Birmaneses abandonam Yangon para fugir da repressão da junta militar

Birmaneses abandonam Yangon para fugir da repressão da junta militar

Quase 230 manifestantes morreram desde 1º de fevereiro, dia do golpe militar que derrubou o governo civil liderado de fato por Aung San Suu Kyi

AFP

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Muitos moradores de Yangon fugiam nesta sexta-feira da principal cidade de Mianmar, onde a junta militar intensifica a violenta repressão contra os manifestantes pró-democracia. Quase 230 manifestantes morreram desde 1º de fevereiro, dia do golpe militar que colocou no poder a junta e derrubou o governo civil liderado de fato por Aung San Suu Kyi.

O balanço pode ser ainda mais grave, pois centenas de pessoas estão desaparecidas, ou detidas de forma secreta e sem acesso a um advogado. Neste contexto, o êxodo é cada vez mais intenso em Yangon, cidade de cinco milhões de habitantes submetida parcialmente à lei marcial.

Na manhã desta sexta-feira foram observados grandes engarrafamentos com veículos lotados em uma das principais avenidas da cidade, com famílias tentando fugir da capital econômica de Mianmar. "Eu vou retornar a meu estado natal, Rakhine" (oeste do país), afirmou à AFP uma moradora que pretendia fazer a viagem de ônibus.

"Não me sinto segura, não consigo dormir. No meu bairro, as forças de segurança sequestram e torturam as pessoas", completa. Nas redes sociais, muitas pessoas estimulava a população a fugir diante da situação na cidade, que alguns chamaram de "aterradora". Outros imploravam pela permanência por "solidariedade".

- Fluxo de refugiados -

Do outro lado da fronteira, as autoridades da Tailândia se preparavam para receber um fluxo de refugiados, "de 30.000 a 50.000", afirmou à AFP o governador da província de Tak, Pongrat Piromrat. Quase 90 mil refugiados birmaneses já vivem ao longo da fronteira porosa de 1.800 km que separa os dois países. Eles fugiram após décadas de guerra civil entre o exército e facções rebeldes.

Mianmar, no entanto, está cada vez mais isolada. As conexões com a internet permanecem muito afetadas e apenas a imprensa estatal consegue cobrir a crise no momento. As forças de segurança prosseguem com a repressão. Nesta sexta-feira, pelo menos dois manifestantes morreram em cidades do centro do país, segundo o funcionário de uma funerária.

E quase 2.200 pessoas foram detidas nas últimas seis semanas, em particular membros do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND). Um dos principais líderes do partido, Mahn Win Khaing Than, que preside um Parlamento paralelo formado após o golpe para denunciar o regime militar e tentar resistir politicamente, foi indiciado, segundo a imprensa estatal, por "alta traição", crime que pode ser punido com 22 anos de prisão. E as ameaças judiciais são cada vez maiores sobre Suu Kyi, detida em um local secreto desde 1º de fevereiro.

- Pressão internacional -

A ex-chefe de Governo de fato, de 75 anos, recebeu quatro acusações: importação ilegal de walkie-talkies, não cumprimento das restrições relacionadas à pandemia de coronavírus, violação de uma lei sobre as telecomunicações e incitação a distúrbios públicos. Além disso, a junta adicionou acusações por corrupção que o advogado de Suu Kyi, que não foi autorizado a encontrar a cliente, considerou que "não têm fundamento e são absurdas".

Se a vencedora do Nobel da Paz de 1991 for considerada culpada de todas as acusações, ela poderia passar muitos anos na prisão e ser excluída da vida política. Uma audiência judicial está prevista para 24 de março. Até o momento, a junta ignora as críticas internacionais e as sanções aplicadas por várias potências ocidentais, lideradas por Estados Unidos e União Europeia.

A UE poderia adotar na segunda-feira novas sanções, de maneira concreta contra interesses econômicos de militares birmaneses, indicaram fontes próximas ao chanceler francês, Jean-Yves Le Drian. Em Genebra, os especialistas em direitos humanos da ONU contemplam que os Estados utilizem como base o princípio da competência universal para processar os generais "responsáveis por atos que poderiam constituir crimes contra a humanidade".

 

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