Acampamento de refugiados na França é desmantelado

Acampamento de refugiados na França é desmantelado

Milhares estão em Calais à espera de ingressar na Inglaterra

AFP

Segundo ministro francês do Interior, parte dos migrantes é ativista militante

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O desmantelamento de uma parte do acampamento francês de Calais, onde vivem milhares de migrantes à espera de entrar na Inglaterra, foi retomado nesta terça-feira após confrontos no dia anterior e em um contexto de restrições impostas por vários países europeus, bloqueando milhares de refugiados nas fronteiras.

Esta crise migratória, a mais grave na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, preocupa até mesmo os Estados Unidos, pressionado a liderar a busca por uma solução internacional à crise de refugiados sírios que, segundo especialistas, pode colapsar os países do Oriente Médio e da União Europeia. A demolição parcial da "selva" de Calais (Norte da França), local onde se encontram principalmente sírios, afegãos e sudaneses, prossegue nesta terça sob a estreita vigilância de um grande dispositivo de segurança.

Nessa segunda-feira à noite, 150 migrantes, alguns armados com barras de ferro, estiveram durante uma hora na estrada de acesso ao porto de Calais, próxima à "selva". A partir dali lançaram pedras ou atacaram os veículos que se dirigiam à Inglaterra, do outro lado do Canal da Mancha, até serem dispersados pela polícia, que recorreu ao uso de gás lacrimogêneo. "Levaremos o tempo necessário, três semanas, um mês...", declarou um dos representantes do governo no Norte da França.

O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, denunciou o "ativismo de um punhado de militantes 'No Borders' extremistas e violentos". Na quinta-feira passada, o governo francês obteve a autorização da justiça para evacuar a parte Sul da "selva" de Calais, onde vivem, segundo a prefeitura, entre 800 e mil migrantes, e 3,5 mil, segundo as associações.
Os migrantes desalojados devem ser reinstalados em centros de acolhida na zona de Calais ou em outras regiões da França.

Cúpula mundial sobre os refugiados

A milhares de quilômetros de Calais, mais de sete mil migrantes permaneciam bloqueados no posto fronteiriço grego de Idomeni após as restrições impostas por vários países, incluindo a Macedônia, sobre o número de pessoas autorizadas a entrar em seus territórios.

Os migrantes sofrem com o frio e o barro deixado pelas chuvas da noite. O chanceler macedônio, Nikola Poposki, defendeu nesta terça a decisão das autoridades de lançar gás lacrimogêneo para conter os migrantes na fronteira com a Grécia. Na segunda, a polícia reagiu contra centenas de sírios e iraquianos que tentavam forçar a cerca no posto de Idomeni. Segundo o ministro macedônio, "o grande problema, atualmente, é que o sistema parece não funcionar. Cada um deveria assumir sua parte de responsabilidade em seu território".

A Comissão Europeia expressou preocupação quanto aos recentes incidentes violentos. Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), o número atual de migrantes em Idomeni é quatro vezes maior que a capacidade dos dois acampamentos instalados perto do posto de fronteira. Alguns grupos preferem esperar perto da passagem, na esperança de serem os próximos a atravessar a fronteira, dormindo a três dias ao relento. Este é o caso de Fayssal, um sírio de 30 anos que teve as duas pernas amputadas em um bombardeio em Damasco.

A Macedônia é o primeiro país na rota dos Bálcãs, utilizada por migrantes que chegam nas ilhas gregas a partir da costa turca e que desejam chegar aos países da Europa do Norte e Central. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, inicia nesta terça-feira em Viena um giro pelos países dos Balcãs. Ele também visitará na quinta e sexta-feira a Turquia, antes de uma cúpula europeia convocada para 7 de março em Bruxelas.

Os Estados Unidos olham para o êxodo de refugiados do Oriente Médio rumo à Europa como um "desafio global", declarou na segunda-feira o secretário americano de Estado, John Kerry, assegurando ao seu contraparte alemão o apoio de Washington. 

"Os Estados Unidos consideram a crise dos refugiados global. O impacto obviamente foi sentido primeiro pela Jordânia, pelo Líbano e pela Turquia. Eles têm carregado um fardo incrivelmente pesado ao curso destes mais de quatro anos de guerra", declarou. E o ex-embaixador americano no Iraque e na Síria, Ryan Crocker, exigiu do governo a organização de "uma cúpula mundial sobre os refugiados", porque "nem a região (o Oriente Médio), nem a Europa podem superar" a crise.

Depois da Áustria, o primeiro país a adotar um sistema de cotas, a Croácia e a Eslovênia, membros da UE, bem como a Macedônia e a Sérvia, decidiram na semana passada limitar o número de migrantes admitidos no seu território, provocando protestos em Atenas. A Grécia estima que entre 50 mil e 70 mil pessoas correm o risco de permanecerem bloqueadas no país em março, contra 22 mil atualmente.



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