Após protestos, Romênia revoga decreto que descriminaliza atos de corrupção

Após protestos, Romênia revoga decreto que descriminaliza atos de corrupção

Anúncio foi recebido com um misto de festa e ceticismo pela população que protestava

AFP

Após protestos, Romênia revoga decreto que descriminaliza atos de corrupção

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O governo da Romênia revogou neste domingo um decreto aprovado na última terça-feira que descriminalizava atos de corrupção e gerou protestos em massa no país. O anúncio foi feito pelo Executivo social-democrata, cujos ministros participaram hoje de uma reunião extraordinária, frente ao maior movimento de protestos desde a queda do comunismo, em 1989.

Os romenos continuavam mobilizados neste domingo, com novas manifestações agendadas, para manter a pressão sobre o governo social-democrata. "Espero que seja uma anulação verdadeira. Disseram que nos ouvirão, mas querem levar outro texto para o Parlamento. Vamos estar atentos, para que não nos enganem", disse Daniel, 35, expressando a desconfiança de muitos romenos, que também pedem a saída do atual governo.

Como muitos compatriotas, Daniel se dirigia à praça Victoriei, sede do governo e epicentro dos protestos, para o sexto dia de manifestações. "Confio na nova geração, tenho a sensação de que, desta vez, as coisas irão mudar, porque os romenos estão fartos dos abusos", dizia um aposentado em meio à multidão, que agitava bandeiras do país.

O decreto foi aprovado na última terça pelo governo sem passar pelo Parlamento. Desde então, entre 200 mil e 300 mil pessoas saem às ruas diariamente para protestar.

"Não acreditamos", dizia, horas antes da revogação, o eletricista Florian, 40, na praça Victoriei, onde afirmou que o número de manifestantes será recorde, como nos últimos dias. "Ainda há muita corrupção no governo, no Senado, em todo lado. Não aguentamos mais. Queremos líderes competentes, que governem para o povo, não para si mesmos e suas contas bancárias", criticou.

As manifestações dos últimos dias são históricas no país, de 20 milhões de habitantes, que enfrentou vários períodos de instabilidade política desde a queda da ditadura comunista, em 1989. O primeiro-ministro Sorin Grindeanu, no cargo há um mês, disse que revogou o texto "para não dividir a Romênia".

Entre outras coisas, o decreto polêmico estabelecia um montante mínimo de 44 mil euros para começar a investigar crimes financeiros, e reduzia as penas por corrupção.

O premier afirmou que a reforma tinha o objetivo de alinhar o código penal à Constituição, bem como diminuir o número de presos. Mas diante dos protestos, Grindeanu promete agora um novo projeto de lei, sem o mínimo estabelecido anteriormente.

Os manifestantes temem um retrocesso na luta contra a corrupção em relação aos últimos anos, quando, sob pressão da União Europeia (UE) e de juízes, os tribunais instruíram centenas de casos de corrupção, um giro histórico na Justiça do país.

O governo já havia sido criticado por querer proteger o líder do Partido Social-Democrata (PSD), Liviu Dragnea, julgado por empregos fictícios. Dragnea afirma que o decreto não o beneficiava, e que se trata de uma campanha de desinformação. Ele já está inabilitado pela Justiça, que o condenou no ano passado a dois anos de prisão com direito a sursis por fraude eleitoral. Seu julgamento por abuso de poder no caso de empregos fictícios começou na terça-feira.

O PSD, expulso em 2015 por grandes manifestações contra a corrupção, voltou a vencer nas eleições de dezembro passado.



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