possível", declarou, emocionado. Segundo o tenente, a busca durou 9 horas.

"Depois que os dois demoraram a voltar, três tentaram entrar, mas a temperatura era alta demais. Quando o segundo tentou ir se arrastando, o comando determinou que não continuasse. Então o terceiro homem se agachou, o pegou pelo pé e o trouxe de volta. Verificou-se que não havia segurança. Ninguém passou do limite". Tinoco elogiou muito o apoio de pesquisadores. "Na tentativa desesperada de captar água do lago para acabar com o incêndio, tivemos hipotermia. Foram os civis que ajudaram a sanar a hipotermia de um militar e as queimaduras do nosso amigo, o primeiro sargento Luciano Gomes Medeiros (que ficou ferido no incêndio)".

Havia 3 comandantes, 10 praças e um alpinista que é policial militar no Estado de São Paulo atuando no resgate das vítimas. "Eles honraram com a própria vida, com esforço e dedicação, para que fosse feito o melhor. O resultado não mostra isso. Somente nós, que presenciamos, temos certeza. São homens que entrarão para a história, pelo menos nas vidas de quem estava lá", disse o tenente, que pretende voltar a trabalhar na base. "Sei o que é necessário para começar a nossa reforma. Está muito cedo para dizer quando, mas eu sei o que e como fazer. Vamos ter de recomeçar do zero".

Tinoco trabalhava na base havia 3 meses. Estava no computador, em sua sala de trabalho, quando o fogo começou. Percebeu a correria e foi até o local. Ele agradeceu o apoio recebido de militares chilenos, argentinos e poloneses após o incêndio. "Apesar da ideia fixa de que já tínhamos perdido homens e que nosso trabalho não tinha sido 100%, não paramos em momento nenhum. Fizemos o máximo para que tragédia não se tornasse pior".

Segundo o ministro da Defesa, Celso Amorim, que recepcionou o grupo de 41 pessoas que chegou ao Rio na madrugada de hoje, os corpos do suboficial Carlos Alberto Figueiredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos devem chegar à cidade amanhã. Tinoco conta que Santos tirava muitas fotos da estação, era fascinado por fotografia, e que a preferida era uma da família. Eles sempre almoçavam e jogavam bola juntos. "Ele era flamenguista doente, como eu". Era a terceira viagem do militar à Antártida. "O Figueiredo era mais fechado, mas isso não significa que não participava do grupo. Eles foram a minha família nos últimos meses".

Chegaram ao Rio na madrugada de hoje 26 pesquisadores, 12 servidores do Arsenal de Marinha, um alpinista, um funcionário do Ministério do Meio Ambiente e o militar ferido, com as mãos enfaixadas, que foi conduzido de cadeira de rodas do avião da FAB para uma ambulância, e seria levado para o hospital naval Marcílio Dias. "Foi muito traumatizante", resumiu a pesquisadora Teresinha Absher, bióloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que realizava pesquisas na estação há 20 anos.


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