Agricultores franceses bloqueiam rodovias de Paris

Agricultores franceses bloqueiam rodovias de Paris

Setor denuncia a queda de receita, as baixas aposentadorias, a complexidade administrativa, a inflação das normas ambientais e a concorrência estrangeira

AFP

Categoria considerou insuficientes as medidas anunciadas na sexta-feira pelo primeiro-ministro Gabriel Attal

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Os agricultores franceses concretizaram a sua ameaça e começaram, nesta segunda-feira (29), a bloquear várias rodovias em torno de Paris em tratores para denunciar a sua situação econômica, em uma luta cada vez mais tensa com o governo. De norte a sul, de leste a oeste, o trânsito foi afetado em oito rodovias na capital da segunda maior economia da União Europeia (UE), com trechos bloqueados em dezenas de quilômetros de Paris, segundo o site Sytadin.

Os agricultores permanecerão nestas vias dia e noite 'enquanto for necessário', disse Luc Smessaert, vice-presidente do sindicato agropecuário majoritário FNSEA, enquanto outros produtores agrícolas organizam acampamentos improvisados na região de Paris com fardos de palha, cisternas de água e banheiros.

O setor denuncia a queda de receita, as baixas aposentadorias, a complexidade administrativa, a inflação das normas ambientais e a concorrência estrangeira, especialmente o acordo negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul. O FNSEA e os Jovens Agricultores convocaram um 'cerco da capital por tempo ilimitado' para pressionar o governo, no marco dos 11 dias de protestos.

A categoria considerou insuficientes as medidas anunciadas na sexta-feira, pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, como a eliminação do aumento da taxa do diesel para uso não agrícola e a ajuda a setores em crise. Símbolo da pressão crescente, o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu com vários dos seus ministros, depois de ter permanecido em segundo plano desde o início dos protestos, e a porta-voz do governo, Prisca Thevenot, que anunciou novas medidas na terça-feira.

Attal deve se reunir novamente com o FNSEA e os Jovens Agricultores nesta segunda-feira, e, de acordo com a presidência, Macron se encontrará com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, para abordar sobre o acordo comercial entre UE e Mercosul, ao qual se opõe à assinatura em seu formato atual.

'Problemas de custos'

O setor agrícola é culturalmente importante na sétima economia mundial, embora o seu peso no PIB tenha caído drasticamente de 18,1% em 1949, no período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais. As autoridades, que até agora evitaram conter os protestos, mobilizaram 15 mil policiais e gendarmes para impedir o bloqueio dos aeroportos parisienses e do importante mercado atacadista de Rungis, a cerca de sete quilômetros da capital, aonde se dirigia um comboio de tratores.

'Não somos bandidos. Só queremos respostas, porque este é o nosso último comboio, a nossa última luta pelos agricultores (...) É uma questão de sobrevivência', disse à AFP Karine Duc, membro do sindicato Coordenação Rural.

Em 50 anos, a França perdeu 75% de seus agricultores e pecuaristas, recorrendo cada vez mais às importações: um em cada dois frangos vem do exterior, bem como 60% das suas frutas. Ao todo, mais de 3.000 agricultores foram mobilizados na segunda-feira em todo o país, um terço no sudoeste, segundo uma fonte policial.

Embora a categoria tenha recebido apoio nos últimos dias, ONGs ambientais e o sindicato agrícola Confederação Campesina temem que as normas para o meio ambiente, como a utilização de pesticidas, sejam reduzidas e concentrem-se, em sua maioria, em uma melhor remuneração e no fim dos acordos de livre comércio. A fúria dos agricultores foi ouvida em vários países da UE, como Alemanha, Polônia e Romênia.

No domingo, produtores belgas em tratores bloquearam uma importante rodovia apelando a mudanças na Política Agrícola Comum europeia (PAC). 'Não é um problema de preços. Este é um problema de custos [de produção] que nos levam à ruína', disse o líder do sindicato agrícola Asaja, Pedro Barato, à rádio espanhola Cope, antecipando protestos na Espanha a partir da próxima semana.


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