Virologista enaltece colaboração das universidades no enfrentamento da pandemia

Virologista enaltece colaboração das universidades no enfrentamento da pandemia

Fernando Spilki reconheceu trabalho em conjunto da ciência e da população em geral

Felipe Faleiro

Pandemia vem arrefecendo em Porto Alegre

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A pandemia em curso desde o começo de 2020 trouxe inúmeros desafios, e neste Dia Mundial da Saúde, os mesmos foram potencializados. A ciência e a população em geral, podem tirar importantes lições das situações advindas da Covid-19, afirma o virologista, pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão da Universidade Feevale e Coordenador da Rede Corona-ômica BR, Fernando Spilki. “Temos que criar sistemas cada vez mais robustos de vigilância de novas doenças e diagnóstico, para poder enfrentar novas pandemias”, salienta ele.

A universidade sediada em Novo Hamburgo, na região Metropolitana, tem sido um dos principais locais do país na detecção da prevalência da Covid-19 em amostras sequenciadas do vírus causador da doença, por meio de seu Laboratório de Microbiologia Molecular, e em parceria com a Rede Corona-Ômica. Na visão de Spilki, depois destes dois anos de enfrentamento, esta colaboração, especialmente no ambiente acadêmico, fez e está fazendo a diferença no sentido de produzir conhecimento praticamente em tempo real sobre a doença e seus avanços, assim como as variações do vírus causador, o SARS-CoV-2.

“Temos de ter uma atenção mais perene neste tipo de investimento de vigilância nelas, para poder acompanhar isto”. As vacinas, também produzidas praticamente em tempo recorde, são vistas como prodígios de uma “ciência de ponta”, segundo ele. “Sem a adoção de estratégias de geração de novas vacinas, estudo da doença e acompanhamento da própria evolução do vírus, não teríamos chegado até aqui. Em muitos casos, não só foram usadas soluções avançadas, mas também criadas novas ferramentas”, afirma o virologista.

O poder público, de acordo com ele, precisou exercer o papel de “amortecedor de pressões em diferentes setores”. “É compreensível, portanto, que em muitos momentos tenha-se optado por liberações e flexibilizações até adiantadas em relação ao que seria o recomendável”. Spilki prossegue, afirmando que no Brasil e em grande parte do Ocidente, as medidas optadas foram mais brandas, e com perfil mais alongado de adoção e posterior flexibilização mais precoce. É diferente, por exemplo, do que foi feito nos países asiáticos ou em países como Austrália e Nova Zelândia, que optaram, nas palavras dele, por “medidas mais radicais, adotadas em curto período, e com resultados evidentemente muito melhores, mesmo no período pré-vacinas”.

O informe mais recente, do final de março, mostrou que a variante ômicron era a predominante de maneira global, representando 100% das amostras coletadas em 13 municípios do Rio Grande do Sul. A tendência já estava sendo observada desde o último mês de janeiro. Nos últimos dias, uma nova onda da Covid-19 está causando lockdown severo na China, com 37 milhões de pessoas em isolamento compulsório na região de Pequim. Outra recém-descoberta, chamada por enquanto de XE, foi encontrada no Reino Unido, e que recombina duas cepas da ômicron, com potencial de ser ainda mais transmissível do que as atuais em circulação.

“É impossível prever as modificações. Felizmente, a maioria das mutações que ocorrem podem incidir inicialmente na geração de novos surtos. Por enquanto, elas estão no espectro onde, por exemplo, novas podem ser desenhadas para uma proteção mais alta em relação aos vírus que vão surgindo. No entanto, um vírus não vai parar de evoluir, especialmente enquanto tivermos um número de casos tão grande”, especifica Spilki. De acordo com ele, na China são detectados 13 mil casos em uma semana, e os lockdowns são pontuais e setoriais. “No Brasil, por exemplo, neste momento de baixa alentadora dos casos, tivemos 17 mil casos na semana passada e não temos mais praticamente nenhuma medida”.

Cremers destaca orgulho dos médicos em meio à pandemia

“Uma vida rica e repleta só é completa com a saúde”, nas palavras do primeiro-secretário do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), André Cecchini. De acordo com ele, a pandemia da Covid-19 também fez a população em geral repensar e redescobrir a importância da saúde no dia a dia, no sentido em que a mesma colocou em xeque a própria sobrevivência das pessoas. “Temos que lembrar dos dois últimos anos em que a gente perdeu tantos amigos, colegas, e celebrar a saúde, que é nosso bem maior”.

A fala de Cecchini vem ao encontro da lembrança do Dia Mundial da Saúde, comemorado nesta quinta-feira, e que busca ressaltar a importância de hábitos saudáveis, mais do que apenas a remediação das doenças. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que saúde é o bem-estar biopsicossocial. Hoje, o conceito de saúde não é somente não ter doença. Mas termos também uma situação psicológica de qualidade. O meio em que a gente vive interfere na nossa saúde física e mental”, comenta ele.

Conforme o primeiro-secretário do Cremers, a pandemia, mais do que apenas proporcionar um aumento da rede clínica, com leitos e equipamentos e melhor qualificação dos profissionais de saúde, trouxe uma reinvenção da medicina. “Apesar das dificuldades que encontramos, os médicos tiveram de se reinventar. Nós, aqui no Rio Grande do Sul, também tivemos de aprender com o carro andando. Aprender a tratar uma doença que ninguém conhecia, que era desconhecida para nós, e por vezes arriscada, que colocou a nossa vida em risco”, comenta ele.

“Mas enfrentando esta doença, descobrimos que somos capazes, e redescobrimos a importância do médico em um período de crise. O grande ensinamento é que a saúde é o mais importante e os médicos são fundamentais neste momento. A humanidade, de uma maneira geral, desenvolveu vacinas em um espaço recorde, um, dois anos, que estão debelando a pandemia”, reforça ele, que também é neurocirurgião. Ele afirma que a entidade se sente “orgulhosa do grupo de médicos”.

“Nossa categoria enfrentou a pandemia de peito aberto, com coragem, em momentos muito difíceis. Houve momentos de insegurança, incertezas, dúvidas, e neles, o nosso médico estava ao lado do paciente, atuando, salvando vidas. E consolando os pacientes neste momento tão difícil”.


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