Chilenos se despedem do ex-presidente Piñera

Chilenos se despedem do ex-presidente Piñera

Sebastian Piñera morreu em acidente de helicóptero nessa terça-feira

AFP

Caixão permanecerá até sexta-feira no antigo Congresso e será sepultado em cerimônia reservada

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Apoiadores do ex-presidente Sebastián Piñera começaram a se despedir, em Santiago, do primeiro chefe de Estado chileno de direita após o retorno do país à democracia, em 1990. Piñera morreu na tarde de nessa terça-feira, 6, por "asfixia por submersão" quando seu helicóptero caiu no Lago Ranco, informou a procuradora regional de Los Ríos, Tatiana Esquivel, na cidade de Valdivia, a cerca de 70 km do lugar do acidente.

Piñera pilotava seu helicóptero acompanhado de três pessoas, incluindo sua irmã, que saíram ilesas. "Ele estava livre, sem cinto, ao lado do helicóptero, a 28 metros de profundidade", disse nesta quarta-feira o bombeiro Ricardo González, que o resgatou.

O corpo foi levado de Valdivia para Santiago, a 850 km, em um voo da Força Aérea, acompanhado dos quatro filhos de Piñera, de alguns de seus netos e da viúva, Cecilia Morel, que se mostraram abatidos diante das centenas de pessoas que os aguardavam na região da antiga sede do Congresso. Os apoiadores do ex-presidente aguardavam a sua vez de se aproximar do caixão, que permanecerá até sexta-feira no antigo Congresso e depois será levado à Catedral de Santiago e ao Palácio de La Moneda, antes de ser sepultado em cerimônia reservada.

O Congreso ficará aberto ao público até amanhã. Confirmaram presença na missa de sexta-feira os ex-presidentes do Equador Guillermo Lasso e do Paraguai Mario Abdo, segundo a chancelaria.

Bom negociador

O empresário, de 74 anos, era um dos homens mais ricos do Chile. Foi o primeiro presidente de direita a chegar ao poder por eleição popular após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acabando com duas décadas de hegemonia de governos de esquerda. Piñera, que governou por dois mandatos, 2010-2014 e 2018-2022, foi elogiado por apoiadores e adversários políticos por sua capacidade de diálogo e seu compromisso com uma democracia liberal.

"Foi um democrata desde a primeira hora e buscou genuinamente o que acreditava ser o melhor para o país", declarou o presidente de esquerda Gabriel Boric, que sucedeu Piñera em março de 2022.

Entre os marcos de suas gestões, destacam-se a agilidade na reconstrução do país após o terremoto de 2010; a determinação no resgate com vida dos 33 mineiros que ficaram presos a 700 metros de profundidade durante 69 dias naquele mesmo ano, no norte do Chile; e a rápida compra de vacinas da China em 2020, que tornou o seu país um dos primeiros a imunizar a maioria da população contra a covid-19.

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Preocupado com os incêndios

O ex-presidente havia viajado nesta semana para sua casa em Lago Ranco, local rodeado de florestas próximo a um imenso lago, situado 920 km ao sul de Santiago, onde organizou reuniões com seus ex-ministros para ajudar na reconstrução de Valparaíso, devastada por incêndios que deixaram 131 mortos. Era "um homem que não descansava", afirmou sua ex-ministra Karla Rubilar, ao contar que Piñera os havia convocado na última segunda-feira para uma conversa por Zoom, pois estava "preocupado sobre como contribuir ao governo do presidente Boric na grande tragédia que estamos vivendo" em Viña del Mar e outras regiões do sul do país.

Piñera mal havia decolado com seu helicóptero, depois de almoçar com amigos e sua irmã Magdalena Piñera. Ele estava na aeronave com ela, seu amigo e empresário Ignacio Guerrero e o filho deste último, Bautista Guerrero, quando caíram em uma tarde marcada por fortes chuvas e neblina.

De Biden a Maduro

Governos e líderes políticos expressaram seu pesar pela morte do dirigente chileno e destacaram a sua capacidade de diálogo, apesar das diferenças ideológicas que o distanciaram de certos chefes de Estado.

"Surpreso e triste com a morte de Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile. Convivemos, trabalhamos pelo fortalecimento da relação dos nossos países e sempre tivemos um bom diálogo, quando ambos éramos presidentes, e também quando não éramos", disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sua conta da rede social X.

"Muito triste seu falecimento de forma tão abrupta. Meus sentimentos aos seus familiares e amigos de Piñera por esta perda", concluiu o presidente. "Paz à sua alma!", desejou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na rede social X, acrescentando que seu país se unia "ao luto que acomete o povo do Chile diante do falecimento lamentável" de Piñera.

O presidente americano, Joe Biden, declarou que valorizou muito o tempo em que trabalhou com o chileno na última década. "Vi em primeira mão a sua dedicação com o país", afirmou.


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