Bloqueios no Peru privam Cusco de turistas e víveres

Bloqueios no Peru privam Cusco de turistas e víveres

Interrupções ocorrem em meio aos confrontos que deixaram 46 mortos desde dezembro

AFP

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Falta de tudo em Cusco, a capital turística do Peru, onde a escassez aumenta, em consequência dos bloqueios de manifestantes que exigem a renúncia da presidente Dina Boluarte. Interrupções ocorrem em meio aos confrontos que deixaram 46 mortos desde dezembro.

"Não tem combustível" nos postos de gasolina, "não tem gás" nos armazéns, "não têm saídas" da rodoviária. Os cartazes se multiplicaram na cidade. No mercado, "não chega nada de Lima", então, praticamente não há frutas.

Acima de tudo, donos de restaurantes e hotéis reclamam que "não há turistas", ou muito poucos.

No início da manhã de quinta-feira (26), cerca de 30 pessoas, com botijões de gás vazios, esperavam em frente ao depósito da Llamagaz, em Angostura, na periferia sudeste de Cusco.

"O gás é vital. Não sei o que vamos fazer, não sabemos como vamos cozinhar. Os mais prejudicados são as crianças. E também não há gasolina. Há problemas de abastecimento em todos os lugares. É terrível", disse Zenovia Quispe, de 29 anos, funcionária de escritório de Cusco.

"Traição" do povo

As barricadas que cercam Cusco isolaram a cidade andina. Zenovia, com o gorro do Peru na cabeça, apoia os manifestantes.

"O presidente teria que renunciar já para tudo isso acabar. Os bloqueios vão continuar. A presidente está prejudicando todo mundo", disse esta cusquenha, criticando Boluarte por "estar prolongando tudo isso".

A multidão fica impaciente. Jackson Escudero, funcionário da Llamagaz, responde: "Por favor, vão embora. Não esperem em vão. Não tem mais gás, vendemos tudo. As estradas estão bloqueadas".

Na saída noroeste de Cusco, cerca de 50 manifestantes da região de Anta (a 25 km de distância) avançam pela via. Eles já bloquearam a estrada por vários dias. Mas, na quinta-feira, começam a instalar um novo piquete que impede a passagem de Cusco para Urubamba.

Pedras, paus, galhos, garrafas de vidro, deixam na barricada tudo o que encontram pelo caminho, inclusive placas de postos de gasolina, ou enormes pneus de caminhão.

A estrada está deserta. Alguns poucos veículos imprudentes saem de Cusco para tentar chegar a Urubamba. Os manifestantes imediatamente atiram pedras contra eles. A maioria recua, um carro insiste. "Você está nos provocando, companheiro", grita um membro do grupo.

"Não gostamos de fazer esses bloqueios, de verdade. Mas é a única maneira de nos ouvirem. Se não fizermos isso, eles não vão nos ouvir. Somos os primeiros a sofrer", disse um manifestante que pediu para não ser identificado.

"Dina (Boluarte) é uma traidora. Traiu o povo, é uma assassina", disse uma mulher de 50 anos, que também não quis revelar o nome.

"É importante que as mulheres participem da luta. Dina é mulher, mas traiu as mulheres", opinou.

Cidade fantasma

Clodomiro Casa, um agricultor e maquinista de 50 anos, natural de Huracaondo, caminhou três quilômetros, superando barricadas, em busca de um posto de gasolina aberto. Em vão.

Ele também diz apoiar os manifestantes contra a elite dominante.

"Eles nos exploram há anos. As minas? Turismo em Machu Picchu? Está aqui. Mas onde está o dinheiro? Está tudo centralizado em Lima, e nós, nada. Queremos que nossos filhos tenham um trabalho digno! Se for necessário, viveremos dos nossos cultivos até que vá embora. Mas que continuem os bloqueios. Que vá embora", afirmou.

No centro de Cusco, porém, nem todos são a favor das barricadas.

"Estamos cansados de tanto protesto. Comunistas! Deixem a gente trabalhar, prejudicam todo o mundo", diz um motorista furioso ao volante.

Normalmente lotada de turistas, Cusco agora parece uma cidade fantasma, cheia de lojas fechadas.


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