Boris Johnson admite ter enganado "sem intenção" o Parlamento britânico sobre o partygate

Boris Johnson admite ter enganado "sem intenção" o Parlamento britânico sobre o partygate

Ex-premiê é investigado sobre escândalo de festas e pode perder a carreira política

AFP

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O ex-premiê conservador britânico Boris Johnson admitiu nesta terça-feira que "sem querer" enganou o Parlamento ao afirmar que as festas realizadas em Downing Street durante os confinamentos não violavam as regras anticovid, mas alegou ter agido de boa fé.

Johnson foi forçado a renunciar no verão passado (hemisfério norte, inverno no Brasil) devido a uma série de escândalos, incluindo o conhecido como "partygate", devido às múltiplas reuniões sociais realizadas em seus escritórios enquanto o Reino Unido vivia restrições contra a Covid-19.

Agora, ele está sendo investigado para determinar se enganou intencionalmente os deputados ao lhes dizer em dezembro de 2021 que as regras foram "respeitadas em todos os momentos". Se a investigação concluir que Johnson mentiu para a Câmara dos Comuns, isso pode custar a ele sua cadeira de deputado e até mesmo sua carreira política.

Johnson vai depor à comissão parlamentar que investiga a sua atuação na quarta-feira à tarde, uma audiência prevista para durar várias horas. Um dia antes desse depoimento tão esperado, sua defesa publicou 52 páginas de "provas escritas", divididas em 110 pontos. "Assumo total responsabilidade por tudo o que aconteceu sob minha supervisão", diz o ex-chefe de Governo na introdução. "Agora está claro que durante vários dias houve reuniões" em Downing Street, diz ele, reconhecendo que "nunca deveriam ter ocorrido" e pedindo desculpas ao povo britânico.

Em um país com mais de 220 mil mortos por Covid-19, o segundo maior número de mortos na Europa, atrás apenas da Rússia, a associação de famílias das vítimas denunciou nesta terça-feira como "óbvio" que Johnson mentiu conscientemente ao Parlamento e insistiu que deveria renunciar ao cargo de deputado. "Mas muito piores são as mentiras que ele contou deliberadamente às famílias enlutadas, depois de falhar em proteger nossos entes queridos. Sua alegação de que ele o fez de 'boa fé' é repugnante", disse a associação em nota.

Culpa dos assessores?

Johnson admite: "É verdade que minhas afirmações ao Parlamento de que as regras foram respeitadas não eram corretas e aproveito esta oportunidade para me desculpar". "Aceito que a Câmara dos Comuns foi induzida ao erro pelas minhas declarações", ele admite, "mas quando fiz essas declarações, fiz de boa fé e com base no que honestamente sabia e acreditava na época".

"Não enganei intencionalmente ou imprudentemente o Parlamento em 1º de dezembro de 2021, 8 de dezembro de 2021 ou em qualquer outra data", escreve ele. Em um relatório preliminar divulgado no início de março, a comissão afirmou que as evidências coletadas "sugerem fortemente" que as violações anticovid deveriam ter sido "óbvias" para Johnson.

Mas nesta terça-feira o ex-primeiro-ministro culpou seus assessores que, segundo ele, lhe garantiram que nenhuma regra havia sido quebrada. "Estava focado em decisões difíceis relacionadas com a pandemia (além de outras questões que o primeiro-ministro deve abordar), a minha agenda estava cheia, o número 10 é um ambiente complexo e eu entrava e saía constantemente do edifício", explicou. "Não se pode esperar que um primeiro-ministro investigue pessoalmente questões como essas. Eu tinha que confiar, e tinha todo o direito de confiar, no que meus assessores de confiança me diziam", acrescentou.

O ex-líder conservador já foi multado pela polícia. O atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, na época ministro das Finanças, também foi multado por comparecer a uma breve festa de aniversário de Johnson na sala do conselho de ministros. Uma série de revelações sobre essas festas, muitas delas regadas a álcool e outros excessos, ao longo de vários meses, irritou a opinião pública britânica, principalmente os familiares das vítimas da Covid-19.


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