11/9 inaugurou nova era para o terror

11/9 inaugurou nova era para o terror

Especialistas analisaram as repercussões do maior atentado da história

Karina Reif / Correio do Povo

Ataques ao World Trade Center mudaram a maneira como enxergamos o terrorismo

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Os ataques às torres gêmeas em Nova Iorque em 11 de setembro de 2001 inauguraram uma nova era para o terrorismo. Apesar das medidas preventivas adotadas ao longo destes dez anos, o número de atentados não diminuiu e a motivação continua a mesma, segundo especialistas. Desde o 11/09, ao menos seis grandes ataques foram registrados (veja mapa abaixo), além de incontáveis atos em países do Oriente Médio.

“Estamos vivendo uma guerra mundial. O grau de incerteza hoje no mundo é enorme e todo esse cenário deriva do 11 de setembro que foi, talvez, o maior ataque da história. Foi simbólico", afirmou professor de comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e autor de livros sobre terrorismo Jacques Weinberg.

Após o “ataque cinematográfico” ao World Trade Center, o terrorismo assumiu o primeiro plano nas pautas jornalísticas e dos governos ocidentais. E isso amplificou a repercussão dos ataques. “É uma ação encenada visando atrair a atenção da mídia. É teatral. É guerra psicológica, de nervos”, explicou Weinberg.

A opinião é partilhada pelo professor de Sociologia do Direito da PUCRS Álvaro Filipe Oxley da Rocha, que cita uma “ação bombástica para a mídia”. “No ataque, o segundo avião veio com atraso porque eles sabiam que as câmeras do mundo estariam voltadas para lá”, ressaltou.

Ao longo de praticamente toda a história do terror, o modus operandi é “matar poucos, atormentar muitos e ensinar a todos”, explicou Weinberg. “Essa técnica é o que se chama de propaganda por ação direta. Atacar um e ensinar milhões é um slogan dos anos 1970, usado por anarquistas e comunistas”, afirmou.

Segundo ele, existe uma guerra assimétrica, “na qual o terrorista pode tudo e as forças que o combatem ficam limitadas por um código de ética, que quando desrespeitado, desmoraliza a luta contra o radicalismo”.

Motivações

A causa radicalista é pouco precisa. “É aparentemente civilizacional e cultural, que visa a combater um estilo de vida e valores, além da presença de ocidentais no mundo oriental”, disse Jacques Weinberg. “É uma maneira de se rebelar contra um estilo de vida que se caracteriza pelas trocas culturais, pelo hibridismo pelo espírito do cosmopolitismo e pela difusão de valores. Nesse sentido, há uma luta, não de civilização, mas de mentalidades, cuja fonte de inspiração está no passado”, explicou o professor.

Álvaro Filipe Oxley da Rocha reforça que o terrorismo tem mostrado a inconformidade de grupos radicais com as mudanças. “O Ocidente, como proposta política e econômica, está disseminado no mundo. Esse tipo de visão faz com que esses grupos percam o poder e a força que tinham tradicionalmente. E os atentados representam uma reafirmação”.

Para Weinberg, “esse tipo de batalha não permitirá que eles vençam, porque o alvo é difuso”. “Essa luta é uma faceta. Outra são os ataques realizados entre os próprios grupos muçulmanos. O número de mortes que tem ocorrido no Iraque, entre sunitas e xiitas, é espetacular”, afirma.

O fundamental, segundo Rocha, é destacar que o terrorista é um ato “desesperado”. Ele tem medo de perder o seu mundo, sua identidade. “São pessoas que vêem que o mundo mudou e que não podem fazer nada. ‘Eu não sei mais o que eu sou, qual o meu lugar no mundo’”, explicou o professor de Sociologia do Direito. Os ataques são uma demonstração da inconformidade com a perda do passado.

Perspectivas

Para Weinberg, a previsão é de que esses conflitos permaneçam porque a pregação fundamentalista é muito forte e o confronto de ideias é intenso. “O mundo muçulmano é multifacetado. O Islã tem inúmeras correntes e o embate está no cerne da luta de idéias.”

Para Rocxha, as revoltas em países árabes, como Tunísia, Síria, Egito e Líbia, são um reflexo do mal estar das novas gerações e um indicativo de que a educação está aumentando. “Com acesso à informação, a grande maioria não aceita mais ditadores, reis. Não é mais possível manter esses grupos na injustiça social. Isso causa um descompasso e degenera em uma violência urbana muito grande", destacou. Segundo ele, essas nações devem se focar agora para as mudanças internas. “A tendência é que o terrorismo e o radicalismo existam sempre. Em alguns momentos crescem, e em outros diminuem. A solução é justiça econômica e educação”, destacou.

Confira onde ocorreram e como foram os principais ataques terroristas após o 11/9. Clique nas imagens para obter mais informações.


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