Acordo de paz avança no Senado da Colômbia

Acordo de paz avança no Senado da Colômbia

Aprovada com 75 votos, pacto pretende acabar com mais de meio século de conflito armado

AFP

Acordo de paz avança no Senado da Colômbia

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A Colômbia deu na terça-feira o primeiro passo para referendar o acordo de paz assinado na semana passada pelo governo e a guerrilha das Farc, com a aprovação no Senado do pacto que pretende acabar com mais de meio século de
conflito armado. O texto, renegociado para incluir propostas da oposição depois que o acordo original foi rejeitado em um plebiscito em 2 de outubro, também deve ser validado nesta quarta-feira pela Câmara de Representantes.

"Com um total de 75 votos pelo 'Sim', não há nenhum voto contra, foi aprovada a proposta apresentada para referendar o acordo de paz assinado pelo governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), informou a Secretaria do Senado.

Lida alguns minutos antes pelo senador do Partido Liberal Horacio Serpa, a proposta afirma que o Senado "adota a decisão política de referendar o acordo final para a conclusão do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura, assinado pelo governo nacional e as Farc no dia 24 de novembro".

Na sessão plenária do Senado, que aprovou o acordo após 13 horas de discussões, o resultado da votação foi recebido com aplausos pelos presentes, todos partidários ao texto. "Viva a paz, viva a Colômbia!", afirmou o presidente do Senado, Mauricio Lizcano, ao encerrar a sessão.

Os congressistas do partido de direita Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe, decidiram alguns minutos antes abandonar o plenário com a afirmação de que o Congresso "não pode suplantar" a decisão tomada nas urnas pelos colombianos. Surgidas de um levante camponês em 1964 e com 5.765 combatentes atualmente, as Farc são a guerrilha mais antiga da América Latina.

Esta é a quarta vez que se tenta um processo de paz com o governo colombiano, após os fracassos em diálogos com os presidentes Belisario Betancur (1982-1986), César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002). Para evitar um novo fracasso e, sobretudo, para acelerar a implementação do acordo, as partes optaram por recorrer ao Congresso, onde Santos tem maioria, para a aprovação do texto.

No debate de terça-feira, o primeiro a falar foi o chefe negociador do governo colombiano, Humberto de la Calle, que afirmou que seria "um erro não aproveitar a oportunidade de implementar este acordo e de implementá-lo rapidamente". O alto comissário para a paz, Sergio Jaramillo, destacou igualmente "a urgência de passar para a implementação" do acordo, para o qual chamou uma imediata ratificação. "Uma guerrilha não pode ficar no estado em que estão as Farc eternamente, deve-se caminhar para a deposição das armas e passar para a legalidade", disse Jaramillo, que junto com De la Calle liderou a equipe de governo nas negociações de paz ocorridas em Cuba durante quatro anos.

Jaramillo também explicou que "a incerteza" por não saber se o acordo foi encerrado ou não "aumenta as tensões nos territórios" causando mortes em várias regiões. Nas últimas semanas foram relatados homicídios e atentados contra vários líderes sociais, principalmente no sul e oeste do país, além de um incidente em que faleceram dois guerrilheiros das Farc em supostos combates com o Exército, apesar do cessar-fogo que as partes mantém desde agosto.

"Pressão indevida"

Depois das intervenções dos representantes do governo, os senadores ouviram também as posições de representantes das vítimas do conflito armado e de outros setores da sociedade civil, com argumentos a favor e contra o acordo. Setenta dos 102 senadores discursaram na sessão.

No plenário, aqueles que defendem a aprovação do acordo destacaram as mudanças introduzidas para incluir propostas da oposição. No entanto, Uribe insistiu em rejeitar o acordo, assim como o fato de que seu referendo acontece no Congresso e não através de uma nova consulta popular. O ex-presidente qualificou, ainda, como "uma pressão indevida contra o ordenamento jurídico" a pressa do governo em aprovar o acordo.

O senador se opõe ao pacto por considerar que traz "impunidade total" e outorga elegibilidade política a guerrilheiros culpados de crimes atrozes antes de cumprirem suas penas, e insiste na necessidade de melhorar ainda mais o texto. No caso de uma aprovação nesta quarta-feira na Câmara, o Congresso será fundamental depois para validar as leis que permitirão a implementação do acordo.

O conflito armado colombiano, do qual também participam outras guerrilhas, grupos paramilitares e agentes estatais, já deixou ao menos 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

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