Argentina tem dia de repúdio após atentado contra Kirchner

Argentina tem dia de repúdio após atentado contra Kirchner

Presidente do país considerou ataque o mais grave desde o retorno da democracia

AFP

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Grandes manifestações convocadas por organizações políticas e sindicais próximas ao governo estão sendo preparadas nesta sexta-feira em toda a Argentina, com epicentro na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, em repúdio à tentativa de homicídio contra a vice-presidente Cristina Kirchner.

O atentado com arma de fogo contra Kirchner, perpetrado por um homem que aparentemente agiu sozinho, foi considerado pelo presidente Alberto Fernández como o incidente mais grave desde o retorno à democracia em 1983.

O papa Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, enviou-lhe um telegrama no qual expressou sua "solidariedade e proximidade neste momento delicado" e disse que reza para que "a harmonia social e o respeito aos valores democráticos sempre prevaleçam". A coalizão governista Frente de Todos (peronista, centro-esquerda) convocou uma marcha até a Plaza de Mayo "em defesa da democracia" em um dia que foi declarado feriado nacional. "Cristina continua viva porque, por um motivo que ainda não foi confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", disse o presidente em um discurso à meia-noite.

A Argentina está em estado de estupor desde a noite de quinta-feira, quando um homem, que foi preso, apontou uma arma à queima-roupa e tentou atirar no rosto de Kirchner na porta de sua casa no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Nesta sexta-feira, uma vigília foi realizada no local em meio a uma forte presença policial que isolou a área. "Estávamos esperando nossa querida Cristina. Ela desceu para cumprimentar todo mundo, como todas as noites, para cumprimentar as pessoas. E de repente ouviu-se uma agitação, e foi aquele cara que apontou para ela. Eles o agarraram do meu lado, tenho o rosto deste infeliz pregado na minha cabeça", disse à AFP Teresa, que não quis dar seu sobrenome em frente à casa da vice-presidente.

O agressor esgueirou-se entre a multidão de militantes que a esperavam para manifestar sua solidariedade à ex-presidente (2007-15), em uma manifestação que se repete todas as noites desde 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu doze anos de prisão para ela em um julgamento em que é acusada de fraude e corrupção.

Martín Frías, outro partidário de Kirchner de 48 anos, disse à AFP que com este fato "o inimigo é mais conhecido, mas a luta não se abandona. Significa tomar maiores precauções, mas com as mesmas convicções de sempre". A juíza María Eugenia Capuchetti e o promotor Carlos Rivolo, encarregado da investigação do ataque, fizeram uma inspeção esta manhã na área onde ocorreu o ataque.

Atacante e repúdios

O detido, chamado Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, é de nacionalidade brasileira, de mãe argentina e pai chileno. Ele reside na Argentina desde 1993. O indivíduo já havia sido detido em 17 de março de 2021 por porte de armas não convencionais, segundo fontes policiais citadas pela agência de notícias oficial Télam.

O ataque foi repudiado por líderes latino-americanos e pelo chefe do Governo espanhol, bem como pela porta-voz do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina Shamdasani. "Estamos cientes, estamos chocados e estaremos monitorando de perto a situação", disse Shamdasani a repórteres em Genebra.

"Qualquer tipo de violência política é repreensível e é importante abordar as diferenças por meio do diálogo, certamente não dessa maneira", acrescentou. Quase todo o arco político argentino rejeitou o ataque, incluindo o ex-presidente Mauricio Macri, líder da oposição, bem como a poderosa União Industrial Argentina e a Suprema Corte de Justiça.


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