Aceno dos EUA ao programa Covax deve impulsionar distribuição de vacinas

Aceno dos EUA ao programa Covax deve impulsionar distribuição de vacinas

Joe Biden deve aderir ao esforço global que foi ignorado por Donald Trump

Correio do Povo e AFP

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O mecanismo Covid-19 Vaccine Global Access (Covax), co-liderado pela Organização Mundial da Saúde, Gavi e a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI) para fornecer vacinas contra o SARS-CoV-2 a países desfavorecidos, pode ser fortalecido pela decisão dos Estados Unidos de aderir ao programa. Com ampla participação, com exceção dos Estados Unidos, cuja entrada foi barrada pelo ex-presidente Donald Trump, e da Rússia, a iniciativa já garantiu pelo menos 500 milhões de doses, e financiamento para metade dos dois bilhões almejados até o final de 2021. Sob o comando de Joe Biden, os EUA já anunciaram sua intenção de aderir ao programa.

As nações mais ricas do planeta lançaram suas campanhas de vacinação no final de 2020, mas dezenas dos países em desenvolvimento que recorreram ao dispositivo não terão acesso às primeiras doses antes de fevereiro, na ausência de imunizações disponíveis. O Covax garante a vacinação de 20% da população mais vulnerável (profissionais da saúde e doentes) em todos os países participantes. "Velocidade e disponibilidade em larga escala de vacinas são uma necessidade para acabar com a pandemia", declarou no início do mês a candidata nigeriana à chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, no site Project Syndicate.

"Este esforço extraordinário é possível graças a um impulso sem precedentes na solidariedade global e apoio multilateral ao Covax", acrescentou. Este dispositivo central para acesso global à vacinação contra a Covid-19 foi lançado em junho. É inspirado por mecanismos que facilitaram o acesso universal e equitativo às vacinas contra o pneumococo e o vírus ebola. Ao garantir a compra de um determinado volume de doses antes de sua homologação e oferecendo garantias de mercado, o mecanismo Covax busca estimular os laboratórios farmacêuticos a investirem em suas capacidades de produção, para garantir que a fabricação seja acelerada antes da aprovação das vacinas e não mais tarde.

O esforço é estimado em 11 bilhões de dólares. Trabalhando juntos, os países podem administrar em conjunto a incerteza de quais vacinas candidatas terão sucesso, reunindo demanda e recursos e colaborando em investimentos individuais. Teoricamente, uma abordagem coletiva permite um portfólio maior do que pode ser alcançado de forma independente e aumenta a chance de cada Estado ter acesso a fornecimento.

Os países também podem compartilhar experiência técnica e conhecimento sobre vacinas candidatas e investimentos, aumentando a probabilidade de apoiar as candidatas mais promissoras e usar as instalações de fabricação de forma mais eficaz à medida que o portfólio amadurece. Vale notar que foi criado um mecanismo voluntário para compartilhar os direitos de propriedade intelectual relacionados ao coronavírus, mas até agora nenhuma empresa contribuiu para isso.

Quais vacinas?

O Unicef, que gerencia a logística de vacinação da ONU, é o principal braço da estratégia do Covax, preparando-se para transportar até 850 toneladas de vacinas por mês. A OMS já assinou acordos com vários laboratórios: Novavax, Sanofi-GSK, Johnson & Johnson, que ainda não foram autorizados pelas autoridades nacionais, e com AstraZeneca.

Os contratos cobrem cerca de 2 bilhões de doses. Além disso, um montante de 1 bilhão de doses suplementares é proposto à OMS como prioridade até o final de 2021, no âmbito do mecanismo Covax, do qual participam 190 países, incluindo 92 com recursos baixos e médios.

Por enquanto, a entidade validou apenas uma vacina, a da dupla BioNTech/Pfizer, autorizada por vários países, e espera tomar uma decisão no final de fevereiro com a da Moderna, que também recebeu certificação de diversos órgãos reguladores da saúde. A OMS está em negociações com a Pfizer e a Moderna para obter suas doses e espera garantir os primeiros lotes em fevereiro.

"Prudência"

No entanto, o fornecimento das vacinas depende de vários fatores, como aprovações regulatórias e preparação dos países. O sucesso desse projeto colossal também dependerá dos recursos recebidos. Em 2020, o mecanismo Covax atingiu sua meta urgente de arrecadação de fundos de US$ 2 bilhões. Mas pelo menos US$ 4,6 bilhões adicionais serão necessários este ano para adquirir as doses, US$ 800 milhões para pesquisa e US$ 1,4 bilhão para distribuição de vacinas.

A OMS espera distribuir 145 milhões de doses em todo o mundo no primeiro trimestre. Mas suas previsões são feitas com "prudência", alertou na terça-feira Bruce Aylward, que dirige o programa em que o Covax está inscrito. O dispositivo "está pronto" para fornecer as doses, mas "isso só pode ser feito com doses garantidas da vacina à medida que avançamos", disse ele em uma reunião em Genebra.

Apoio dos EUA

O retorno dos Estados Unidos à OMS, com Joe Biden na Casa Branca, dará um novo impulso financeiro ao programa Covax, até então ignorado por Donald Trump. Mas o nacionalismo na questão das vacinas é denunciado muitas vezes pela OMS, porque teme que os países ricos monopolizem todas as doses. Ao ponto de o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pedir no início de janeiro aos países ricos que acabassem com os "acordos bilaterais" com as empresas farmacêuticas, para dar prioridade ao Covax.

Espera-se que os primeiros lotes de vacinas contra o coronavírus cheguem aos países mais pobres em fevereiro sob o esquema Covax administrado pela OMS e a aliança de vacinas GAVI, disseram funcionários da OMS esta semana, enquanto levantam preocupações de que os países mais ricos ainda estão pegando a parte do leão das vacinas disponíveis.

"Congratulamo-nos com a decisão dos Estados Unidos de ingressar nas instalações da Covax, porque vacinar nossas próprias populações não é o suficiente do ponto de vista científico ou moral" , disse o embaixador da Grã-Bretanha, Julian Braithwaite.


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