Bachelet defende reparações "de várias formas" para combater legado da escravidão e colonialismo

Bachelet defende reparações "de várias formas" para combater legado da escravidão e colonialismo

Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos afirmou é preciso consertar séculos de violência e discriminação, inclusive por meio de desculpas formais

Correio do Povo e AFP

Ex-presidente do Chile falou que mundo precisa de ações decisivas contra o racismo

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A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, defendeu nesta quarta-feira as "reparações de diferentes formas" para aliviar "a herança do tráfico de escravos e do colonialismo". Este legado é a fonte da violência racial atual, afirmou Bachelet durante um debate solicitado pelos países africanos após a morte de George Floyd nos Estados Unidos. "Para construir uma base mais sólida para a igualdade, precisamos entender melhor o escopo da discriminação sistêmica, com dados desagregados por etnia ou raça. Também precisamos reparar os séculos de violência e discriminação, inclusive por meio de desculpas formais, processos de dizer a verdade e reparações de várias formas", afirmou.

As declarações foram dadas durante a 43ª sessão do Debate Urgente do Conselho de Direitos Humanos sobre as atuais violações de direitos humanos de inspiração racial, racismo sistêmico, brutalidade policial contra pessoas de ascendência africana e violência contra protestos pacíficos. Em sua fala, a ex-presidente do Chile argumentou ainda que a discriminação racial sistêmica se estende além de qualquer expressão de ódio individual. Isso resulta de preconceitos em vários sistemas e instituições de políticas públicas, que separadamente e juntos perpetuam e reforçam as barreiras à igualdade.

"Precisamos de escolas e universidades livres de preconceitos; economias que dão oportunidades verdadeiramente iguais e tratamento justo a todos; instituições políticas mais responsivas e inclusivas; sistemas de justiça verdadeiramente justos. Devemos ir além das recomendações existentes. Precisamos aproveitar o que funcionou, a partir do enorme corpo de trabalho e experiência que já temos. Tempo é essencial. A paciência acabou. Vidas negras são importantes. Vidas indígenas são importantes. A vida das pessoas de cor é importante. Todos os seres humanos nascem iguais em dignidade e direitos: é isso que este Conselho, como o meu Gabinete, defende", afirmou.

Morte de George Floyd

"Desde o assassinato de George Floyd nas mãos da polícia em Minneapolis no mês passado, uma onda de protestos maciços avançou - não apenas em todos os estados dos Estados Unidos, mas também em dezenas de países da Europa e em todo o mundo. Esse ato de brutalidade gratuita passou a simbolizar o racismo sistêmico que prejudica milhões de pessoas de ascendência africana - causando danos generalizados, diários, ao longo da vida, geracionais e muitas vezes letais", avaliou.

Para Bachelet, de cuidados de saúde precários a educação inadequada, promoção limitada de empregos, recusas de empréstimos à habitação e hipotecas, maus-tratos por funcionários, restrições práticas ao direito de voto e encarceramento excessivo, a discriminação racial prejudica milhões de pessoas. "Se eles são filmados ou se tornam virais nas mídias sociais, qualquer ato de má conduta por parte do pessoal da polícia deve ser investigado, sancionado ou processado imediatamente, com base em padrões internacionais", defendeu.


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