Blair e Bush defendem Guerra do Iraque e "mundo melhor sem Saddam"

Blair e Bush defendem Guerra do Iraque e "mundo melhor sem Saddam"

Relatório indica erros de planejamento pós conflito e em não esgotar opções diplomáticas

AFP

Relatório indica erros de planejamento pós conflito e em não esgotar opções diplomáticas

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O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair defendeu nesta quarta-feira sua decisão de levar o país à guerra do Iraque em resposta a uma investigação que o acusa de ter seguido cegamente os Estados Unidos. Em uma coletiva de imprensa, Blair chegou a se desculpar, mas logo insistiu que foi a decisão correta. "Expresso pena, arrependimento, e peço desculpas pelo que vocês nunca saberão ou imaginarão", escreveu em uma mensagem divulgada após a publicação dos resultados da investigação oficial.

"Admito e assumo a responsabilidade dos erros no planejamento e processo. Aceito a minha inteira responsabilidade, mas isso não é contraditório com o que digo, que tomamos a decisão certa. O mundo está melhor e mais seguro", declarou na coletiva de imprensa. "Voltaria a tomar a mesma decisão", garantiu.

O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, pediu desculpas pela guerra no Iraque em nome do seu partido, em um breve comunicado. "Hoje eu quero pedir desculpas em nome do meu partido pela desastrosa decisão de ir à guerra no Iraque", disse o pacifista, que tinha votado contra a decisão de Tony Blair de invadir Iraque em 2003.

O ex-presidente americano George W. Bush ainda defende que o mundo está melhor sem Saddam Hussein. "Apesar dos fracassos dos serviços de Inteligência e de outros erros que já reconheceu, o presidente Bush continua considerando que o mundo inteiro está melhor sem Saddam Hussein no poder", declarou o porta-voz do ex-presidente responsável pela invasão ao Iraque.

Após sete anos, as conclusões da investigação apontam que o ex-primeiro-ministro britânico levou o país à guerra do Iraque sem esgotar as opções diplomáticas, sem um plano pós-conflito e seguindo de maneira cega os Estados Unidos. "Chegamos à conclusão de que o Reino Unido escolheu se unir à invasão do Iraque antes de esgotar as opções de um desarmamento pacífico", explicou em Londres o diplomata John Chilcott, que coordenou a investigação sobre o conflito iniciado em 2003. "Apesar das advertências explícitas, as consequências da invasão foram subestimadas. O planejamento e os preparativos para o Iraque pós-Saddam foram totalmente inadequados", completou Chilcott.

A investigação é particularmente incriminatória a respeito do primeiro-ministro britânico, que, segundo Chilcot, prometeu ao presidente americano George W. Bush segui-lo "aconteça o que acontecer", um ano antes do início do conflito. As famílias dos 179 soldados britânicos mortos no Iraque expressaram sua "tristeza ao descobrir que seus entes queridos morreram desnecessariamente".

Sarah O'Connor, cujo irmão Bob morreu no Iraque em 2005, declarou em uma coletiva de imprensa que "há um terrorista que todo o mundo precisa conhecer, e seu nome é Tony Blair". Por sua vez, Rose Gentle, mãe de outro soldado morto, afirmou que gostaria de perguntar a Blair: "`Por que você matou o meu filho?".

Em frente ao local onde o relatório foi apresentado, perto do Parlamento, vários manifestantes coletavam assinaturas contra o ex-primeiro-ministro. A Investigação Chilcot começou em 2009, quando as tropas britânicas se retiravam do Iraque. O objetivo era investigar a decisão de participar na guerra de 2003 e da ocupação subsequente.

Milhares de iraquianos morreram na guerra e no brutal conflito sectário posterior, assim como 179 soldados britânicos. As famílias dos militares exigiam respostas. A invasão foi polêmica na época e aconteceu sem um mandato explícito do Conselho de Segurança da ONU, com Estados Unidos e Reino Unido alegando que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas. Blair renunciou ao cargo de chefe de Governo em 2007, mas sua credibilidade nunca se recuperou após a invasão de 2003. Grande parte dos britânicos acredita que ele nunca deveria ter enviado o país ao vespeiro da guerra.

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