Venezuelanos cumprem trâmites burocráticos e iniciam nova vida em Esteio

Venezuelanos cumprem trâmites burocráticos e iniciam nova vida em Esteio

Maior desafio é a busca por um emprego em uma região que estão conhecendo agora

Henrique Massaro

Venezuelanos em Esteio

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A sexta-feira, dia 7 de setembro, será o primeiro grande dia das novas vidas dos 125 venezuelanos que chegaram a Esteio na noite de terça-feira. Depois de dormir a primeira noite em solo gaúcho, o grupo, formado por homens dos 18 aos 60 anos, passou a manhã de quinta-feira sendo recepcionado pelo município e se cadastrando aos serviços básicos de Saúde e Assistência Social. Devidamente fixados no Brasil, novos desafios começam, como a busca por um emprego.

No próximo dia 13, o outro abrigo do município recebe 96 pessoas, grupo formado por mulheres e famílias. Os venezuelanos precisam buscar as oportunidades de emprego no Brasil. O desafio é grande, mas é apenas mais um na vida dos estrangeiros que colecionam histórias de superação desde a saída da terra natal. Em muitos casos, mais do que pedir uma chance, os imigrantes sentem que têm a contribuir no novo lar.



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“Tenho muito boas ideias para cá”, afirmou Manuel Barreto, de 27 anos, que é formado em Engenharia Civil na Venezuela e precisou parar de exercer sua profissão. Com a morte precoce do pai, Barreto começou cedo no trabalho e, conta, chegou a ser o responsável por uma construtora mesmo antes de terminar a faculdade. Ele comenta que a crise em seu país, primeiramente, afetou de maneira significativa a área de infraestrutura, o que acarretou na decaída de seu negócio entre 2009 e 2010.

Em seguida, relata, abriu uma nova empresa, desta vez de compra e venda de verduras. Algo fora de sua profissão, mas que lhe levou a ter três lojas. O ramo da alimentação, de acordo com o venezuelano, acabou sendo muito impactado pela economia e os estabelecimentos fecharam em 2015.

A partir de então, ele circulou entre trabalhos com serviços gerais, até decidir ir embora de sua cidade, Maturín, capital do estado de Monagas. Deixou o filho Dehiner, hoje com 3 anos, com sua ex-esposa e foi para Roraima. Conta que caminhou sete dias até chegar, no dia 8 de maio, no estado brasileiro.


Venezuelanos fizeram registros oficiais para poder trabalhar no Brasil - Foto: Guilherme Testa

Dois dias depois, se transferiu para o abrigo Santa Tereza, em Boa Vista, onde ficou até chegar em Esteio. No município gaúcho, disse ter sido bem recebido, se agradado do clima mais ameno do que o da região norte do país e que começaria a busca por emprego hoje mesmo.

Quem também precisou caminhar muito pela nova vida foi Omar Contrera. Motorista e auxiliar de uma oficina mecânica, ele conseguiu sair da capital Caracas apenas com o dinheiro obtido através da venda de um telefone celular. Dali, se dirigiu para Santa Elena de Uairén, próximo à fonteira com o Brasil, e andou por cinco dias seguidos até chegar em Boa Vista. No norte do país, a vida também não foi fácil, pois, conta, acabava sendo confundido com criminosos. Certa vez, enquanto cuidava de carros próximos a um banco, uma mulher que saía com seu veículo quase o atropelou.

Na Venezuela, Contrera deixou os filhos Luís Carlos e Arcangel Josué, de 9 e 10 anos, com a mãe dos meninos, sua ex-mulher. A crise no país, que, segundo ele, começou a ser sentida já em 2003 e se intensificou nos últimos anos, faz com que o imigrante de 36 anos sequer cogite retornar. “Se eu volto, meus filhos morrem”, chega a dizer, ao falar da dificuldade que seria conseguir remuneração suficiente para alimentá-los.

Seu principal objetivo, como o da maioria, é arranjar logo um emprego e conseguir enviar dinheiro à família. No grupo, há profissionais de diversas áreas. Advogados, cozinheiros, padeiros, seguranças, soldadores, carpinteiros, pedreiros e vendedores são algumas das profissões.  

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