Usuários criticam pichações e ação de vândalos em viadutos e terminais de ônibus

Usuários criticam pichações e ação de vândalos em viadutos e terminais de ônibus

Passageiros também relatam iluminação precária, sujeira e insegurança

Felipe Samuel

No viaduto Jayme Caetano Brum, um morador em situação de rua dormia em um colchão colocado no terminal

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A falta de manutenção de terminais de ônibus e dos principais viadutos de Porto Alegre é um problema recorrente. Ano após ano, os usuários se deparam com o mesmo cenário: estruturas danificadas, pichações, sujeira, escadas rolantes e elevadores inoperantes, iluminação precária e insegurança. A ausência de fiscalização e de cuidado com essas estruturas, que na maioria das vezes são alvo de vândalos, mantém uma triste rotina de descaso do poder público com a população. 

A sujeira e a falta de conservação do viaduto José Eduardo Utzig — localizado na avenida Benjamin Constant com a avenida Dom Pedro II —, no bairro São João, simboliza o descaso de diversas gestões com os usuários de transporte público. As pichações estão espalhadas por toda a estrutura de dois andares. A maioria dos passageiros opta por utilizar a escada ao invés do elevador. E há motivos de sobra para isso: quem acessa o elevador precisa de coragem para encarar o cheiro insuportável de urina impregnado - além da sujeira acumulada e das pichações. 

O piso de metal também apresenta sinais de ferrugem. A escada rolante que leva ao segundo andar do viaduto estava em manutenção. No terminal, as estruturas de ferro estão danificadas e em péssimas condições de conservação. O frentista Eduardo Lima Machado, 53, acessa o terminal do viaduto Utzig há cerca de seis meses para se deslocar ao trabalho. Em meio à sujeira, ele observa o trabalho de um funcionário que conserta a escada rolante. 

Ele critica o descaso do poder público e a falta de higiene e manutenção. Isso aqui está bem sujo. É uma falta de consideração com a população", afirma. "Não tenho nenhum elogio para fazer sobre isso aqui", completa. As pichações e o lixo acumulados formam um cenário de abandono e melancolia durante o dia. Como se tivessem querendo fugir de um ambiente hostil, muitos usuários apertam o passo em direção ao terminal e aguardam ansioso pelo próximo ônibus. 

À noite, os problemas se agravam. "À noite isso aqui é bem escuro, causa bastante insegurança. A iluminação é precária", destaca Machado. Mesmo com elevador funcionando, ele prefere utilizar a escada. "Nunca usei o elevador, porque eu não sei como é aquilo ali, se vai parar no meio do caminho", frisa. No viaduto Jayme Caetano Brum, localizado no cruzamento das avenidas Nilo Peçanha com Carlos Gomes, o cenário também é de abandono. Uma parte do terminal que foi incendiado mantém uma triste herança: um buraco na estrutura que protege os usuários do frio e de dias chuvosos.

A empregada doméstica Josemara Arnort Oliveira da Silva, 39, critica a falta de manutenção da estrutura. "O terminal é horrível. E os ônibus também. É um desleixo tão grande que chega a desanimar a gente muitas vezes. O desleixo é tamanho que parece que é um lugar sem lei, sem ninguém para mandar, pra governar, pra nada", desabafa, enquanto um morador em situação de rua dormia em um colchão instalado no terminal. "Tem bastante lixo e pessoas dormindo nos terminais. É só os governantes darem uma olhadinha aqui nos terminais que eles veem tudo", sugere.

À noite, a iluminação precária gera um clima de insegurança entre os usuários. "A iluminação é horrível, é tudo escuro, é um breu. Tem que sair escondendo tudo, com medo de tudo. Isso gera bastante insegurança, pois uma amiga minha já foi assaltada aqui. Levaram celular, a bolsa, o pagamento dela", revela. "Não tem segurança, tu fica cuidando o tempo todo. Não tem paz consigo mesmo de chegar na parada, sentar, relaxar e esperar o ônibus. Tem sempre que estar com uma atenção muito grande, tanto de dia quanto de noite", observa. Os elevadores, apesar de deteriorados, estavam em funcionamento.

No viaduto Jorge Alberto Mendes Ribeiro, localizado nas avenidas Carlos Gomes, Protásio Alves e Tarso Dutra, uma parte do telhado não foi reposta e as escadas rolantes estão desativadas. Além do péssimo estado de conservação, os equipamentos acumulam sujeira. Apenas um elevador está funcionando. A auxiliar de limpeza Bety Rosangela Soares Medeiros, 47, não se surpreende mais com o cenário de abandono do local. Três vezes por semana ela utiliza o terminal para pegar a condução para o trabalho. "Sempre foi asssim, sujo, com escada e elevador inoperantes", revela. "Hoje até está mais limpo, porque tem vezes que está demais", ironiza. 


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