Argentinos marcham pela memória da ditadura, contestada pelo governo

Argentinos marcham pela memória da ditadura, contestada pelo governo

Cartazes com frases como "memória sim, medo não" e "tudo está guardado na memória" foram exibidas por manifestantes nas ruas de Buenos Aires

AFP

Esta foi a primeira manifestação do Dia da Memória desde a posse do presidente de extrema-direita Javier Milei

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Milhares de argentinos marcharam neste domingo (24) entoando a frase "hoje mais do que nunca", em memória das vítimas executadas ou desaparecidas durante o golpe militar, há 48 anos. Enquanto isso, o governo de Javier Milei lançou um vídeo contestando o tratamento histórico da ditadura. Esta foi a primeira manifestação do Dia da Memória desde a posse do presidente de extrema-direita, cujo discurso é considerado por líderes de organizações de direitos humanos como "negacionista" acerca dos fatos ocorridos durante o regime militar na Argentina (1976-1983).

Cartazes com frases como "memória sim, medo não" e "tudo está guardado na memória" foram exibidas em Buenos Aires, epicentro da convocação liderada pelas Mães e Avós da Praça de Maio - que por décadas se dedicaram a recuperar as identidades dos filhos e netos dos desaparecidos. Ao meio-dia, horário marcado para a convocação, o governo divulgou um vídeo documentário de 13 minutos intitulado "Dia da Memória pela Verdade e Justiça. Completa", que começa com a entrevista de uma vítima de um movimento guerrilheiro de esquerda (ERP) nos anos 1970.

O narrador do curta, o escritor Juan Bautista Yofre, afirma que a história conforme é lembrada foi projetada em resposta a interesses econômicos de organizações de direitos humanos e dos governos democráticos que sucederam a ditadura. Tanto Milei quanto sua vice-presidente, Victoria Villarruel, próxima dos militares, questionam o número de desaparecidos - consensualmente aceito por organizações de direitos humanos - de 30 mil soldados, e afirmam que o número real está próximo de 8.700.

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Durante sua campanha presidencial, Milei havia discursado que houve "uma guerra" nos anos 1970, na qual foram cometidos "excessos". Para muitas pessoas, seu argumento relativiza a existência de um plano sistemático de eliminação de opositores, comprovado em centenas de julgamentos, nos quais mais de 1.000 militares foram condenados por crimes contra a humanidade.

Na marcha na Praça de Maio, a multidão carregava cartazes com frases como "30.000 razões para defender a pátria" e "30.000 de verdade". Em um evento inédito, os principais centros sindicais do país se uniram pela primeira vez à convocação, em um contexto de severa crise econômica, com 276% de inflação anual e mais da metade dos 46 milhões de argentinos vivendo abaixo da linha da pobreza.

Após 48 anos do golpe, 1.173 pessoas foram condenadas por crimes de lesa-humanidade em 316 sentenças proferidas em todo o país.


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