Alemães buscam preservar memória do Muro de Berlim

Alemães buscam preservar memória do Muro de Berlim

Por meio de arte e souvenires, Alemanha mantém lembrança do significado do Muro 25 anos depois

Tiago Medina

Bernauer Strasse documenta hoje como era a face mais feroz da divisão do Muro

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Um quarto de século após a histórica noite, o Muro ainda está presente em Berlim. É uma cicatriz, mas que os alemães não fazem questão de esconder. Pelo contrário. “É muito importante manter a memória do muro”, ressalta Marina Ludemann. “Não só lembrar, mas explicar para as próximas gerações o que aconteceu. Mesmo as pessoas que viveram em Berlim durante o muro às vezes pensam onde que era: ‘Era aqui, cortava essa rua’.”

Com o passar do tempo, o foco está em preservá-lo para as novas gerações. “Minha filha que nasceu em 1993 e mora em Berlim e não sabe onde que era a divisão”, exemplifica Marina. Para ela, porém, é mais fácil preservar a lembrança de pessoas do lado oriental. “A filha da minha amiga tinha 15 anos quando o muro caiu. Ela lembra muito bem. Mas para os jovens do lado ocidental, acho que não faz mais tanta importância. Os que nasceram do outro lado sim. Para eles era um fato que restringia muito a vida deles. Do outro lado não.”

Hoje com 48 anos, Liliana Sulzbach também nota os efeitos do tempo. “Imagino que as pessoas da minha geração têm isso muito presente, mas não os mais jovens.” Conforme a cineasta gaúcha, que faz visitas frequentes à Alemanha, as mudanças pós-queda começaram a ocorrer quase de imediato. “Em 1994 estive em Berlim Oriental novamente e estava bem diferente. Com certeza hoje percebo Berlim como uma única cidade.”

O muro hoje

Partes do muro hoje viraram tanto souvenir quanto galeria de arte – a maior do mundo a céu aberto, diga-se. Antes cinza, esta parte atualmente colore 1,3 quilômetro das margens do Rio Spree. Também usadas por artistas, outros blocos foram levados a diferentes partes da cidade. E muitos micropedaços são vendidos a milhares de turistas como lembrança de Berlim por uma mixaria de euros.

No entanto, nem tudo são cores. Em outro ponto, na Bernauer Strasse, descobre-se um pouco da face do horror que foi aquela construção, que passou sem dó por meio de casas, bosques, linhas de trens e até cemitérios. A história lá foi preservada pelas autoridades, a fim de que turistas e alemães compreendam o que se passou até mesmo na chamada faixa da morte – espaço entre dois muros com bunkers, cachorros e vigiado por torres de controle do lado comunista, onde ficavam soltados orientados a fazer o possível para se evitar fugas para o lado Oeste. “Na Bernauer explicam para alguém que não vivia nesse tempo em Berlim como era a vigilância, os mortos, como funcionava. E toda história, porque aconteceu tudo isso. Esse centro de documentação da Bernauer é um bom exemplo de como se pode lembrar a história”, elogia Marina.

Há o registro de mais de 5 mil fugas bem sucedidas para o lado ocidental, entretanto há também vítimas, cuja quantidade exata é imprecisa até hoje. Morreram na tentativa de cruzar a fronteira, começando por Ida Siekmann, três semanas depois da construção, em 1961, e encerrando em Winfried Freudenberg, em março de 1989.

Ainda que a cidade tenha se misturado, sendo difícil até para próprios alemães mais desavisados saber qual parte era oriental e qual a ocidental, parte do traçado do Muro foi preservado e corta diversas ruas da capital alemã. Na passagem dos 25 anos da queda do Muro, milhares de balões foram colocados ao longo de onde antes havia a divisão. Não tanto para lembrar, mas para nunca esquecer.

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