Veículos depenados e placas misteriosas: o clima hostil do Parque Chico Mendes

Veículos depenados e placas misteriosas: o clima hostil do Parque Chico Mendes

Cenas poderiam ser usadas em um set de filme de terror, mas pertencem a uma conhecida área de lazer de Porto Alegre

Correio do Povo

No local, cemitério clandestino esconde carcaças de carros e motos

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O parque que faz parte da rotina de cerca de 200 mil pessoas, e deveria ser propício para a diversão de crianças e encontro de famílias, tem, na verdade, clima pesado e hostil. Fixada a uma das tantas árvores que compõem a paisagem, uma cruz formada por madeiras pregadas se destaca na visão de quem passa. Ao lado, uma placa promete ajudar “mães que não têm condições de criar seus filhos”, informando um número de telefone. “Assinado: um anjo que morreu aqui”, completa mensagem misteriosa. A cena macabra não termina por aí. Crânio de bichos, muito lixo e, no meio do mato, quase que invisível para quem passa, um verdadeiro cemitério de veículos com carros e motos abandonadas se revela. O cenário descrito poderia ser o de um set de filme de terror, mas é a realidade do Parque Chico Mendes, localizado entre os bairros Jardim Leopoldina e Mário Quintana, na zona Norte de Porto Alegre.

Na tarde de sexta-feira, o Correio do Povo esteve no parque e registrou a presença quatro carros abandonados – dois Volkswagen Gol, um Renault Clio e um Fiat Uno Mile – e o esqueleto de duas motos no local. Nesta segunda, a Brigada confirmou que encontrou três veículos e um chassi de motocicleta. O 20º Batalhão de Polícia Militar, que faz o policiamento da região, trabalha na remoção dos veículos. Três deles foram confirmados como roubados. “O gol vermelho e um fiat uno azul, foram roubados em maio. A moto encontrada foi roubada em janeiro de 2021”, confirmou o comandante do Batalhão, tenente-coronel Peiter. A polícia ainda não identificou os outros dois automóveis.

“Os vidros estão quebrados, os carros depenados, isso dificulta a identificação”, afirma Peiter. Segundo ele, a Brigada Militar realiza rondas constantes no parque, mas isso não impede a ação dos criminosos. “Eles têm olheiros para poderem realizar os crimes. Quando uma viatura entra no perímetro já estão sabendo”, explica. Diversos aspectos são empecilho para a elucidação do caso. “As pessoas têm medo e também é uma área muito grande, de muito mato”, ressalta Peiter. Nesta quarta-feira, o 20º BPM informou que estava retirando as carcaças de veículos do local. O caso agora vai para 18ª Delegacia de Polícia Civil.

Questionada sobre a situação, a Guarda Municipal informou que efetua rondas no local com o objetivo de proteger o patrimônio e equipamentos do Parque Chico Mendes, cuja gestão é do município. “Vamos aumentar esses patrulhamentos e consequentemente aumentar a presença, e também estender mais a vigilância na área interna do parque. Estes descartes devem ocorrer em horários onde não há movimentação de pessoas”, comentou o comandante da Guarda Municipal, Marcelo do Nascimento.

Nos fundos do parque, em meio ao mato fechado, uma mensagem intrigante. Foto: Matheus Piccini

Placa misteriosa

A cena descrita acima foi encontrada próximo à rua Alceri García Flôres, nos fundos do parque, na região menos frequentada do local e formada principalmente por mato fechado. Em uma árvore, uma placa traz a seguinte mensagem: “Se você não tem condições de criar m recém-nascido, ligue: doações”. Em seguida, informa um número de telefone. Numa tentativa de entender e solucionar o mistério, a reportagem descobriu que o contato é do setor de protocolo da Secretaria de Justiça e Sistema Penal e Socioeducativo, antiga pasta dos Direitos Humanos. Questionada, a assessoria de comunicação da Secretaria informou que desconhecia a placa e que não recebeu ligações referentes à mensagem anexada no Parque Chico Mendes.

Em frente ao parque, uma senhora varria o pátio de sua casa no final da semana passada. Sobre roubo de carros, assaltos ou qualquer outro percalço que possa ocorrer na região, ela diz desconhecer. “Fecho as portas e janelas, ligo a TV, não vejo nada e não ouço nada”, comenta ela sem se identificar. Com o vizinho ao lado as respostas são semelhantes. Quem frequenta o parque também não prefere falar sobre as cruzes ou sobre as placas.


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