Candidatos estrangeiros à Jihad sonham e têm objetivos concretos, dizem especialistas

Candidatos estrangeiros à Jihad sonham e têm objetivos concretos, dizem especialistas

Estudos e autoridades apontam que jovens dissimulam "motivações mais mundanas"

AFP

Candidatos estrangeiros à Jihad sonham, mas têm objetivos concretos

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Eles sonham com o martírio, glorificam a sharia e o califado, mas por trás de seu discurso exaltado, os candidatos estrangeiros à Jihad na Síria e no Iraque dissimulam motivações mais mundanas, asseguram especialistas e autoridades. Insatisfação pessoal, sede de aventura, reivindicações políticas, falta de integração social, fascinação pela guerra, desejo de seguir o caminho aberto por amigos, de se tornar um herói, de viver em grupo uma experiência emocionante: muitos são aqueles que compram o discurso radical islamita vendido na internet, que na verdade mal compreendem, para preencher suas falhas, fantasias e ideais.

"Acredito que as razões (que os fazem tomar um voo para Turquia) são menos religiosas do que pensamos", analisou o professor americano John Horgan, especialista em psicologia política, que dirige o Centro para o Estudo do Terrorismo na Universidade da Pensilvânia.

"O Estado Islâmico vende suas fantasias, um mix de benefícios pessoais e políticos. Esses jovens podem encontrar sexo, aventura, emoção, camaradagem. Mas eles também podem vingar séculos de discriminação e alienação. O fato de suas ações servirem para humilhar o Ocidente é um bônus adicional", declarou.

O método é tão eficaz que os recrutadores do Daesh (nome do grupo Estado Islâmico) se tornaram mestres na arte de reciclar para seu proveito as técnicas das redes sociais, os mitos e referências que eles sabem que vão atingir seus alvos. Em um estudo intitulado "A metamorfose operada em um jovem pelos novos discursos terroristas", o Centro francês de Prevenção contra o Sectarismo relacionado ao Islã (CPDSI) disseca o uso que fazem do filme "Matrix" ("saia da matriz e seja um eleito"), da trilogia "O Senhor dos Anéis" ("junte-se à comunidade") ou do videogame "Assassins Creed" ("obedeça o Santo Mestre").

"Os novos discursos terroristas refinaram suas técnicas de doutrinação, dominando ferramentas da internet, a tal ponto que começaram a propor uma individualização da oferta que pode alcançar os mais diferentes perfis", explicou o relatório.

"Em seguida, eles transformam o jovem por meio da doutrinação virtual até o embriagamento no mundo real." Prisioneiros de uma fantasia Marc Sageman, psiquiatra, ex-agente da CIA no Paquistão e autor do livro "A verdadeira face dos terroristas", estudou o caminho dos aspirantes a jihadistas. "A maioria não conhece nada do Corão", explicou.

"Eles se identificam com uma comunidade política, no caso a dos mujahidines. A religião é apenas um acessório. Esta é uma comunidade islamita, mas poderia ser qualquer outra coisa, anarquista, antifascista... É uma comunidade imaginada, eles imaginam fazer parte, mesmo que não tenham nada a ver com ela. Eles se sentem como soldados que devem defender a comunidade que lhes disseram que está sendo atacada".

Em um recente congresso em um centro de pesquisas em Washington, o secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "No ano passado, dois jovens deixaram a Inglaterra para se juntar ao EI. Antes de partirem, eles haviam declarado que o Islã era para os fracos, que o Corão era para os fracos. Sejamos honestos: os recrutadores do EI não estão à procura de fiéis ou de pessoas que conheçam o Islã. O EI afirma que seus assassinatos, torturas, selvageria, estupros e profanação respondem aos mandamentos de Deus. Tudo isso não passa de besteira".

Uma análise compartilhada pela dra. Qanta Ahmed, uma médica britânica que estudou as personalidades dos jihadistas aspirantes. "Eles perseguem um sonho, e muitas vezes não têm ideia de que seja o Islã", declarou recentemente ao jornal The Guardian.

"Eles se tornam prisioneiros de uma fantasia, como alguns podem ser engolidos pelo mundo dos videogames, estes são seduzidos pela linguagem e metáforas que disfarçam o que realmente representa o Islã". "Esses jovens provavelmente se sentem presos em um mundo mundano e ordinário, e o EI os faz pensar que podem ser parte de algo maior (...) Se você é um jovem com uma imaginação limitada (...) e você tem problemas para se relacionar com seus vizinhos, amigos, em uma sociedade pluralista, pode ser facilmente enganado. Você é como uma página em branco".

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