Último reduto do Estado Islâmico na Síria é alvo de intensos bombardeios

Último reduto do Estado Islâmico na Síria é alvo de intensos bombardeios

Forças curdo-árabes procuram dar o golpe final ao "califado"

AFP

Depois de um ataque aéreo, um depósito subterrâneo de munição explodiu, causando deflagrações como fogos de artifício

publicidade

As forças curdo-árabes apoiadas pela coalizão internacional liderada pelos EUA despejaram, neste domingo (3), um dilúvio de fogo no último reduto do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria, procurando dar o golpe final a seu "califado". Após a evacuação de milhares de civis nos últimos dias, as Forças Democráticas Sírias (FDS) lançaram na sexta-feira a ofensiva final contra os combatentes do EI, entrincheirados em uma pequena zona no vilarejo de Baghuz, na província de Deir Ezzor. Tendo conquistado grande parte da localidade, os combatentes curdos e árabes encurralaram os jihadistas nesta área, onde a coalizão internacional retomou seus ataques aéreos, de acordo com equipes da AFP no local.

A cerca de 400 metros da linha de frente, um jornalista da AFP podia ouvir continuamente fogo de artilharia e o estalar de armas. Nuvens negras e cinzentas de fumaça tomavam o céu acima da área visada, composta de alguns blocos contíguos de casas perto do rio Eufrates. Depois de um ataque aéreo, um depósito subterrâneo de munição explodiu, causando deflagrações como fogos de artifício. No telhado de um prédio perto do palco das operações, um comandante das FDS disse à AFP que a maior parte da área estava livre do EI. "Mas ainda há túneis subterrâneos, e não sabemos quantos membros do EI ainda estão lá. Eles estão totalmente sitiados, enterraram muitas minas nas casas e nas estradas", disse o comandante.

"Suicidas e carros-bomba"

Depois de uma ascensão meteórica em 2014, o EI proclamou em junho de 2014 um "califado" nas vastas áreas conquistadas na Síria e no Iraque. Mas, diante de múltiplas ofensivas nos últimos dois anos, os jihadistas viram seu território encolher. Em Baghuz, as operações das FDS continuam até à noite. No telhado de um prédio, um comandante das FDS, Rustam Hassaké, recebe informações sobre uma posição do EI a um quilômetro de distância. Ele transmite as coordenadas GPS identificadas em seu tablet, antes de pedir um ataque aéreo.

Um caça americano da coalizão aparece no céu. Um pouco mais tarde, o comandante olha para cima. "Posição do Daesh, acabou", diz com um sorriso, usando a sigla em árabe do EI. "Desde a retomada dos combates, conseguimos recuperar 13, 14 posições", explica o comandante. "Ouvimos suas comunicações, suas transmissões de rádio e ouvimos eles se expressarem em russo". Os jihadistas "empregam muitos suicidas", incluindo mulheres, diz ele. "Estamos enfrentando um inimigo que está nos atacando com carros-bomba, motos-bomba". Várias famílias de jihadistas franceses em contato com o jornalista da AFP garantem que mulheres e crianças ainda estão no reduto do EI.

Possível "ressurgimento"

No total, desde o início de dezembro, 53.000 pessoas, a maioria de famílias de jihadistas, fugiram da localidade, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Entre elas, mais de 5.000 jihadistas foram presos. A grande maioria dos evacuados foram transferidos para o campo de deslocados de Al-Hol, mais ao norte, onde vivem em condições difíceis. A perda de Baghuz vai significar o fim do "califado" territorial do EI após sua derrota no Iraque em 2017, mas este grupo já começou a sua transformação em organização clandestina. Seus combatentes estão espalhados no deserto da Síria (centro) e ainda conseguem realizar ataques mortais.

O Exército americano alertou que sem um compromisso de longo prazo contra o EI, a organização levaria de seis a 12 meses para um "ressurgimento". A atual batalha contra o EI é a principal frente na guerra na Síria, que matou mais de 360.000 pessoas desde 2011. Em outra frente, 21 combatentes pró-regime foram mortos por jihadistas ligados à Al-Qaeda perto da província de Idleb (noroeste), de acordo com OSDH.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895