Boeing paga o preço de um gerenciamento de crise fracassado

Boeing paga o preço de um gerenciamento de crise fracassado

Avião caiu no dia 10 de março, no sudeste de Addis Ababa, matando as 157 pessoas

AFP

Boeing teve uma semana difícil, marcada pela evaporação de quase 25 bilhões de dólares em capitalização de mercado e uma imagem manchada, consequências de uma fracassada gestão de crise após a tragédia do 737 MAX 8 da Ethiopian Airlines

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A fabricante Boeing teve uma semana difícil, marcada pela evaporação de quase 25 bilhões de dólares em capitalização de mercado e uma imagem manchada, consequências de uma fracassada gestão de crise após a tragédia do 737 MAX 8 da Ethiopian Airlines. "Foi calamitoso", disse Matthew Yemma, especialista em comunicação de crise da Peaks Strategies, com sede em Connecticut (leste), resumindo um sentimento geral. "Horrível" e "chocante" foram outras palavras usadas por especialistas da indústria entrevistados pela AFP sobre a gestão da Boeing do acidente do 737 MAX 8 da Ethiopian Airlines.

O avião caiu no dia 10 de março, no sudeste de Addis Ababa, matando as 157 pessoas a bordo. Este é o segundo acidente mortal em cinco meses envolvendo este modelo, que entrou em serviço em maio de 2017. Um 737 MAX 8 da companhia aérea indonésia Lion Air caiu em outubro, matando 189 pessoas. As investigações continuam, mas as investigações iniciais relativas à Lion Air apontam para um mau funcionamento do sistema de estabilização de voo, o "MCAS".

A Boeing se limitou a emitir um breve comunicado após o acidente da Ethiopian e atualizado uma vez por dia. Nos bastidores, a fabricante de aviões tentava impedir que as autoridades americanas proibissem o voo desses aparelhos, como fez a China e vários países europeus logo após a tragédia. Sinal da sensibilidade do assunto, seu CEO Dennis Muilenburg telefonou ao presidente Donald Trump para defender o 737 MAX e garantir que o modelo é confiável. A Agência americana da Aviação (FAA) finalmente ordenou na quarta-feira a imobilização "provisória" dos Boeing 737 MAX 8 e 9 nos Estados Unidos.

"Arrogância"

"É a arrogância americana", disse à AFP uma fonte próxima à fabricante de aeronaves, acrescentando que "essa arrogância é perigosa porque mostra que o trabalho não foi feito corretamente pelo excesso de confiança". Como ela, os especialistas lamentam que a fabricante aeronáutica não tenha assumido a liderança, um erro magistral, segundo eles, na era das redes sociais e da transparência. Neste tipo de situação, "você tem que dar o máximo de informação possível", diz Matthew Yemma. "O mercado de ações e os investidores precisam saber se há algo errado e se isso será resolvido", diz ele, argumentando que a Boeing deveria ter tomado a iniciativa de manter no chão o 737 MAX, desde segunda-feira.

Embora reconheça que a decisão de proibir o voo de um avião cabe às autoridades, Michael Priem considera que a Boeing poderia pelo menos ter aplicado o princípio da precaução para tranquilizar o público em geral. "Foi o grande silêncio que enfureceu as pessoas (...) Vivemos em um mundo moderno onde esperamos um certo nível de transparência e respostas muito rapidamente", acrescenta esse especialista em comunicação de crise na Modern Impact em Minneapolis (norte). Para Richard Aboulafia, do Teal Group, a Boeing só poderia enviar técnicos para o local da tragédia e continuar examinando o que deu errado. Ele observa, no entanto, que a resistência das autoridades americanas em parar a aeronave levanta questões sobre o relacionamento da Boeing com a FAA.

O Comitê de Transportes e Infraestruturas da Câmara dos Representantes ouviu na manhã de quinta-feira autoridades do organismo regulador aéreo e planeja abrir uma investigação sobre a certificação do 737 MAX, segundo indicou à AFP uma fonte parlamentar. Também quer saber o que os pilotos sabiam sobre o sistema MCAS e não exclui audiências públicas. Além dos possíveis processos movidos pelas famílias de vítimas, outra consequência do silêncio da Boeing é os passageiros se questionarem sobre os aviões em que embarcam, o que poderia estender sua desconfiança do 737 MAX para outras aeronaves da Boeing.

Uma campanha forte de mídia exaltando a segurança de seus aviões ou destacando as proezas de seus caças poderia ser um primeiro passo para recuperar a confiança do público, aponta Matthew Yemma, observando que a Boeing poderia tomar como exemplo o ocaso da BP após a maré negra de 2010 no Golfo do México. Mas provavelmente não será suficiente, segundo uma fonte próxima à fabricante de aviões: "Será necessário que a Boeing faça um verdadeiro trabalho de mea culpa, de explicação, porque o estrago está feito".


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